Querida Hilda,
Contigo aprendi a solidão necessária. Não me escoro mais na era vitoriana de Emily Dickinson para que entendam a misantropia optada. Eu penso em ti que tocou este tempo cibernético e é você a pessoa que me diz: sim é possível ser quem vive em uma casa de sol, ou de areia, ou de sons, para respirar e viver sem contaminar a pele do poema. Eu devo a ti esta certeza de que é dentro da solidão, meio ao caos verdadeiro que as palavras clamam por materialidade.
Toda a mágoa ecoa quando o poeta ainda vive, como se ele não suportasse que ignorassem (não seu espectro humano e pequeno) mas a sua palavra filtrada recolhida daquele desconhecido ponto onde a criação expande. Mas o poeta está morto e não sabe que seu nome será lembrado, que seus poemas encontrarão milhares, que sua vida vai ser mostrada, a sua força fêmea de sol e estio. Então, o poeta morre, enquanto vivo clama por um olhar, e sofre por não perceberem suas mãos transbordantes de pepitas de ouro, diamantes raros...
Foi lindo aquele poema dos mais lindos na voz da grande atriz.
Foi lindo, mas fica esta ternura contaminada pela certeza de que é como uma espécie de maldição.
A Poesia nunca abençoa seus grandes poetas em vida.
Espero que você faça contato, e com sua bata azul caminhe por uma cidade onde seu nome será dito muitas vezes - cálido mantra que me acompanha há décadas.
PRELÚDIOS INTENSOS PARA OS DESMEMORIADOS DE AMOR