Tuesday, November 24, 2015

o vórtice do enigma






acima está a incógnita
a esfinge
a escuridão selada

desde menina é bem ali
- vórtice do enigma -
minha casa

distanciada
calada sempre
translúcida
invisível

vez ou outra 
alguém vê
a invisível
e pelos olhos
de outrem
me reconheço:
corpo ameríndio
fera fêmea

gosto 
quando amam
minha voz
reafirmam
o que gosto 
em mim

gosto de vozes
e imagino o som
das vozes ignotas

dos amados
esqueço rostos
cheiro
noites helênicas
nunca as vozes
suas senhas secretas
indiscretas

não basta ser mulher
é preciso ser
vento e unção 
é preciso ser
inesquecível


no vórtice do enigma
vou ficar
- invisível -
ainda que doa
não saber
em que tom
tua voz ressoa

Bárbara Lia

- poema da série: quando eu quis atravessar as grandes águas - 

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