Thursday, January 11, 2018

Pássaros Ruins #6 - Luciana Cañete (Curitiba)








POEMA PRA ANAS

O que é ver uma filha inerte? O que é um mãe à procura das sandálias da menina? A pequena esperando à porta, desenxuta e, no detalhe: a mãozinha delicada num trinco de metal.

O que é esse clarão que eu quase também vejo no meio da sala, da casa, no meio do mundo, da tempestade?
O que é um homem
que instala um para-raios
e não o aterra?

-O que é, senão,
a mão pesada de Deus a dar lições?-
Ana que deita pra sempre na frente
dos todos irmãos,
recém banhados.
Nem há coração pra ouvir
tanta chuva.

O que é, quando vem,
esse erro, esse raio,
que não volta atrás?
Que atravessa,
num egoísmo de destino,
o destino
de todos?

Nem sei,
nunca sabemos, vejo que existe pelo seu odor de enxofre e porque dele resta uma mãe que em dia de tempestade larga tudo,
senta num banquinho, calça sandálias de borracha,
junta as pernas e
se encurva.
até que volte o sol.

Para conhecer mais sobre o trabalho da poeta Luciana Cañete acesse:
http://deusdobravel.blogspot.com.br/

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