Ampulheta colocada no hall de
entrada do Expotrade Convention Center
pelos integrantes do Programa do GreenPeace (Kids for Forest). Dentro, os
animais se transformando em dinheiro e o pedido para que virassem a ampulheta
ao contrário.
A
MOP3 começou com uma recepção no Memorial de Curitiba – Largo da Ordem. Três
semanas depois, as delegações, ONG’s, jornalistas, Ministros de Estado e até
mesmo o Presidente da República deram sua contribuição para colorir Curitiba
das cores da Terra e da Esperança. À uma hora da manhã deste sábado (1º de
abril) quando se encerrou a última reunião o futuro da Terra, em sua essência
mais complexa, foi discutido e dissecado. Ao final, ao que parece, sem merecer
o devido cuidado, a primordial atenção e por mais que os integrantes da
Convenção, na figura do seu secretário Ahmed Djoglaf faça uma avaliação
positiva, ressaltando que houve um grande entendimento e muita sintonia entre
os Ministros de Estado presentes, não há muito a comemorar. Ahmed enfatizou a
presença de quatrocentos jornalistas, ainda assim, ao menos para esta
observadora, o momento merecia muito mais atenção da grande mídia, da
população, que se escora em divagações quando questionado sobre o tema. Ouvi de
uma pessoa: até lá já morri. Ouvi isto quando comentei sobre a conclusão dos
mil e trezentos cientistas que responderam ao pedido da ONU e fizeram um
relatório sobre a saúde do planeta. Eles colocaram a possibilidade de dentro de
trinta anos o planeta entrar em convulsão, caso nada seja feito a respeito da
questão do meio ambiente. Então, quando alguém te responde com esta lacônica
previsão – Até lá eu já morri - percebe-se a dificuldade que irão encontrar
governos, ONGS, ambientalistas e qualquer um que pense o futuro das espécies e
a saúde da Terra: a inércia.
Durante alguns dias este ônibus
decorado com borboletas nos levava ao MOP/COP – A biodiversidade está na gente
– escrito em dois idiomas.
No
início, na primeira semana o tema girava em torno de duas sentenças: “contém”,
e “pode conter” – os chamados transgênicos, ou organismos vivos modificados. A
máquina que usei para fotografar estava com a data errada, quiçá em 2.023
borboletas reais circundem os ônibus e comemorem outra mentalidade. A questão
da MOP3 levou o Governador Roberto Requião a dizer em um dos seus
pronunciamentos “O eufemismo falso do – pode conter- se transportado para um
programa de governo, por exemplo, comportaria a dedução de que o programa de
governo pudesse ser rotulado como - pode conter interesses contra a Ecologia”.
Do
lado de fora da Expotrade, em tendas
brancas, acontecia paralelamente o Fórum Global da Sociedade Civil, que teve a
participação da Ministra Marina Silva e do Governador Requião na abertura do Fórum. O evento reuniu ONG’s, Nações Indígenas e
integrantes da Via Campesina.
A
MOP3 teve avanços na negociação da rotulação definitiva do termo “contém”,
muito embora esta prática só entre em vigor em 2.012. Segundo Marina Silva “O
protocolo de Cartagena é cumulativo e o que fizemos aqui foi colocar o “contém”
na ordem do dia, nos países que são parte do Protocolo”.
Ao
final da MOP o Governador do Paraná – Roberto Requião – tomou à frente e
assinou um decreto onde, a partir de agora, os produtos paranaenses vão receber
o selo “contém OVM’s”, atitude elogiada pela Ministra e por vários integrantes
do evento.
Finda
a MOP3, a Convenção da Biodiversidade teve início com a chegada à Curitiba de
várias etnias, fazendo do Centro de Convenção um lugar onde desfilavam os trajes
típicos de várias nações e os povos indígenas de sessenta países presentes. No
pátio realizavam cerimônias, diante das ocas montadas, atraindo os visitantes.
Cavalhadas
Em
três noites, durante a COP, aconteceu uma encenação com mais de mil
integrantes, do grupo – Ordem dos Cavalheiros – da cidade de Guarapuava (PR),
interpretando o espetáculo conhecido como “Cavalhadas”, reproduzindo lutas da
Idade Média.
Durante
a COP a taxa de ocupação hoteleira em Curitiba alcançou a taxa de 70%, contra
30% no mês período no ano de 2.005.
Dentro,
as negociações giravam em torno de temas importantes como a questão da
repartição de benefícios e acesso a recursos tradicionais, e a utilização ou
não das Terminators.
O
Fórum Internacional Indígena sobre Biodiversidade (FIIB) fez críticas aos
resultados no último dia do evento - a 8ª Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica (COP-8). Segundo os participantes do Fórum “não
avançou na construção de um regulamento internacional para o acesso a recursos
genéticos e conhecimentos tradicionais”. Os indígenas esperavam a criação de um
sistema de regras mundiais para as pesquisas com plantas e animais, que,
segundo eles, se apropriam do saber dos indígenas, quilombolas e extrativistas.
