Saturday, October 31, 2015
O céu de cada um...
Céu acetileno de Hart Crane
Pútrido transparente embalsamado
Pelas cinzas dos mortos na Brooklin Bridge
Céu água negra de Sylvia Plath
Bebês carbonizados e ovelhas na névoa
A balir para a lua em seu capuz de ossos
O céu que recua sem perguntas e deixa Ana C.
A falar com o vácuo nas estações vazias
Uma mala na mão e como carinho
O doce contato de suas luvas de pelica
Céu morcego infinito de Alejandra
O medo do vazio espocando voos tétricos em sus ojos negros
As mãos finas a trilhar o verbo com leveza de palomas blancas
Maiakovski vestia o céu sem cerimônia
Entardecer nos ombros, sua blusa amarela
A levar o infinito na flauta de suas vértebras
Os sonhos que ele derramou pela Nevski
Ainda embala os poetas do mundo
Tsvetáieva pediu: enterrem-me no céu!
Sonhava viver mais perto do terrível falcão
A derramar a neve na testa das crianças mortas
Em todas as guerras desta Terra torpe
Sabia Marina da suprema dor de se morrer sem ter
Um boneco de neve, uma cama branca de amor
“o céu vela as estrelas; e então as revela”
As adormece no deserto rústico e no jardim vitoriano
Belo jardim de pedras - uma a uma ela as colheu -
Duras companheiras de viagem mais visíveis que as estrelas
E morrer seria mais doce, seria adiável
Se as estrelas não se escondessem na eternidade de um céu que vela
Vela acesa suas palavras acima do mundo...
Virginia Wolf e o silêncio do céu irrevelável intratável e intocado
Quem dera pudéssemos morrer segurando as estrias duras das estrelas secretas
A nós, as fortes, restam pedras, os rios, a coragem e os passos firmes
E a certeza de que nunca mais as vozes ferirão nossos ouvidos com seu mantra
Bárbara Lia
- poema que originou a série "Musas de Acetileno"
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