
Os meninos empinavam pipas;
eu, pássaros
Os meninos folheavam revistas
de garotas nuas;
eu, assistia ao namoro dos sapos
Os meninos iam ao cine;
eu, atravessava a pé
o igarapé
Os meninos desenhavam piratas
tesouros, navios;
eu, a escafandrista solitária
Agora
solidão nos devora
em negros prédios
meio à elite ignara
Os meninos vestem
negro/desencanto
seguem com cifras
nas pupilas vítreas
Tão tristes os meninos,
reclusos, bebendo
o índice Dow Jones
junto com café.
.
Trocando de amantes
a cada inverno.
A alma pesada os faz andar
em cadência de elefante.
Eu, pinto gravuras
em tons rosa chá
teço minhas roupas
danço minhas músicas
Não atravesso
o vidro frio do templo
moderno
_ shopping center _
Não atravesso
a porta de cedro
do antigo templo
.
(enquanto o Vaticano
não doar aos pobres
todo ouro seu)
Vivo nas esferas
desço ao chão
para pisar águas
dos igarapés
Adormeço
no berço-arraia
que me embalazul
no "mar/
belo mar selvagem"
Menção Honrosa no 17° Concurso Nacional de Poesia - Helena Kolody.