Sunday, April 08, 2007

LILLIAN HELLMAN















Lillian Hellman veio me visitar em uma noite, era final dos anos oitenta e a rotina fosca e asfixiante havia eclipsado a minha veia literária, os meus anseios de menina, tudo esquecido. Até que coloquei as minhas crianças para dormir, apanhei um filme que havia alugado e fui para meu quarto no andar de cima. No andar de baixo, meu ex assistia -perdidos na noite- eu achava muito propício o nome do programa, e éramos mesmo dois perdidos na noite, na vida, na estrada. Só não sabia que ao ver o filme Júlia ia vislumbrar dentro chispas da antiga luz, e ia ter vontade de voltar para meu lugar. Sei que foi naquela noite, diante da vida de Lillian Hellman, vestindo a pele dela, sentada ao lado de seu Dash, olhando estrelas, envoltos em uma manta. Foi percebendo o meu sonho ali na tela que comecei a romper as amarras com o que me desviava da escrita, da busca do amor que é partilha. A química perfeita: Jason Robards - Dashiell Hammett. Jane Fonda - Lillian Hellman. Sempre volto ao inverno antigo, à cama vazia, ao silêncio do sobrado, as crianças dormindo e eu olhando a cena e pensando: É isto que eu quero para a minha vida! Escrever. Olhar as águas calmas de um rio, ao lado do amor maduro, e mesmo ao lado do amor, ser livre, e ter coragem para lutar por esta liberdade...
e então, eu mudei de idéia, e pintei diferente o quadro dos meus dias...
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À medida que o tempo passa, a tinta velha em uma tela muitas vezes se torna transparente. Quando isso acontece, é possível ver, em alguns quadros, as linhas originais, uma criança dá lugar a um cachorro e um grande barco não está mais em mar aberto. Isso se chama pentimento, porque o pintor se arrependeu, mudou de idéia".
Lillian Hellman

La nave va...

Um dedo de prosa

  Fui selecionada, ao lado de vários escritores e escritoras, para integrar o projeto "Um dedo de prosa". Um dedo de prosa promove...