LAYLA
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calçadas molhadas
- uma lâmpada grávida
estremecida de sol
pequeno -
a lembrar
que ainda é verde o trigo.
florirá
amanhã
em sol granulado,
farpas de doçura,
sempre.
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DRÃO
“Grão, o amor da gente é como um grão”
Gilberto Gil
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grão
grão
grão
a cantar
as horas
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gota
gota
gota
a cantar
a chuva
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folha
folha
folha
a cantar
o outono
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bem-te-vi
bem-te-vi
bem-te-vi
a cantar
novo dia
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lâmina
lâmina
lâmina
a cantar
o amor.
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(Amar é ferir-se
em
lâminas
sollasidoremifa)
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Deus é a chuva. Só seu abraço líquido me faz leve. -Uma tarde na volta do colégio o vendaval molhou cada poro meu, encharcada de Deus entrei na panificadora e era só alma - o pão pesava mais que eu- Sei que Deus é a chuva quando o mais belo som é Ele abraçando a grama. É um diálogo de amantes como se os pingos em som de prazer se unissem às pétalas rudes pequeninas verdes, e o som rascante do gozo fatal se ampliasse, sem ferir. É calmo o som do amor -chuva na grama -.
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A chuva baila cinza na vidraça
que abre a cidade e
as cicatrizes de concreto.
No mundo não há quem leve,
como eu, este solar crepitar na alma.
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A ÚLTIMA CHUVA
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Eram retalhos,
rascunhos
partituras rotas
ode em desordem
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Eram cinza e vento
iceberg
no cenário.
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Eram estranhos
vozes de estanho
melodia brega.
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És!
Música
que estremece cristais.
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Som
do desmaio
da neve nos roseirais
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Plácido
barco branco
no grego mar azul.
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És!
O piano
A orquestra
O poema
A rima rara.
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És o que é.
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Tenho uma grande tristeza Acrescentada à que sinto. Quero dizer-ma mas pesa O quanto comigo minto.
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Porque verdadeiramente Não sei se estou triste ou não, E a chuva cai levemente (Porque Verlaine consente) Dentro do meu coração.