A desumanização acontece ao ritmo do plim-plim, há décadas
Orquestra subliminar com hálito de Goebbels nunca cessa
Os ouvidos agudos não suportaram e desconectaram satã
Enlear os mais simples em estratégia miserável e cruel
De um exército-mor e alguns cientes tão podres quanto
Quando a onda fascista a tudo engole e cai a beleza humana
Quando no chão toda a poesia as rosas as notas musicais
Toda a serpentina lírica dos carnavais risos puros, auras de antes
Quando no chão os rios de suavidade evaporam ao sol sem nexo
Fica a espada no coração-pedra - essa espada enfeitiçada -
Ninguém mais tem o direito de sangrar ainda mais nosso coração
Nosso sangue só pela grandeza, só pelas mãos de um Arthur
Só mãos de Amor para retirar a espada, deixar vazar o sangue
Só a beleza vale nossa dor, então vamos cessar o sofrimento
Esquecer o que não vale nossa lágrima, perdoar, seguir, lutar
Reconstruir - as rosas, os rios, as marchinhas delicadas
Os lábios das primaveras inenarráveis, as mãos que acenam luz
Há um mundo que nos atinge por ser o rosto que já conhecemos
Misto de hitler, temer e carrascos, coisas que destroem as coisas
A desumanização vem acontecendo lentamente e alguns já viram
Os que viram hoje, os que sabem agora, os que veem o absurdo
De se agredir quem morre, desejar que morra, o escárnio horrível
A desumanização é hipócrita e podre atrás de um rosto colorido
A desumanização - uma fumaça invisível e inodora a enlear tudo -
A desumanização que nos atirou nesta patamar tão triste
Bárbara Lia