encontra-me ó manhã no campo do nosso desespero
(Adonis)
Abril é o mais cruel dos meses, germina
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera
Lilases da terra morta, mistura
Memória e desejo, aviva
Agônicas raízes com a chuva da primavera
T. S. Eliot
Querido Eliot,
Quando este abril despertou
escrevi - fúria fúcsia - em um poema singelo, antena da raça como todo poeta.
Antes do fim deste abril, vimos toda fúria (fúcsia) em uma praça pública. Sim,
o poeta é vidente... E sangra.
Sonhamos, sempre, que o homem
aprende com a História e nos enganamos século após século.
Em cada recanto uma célula de
Hitler ressuscita.
Todos os tiranos deixam no ar
sua fúria... E de abril em abril o mundo sangra.
Ainda assim, reitero meu poema
“Abril”.
De um abril que não vivemos,
neste ano da graça de 2015...
Abril
Que venha o Abril Febril!
40° de Poesia e Todo Amor
Que venha o Abril Gentil!
Memória de Cravos e Eliot
Que venha menos Vil...
Apagando a fúria fúcsia
Que venha o Fértil Abril
Adornando almas com rosas
40° de Poesia e Todo Amor
Que venha o Abril Gentil!
Memória de Cravos e Eliot
Que venha menos Vil...
Apagando a fúria fúcsia
Que venha o Fértil Abril
Adornando almas com rosas
1º de abril de 2015
Massacre 29 *
(Aos presentes em carne e alma, no
ataque perpetrado pelo Governo do Paraná
na Praça Nossa Senhora de Salete)
Então vieram os cavalos
Cascos
abrindo o asfalto
A ressuscitar
o Trinta de Agosto
De mil
novecentos e oitenta e oito
Fantasmas
se elevam do chão
Incomodados
pela hora da rixa
Atropelados
pelo absurdo cruel
Até os
fantasmas de 88
Choram ao
ver o massacre
Então, vieram os soldados
Armados
até os dentes
Mirando
em todo o Adão e toda Eva -
Pelo
pecado original da sapiência -
Mentes criativas
são belas
É
preciso matá-las
Elas
brilham em noites perenes
Mudam
vidas, abrem mares
Então, vieram os snipers
Debruçados
nos telhados do poder
Cegando
os mestres
Rasgando
suas bocas
Explodindo
seus tímpanos
Mesmo os
de estudantes na Praça
Então, vieram os helicópteros
E bombas
feito chuva
Duas
horas sem trégua
Então, veio a fumaça
Rastejante
e branca
Invadindo
a creche
Magoando
inocentes
“É um filme”
Disseram
aos pequeninos
A
maldade é um sino
Melhor
mentir para não soar
A
melodia do escárnio
Nas
almas dos anjos
Então, veio o silêncio
E o
zumbido e a dor
Soterrados
em uma Praça
- E nem
estamos em Gaza –
Curitiba,
abril de 2015
*Revisão
e cortes de Sálvio Nienkotter de uma versão inicial escrita sob o impacto do
massacre...