Fóruns indígenas anteriores e também a Declaração Internacional de Cancún dos Povos Indígenas, já
demonstrava a preocupação dos povos indígenas com esta questão da distribuição
de benefícios. Na Quinta Conferência Ministerial da OMC em Cancún em setembro
de 2.003. A proposta do Fórum é que haja mecanismos de repartição dos lucros e
tecnologia com as comunidades locais. Os povos indígenas dão o nome de
Biocolonialismo a esta decisão dos governos agir sobre as suas milenares
práticas que começaram a atrair a atenção do homem branco. Segundo o Conselho
dos povos indígenas a ênfase na “distribuição de benefícios” tem o efeito de
promover ao invés de prevenir, a comercialização dos recursos genéticos. Ainda
que a distribuição de benefícios ajude mais os povos indígenas que a
biopirataria, apresenta iguais e sérios riscos. Segundo este conselho as vozes
dos povos indígenas em todo o mundo estão a questionar a engenharia genética,
denunciando os atos de biopirataria e reivindicando os direitos a proteger as
comunidades e o meio ambiente contra os depredadores da genes. As iniciativas e
forma de
vida
dos povos indígenas continuará demonstrando ser uma alternativa de em uma era
de globalização que trata de monopolizar e comercializar todos os recursos da
vida.
Para
os participantes do Fórum Indígena, o único avanço da COP-8 foi manter a
proibição absoluta (estabelecida em 2000) para pesquisas com tecnologias
genéticas de restrição de uso da Tecnologia Terminator
– que diz respeito a plantas que foram geneticamente modificadas para produzir
sementes estéreis na colheita, através de mecanismo molecular induzido.
Desenvolvida pela indústria multinacional de sementes/agroquímicos e o governo
dos Estados Unidos para evitar que agricultores guardem e replantem sementes
colhidas que foram desenvolvidas pelas corporações de biotecnologia e de sementes.
O
Greenpeace avaliou a COP8 como um fracasso. E a falta de avanço, segundo a
organização compromete seriamente as metas definidas pela própria Convenção de
reduzir a perda de Biodiversidade até 2010. O adiamento da lei sobre Repartição
de Benefícios segundo Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do
Greenpeace, ganhou-se tempo para que a indústria farmacêutica, especialmente
dos Estados Unidos, etiquetasse e colocasse a biodiversidade em código de
barras.
A
discussão sobre o papel da conferência em identificação de reservas marinhas em
alto-mar não avançou.
Em
resumo, a COP8 como avanço pode comemorar apenas a permanência da proibição do
uso das Tecnologias de Restrição de Uso Genético – GURT’s, ou Terminator.
Este
tema relativo aos Terminator entrou
no tema da convenção este ano. Este e outros temas terem entrado na agenda é
visto como um avanço na luta contra a perda da biodiversidade. Pelo Brasil foi
trazida a iniciativa de mapear as espécies de animais e plantas exóticas
invasoras. Segundo a ONU, tais espécies dão um prejuízo de US$ 1,4 trilhão,
sendo a primeira causa de redução de biodiversidade em ilhas e a segunda nas
demais regiões do mundo. Entre os invasores estão arbustos, aves, peixes,
répteis, e vírus exóticos.
Em
2008, na Alemanha, a COP9 terá como pauta uma gama enorme de pendências, a dois
anos da meta estabelecida para que se reduza a perda da Biodiversidade no
Planeta.
Certa
vez eu escrevi que as ONGs e os Médicos sem Fronteira e os membros do
Greenpeace eram os poetas do Terceiro Milênio. Nada poderá ser narrado se a Terra
estiver ressequida e nua.
Os
povos da floresta parecem ser os únicos que tem noção da importância deste
precioso vínculo com a Mãe Terra, e eles, até mesmo eles são parte desta
extinção vagarosa e estranha, e o homem branco, globalizado, com um código de
barras na alma talvez não compreenda o que Marcos Terena disse:
–
Posso ser quem você é sem deixar de ser quem sou.
Considerando
a luta em todo o mundo, incansável e sem trégua, o feito de muitos integrantes
que acabam presos em manifestações que buscam alertar os homens. Esta minha
pequena passagem pela MOP/COP fez com que eu me lembrasse de um poema que fiz
em 1.999 para esta organização, que se denominava, no início – Guerreiros do
Arco-Íris.
GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS
Quando
secarem as fontes
E
a terra estiver ressequida e nua
O
mundo se lembrará dos guerreiros do arco-íris
Quando
o verde desaparecer
E
o último pássaro migrar
Em
busca
Da
última folha
Da
última árvore
Da
última floresta
A
humanidade saberá
E
– tarde demais - acordará
Karuguá – em guarani significa
Arco-Íris.
As informações sobre o
Fórum Indígena em Cancun, em 2.003, foram retiradas do livro – Guerra de
Paradigmas – Resistência de Los Pueblos Indígenas a