Saturday, August 08, 2009

Choque de estrelas grávidas II


18.8.80
I am going to pass around in a minute some lovely, glossy-blue
picture postcards.
Num minuto vou passar para vocês vários cartões postais belos e bri-
lhantes.
Esta é a mala de couro que contém a famosa coleção.
Reparem nas minhas mãos, vazias.
Meus bolsos também estão vazios.
Meu chapéu também está vazio. Vejam. Minhas mangas.
Viro de costas, dou uma volta inteira.
Como todos podem ver, não há nenhum truque, nenhum alçapão
escondido, nem jogos de luz enganadores.
A mala repousa nesta cadeira aqui.
Abro a mala com esta chave mestra em cerimônias
do tipo, se me permitem a brincadeira.
A primeira coisa que encontramos na mala, por cima de tudo,
é — adivinhem — um par de luvas.
Ei-las.
Pelica.
Coisa fina.
Visto as luvas — mão esquerda... mão direita... corte... perfeito.
Isso me lembra...
Um jovem artista perdido na elegante Berlim da Belle
Époque, sozinho, em vão procurando por
prazer. Passa um grupo ruidoso
de patinadores, e uma mulher de branco deixa cair
a sua luva, uma luva com seis botões, branca, longa, perfumada.
O jovem corre, apanha
a luva, mas reluta se deve aceitar ou não o desafio.
Afinal decide ignorá-lo, guarda a luva no bolso e volta caminhando para o seu hotel por ruas
mal iluminadas.
Mas assim me desvio do meu propósito desta noite.
- Ana C. (Luvas de Pelica - Inglaterra, 1980)
...

Junção de estrelas - Grávidas - Parte II - Ana C. viveu na Inglaterra... Luvas de Pelica é um passaporte poético... fragmento acima e o epílogo (decomposto) no vídeo acima. Emily Dickinson fez duas viagens pequenas durante toda a vida. Diferente de Ana C. que viveu em Londres e realizou muitas viagens. Mas... "A poesia é o impossível feito possível" escreveu Lorca, por isto o postal desta imagem - de 1971 - nele Emily Dickinson, a bela de Amherst saiu pelo mundo, pisou os lugares que descrevia em seus poemas - a Itália além dos frios Alpes Suiços e as borboletas do Brasil -tudo que sua imaginação tocou. A grande reclusa também viajou, esta viagem que é só do poeta. Ana C. traduziu Emily Dickinson e também Sylvia Plath, Czeslay Milosz e Wislawa Szymborska...
...
Quem está morrendo, amor
precisa de tão pouco
um copo d'água o rosto discreto de uma flor
um leque talvez uma dor amiga
e a certeza que nenhuma cor do arco-íris perceba
quando embora for

Tradução de Ana Cristina César


http://www.germinaliteratura.com.br/ed.htm
...

Acordei com esta idéia, de unir as grandezas, um céu diferente. Cada palavra é dita fora do tempo, cabe em qualquer século, abre da mesma forma as fechaduras graníticas ou enferrujadas. Duas mulheres belas. Um postal de 1.971, eu o vejo ali, meio à infinidade de cartões postais que Ana C. tira da mala, com suas luvas de pelica. Estas conexões, encontro de belezas.

Ana Cristina Cruz Cesar (Rio de Janeiro, 2 de junho de 1952 — Rio de Janeiro, 29 de outubro1983), ou ainda simplesmente Ana C., filha de Waldo Aranha Lenz Cesar e Maria Luiza Cesar, nasceu em família culta de classe média e protestante, numa década de 1950 quase bucólica do Rio de Janeiro. Criou-se entre Niterói, Copacabana e os jardins do velho Bennet. É uma das principais poetas da geração mimeógrafo ou da chamada literatura udigrudi ou marginalanos 1970.
fonte - wikipédia

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