Monday, October 04, 2010

Adriano Smaniotto


Vísceras à Vista - do poeta Adriano Smaniotto - é mais uma publicação da Secretaria do Estado da Cultura - Governo do Paraná.
Comemorar este livro do Adriano a poesia que tão bem define o Márcio Claudino na contra-capa:

Seu trânsito é feito (e efeito) desse hibrido transe, dicotômico, entre o acadêmico-críptico X boêmio-místico, o real das ruas X o mítico apolíneo da refinada consciência da literariedade do verso que forma o poema, com o requinte da atmosfera dionisíaca que engendra a poesia. Isto equivale dizer que ele está de bem tanto com o singelo, o pungente (via comoção essencial), quanto com a elaboração analítica (via apurada fruição artística), ainda que prime pela irreverência e picardia, algumas de suas marcas registradas.
Márcio Claudino


LIÇÕES DE AREIA E SAL

1. TERAPIA

eu fui ver o mar
pra lembrar do meu tamanho,
bem menor
bem mundano

ele falou gaivotas,
pedras antigas,
conchas ao meio
e de sua esquiva rota
a mesma e não
a cada dia

eu disse
perdão por ser pequeno
e achar que as coisas são
como eu acho que as coisas são

ele continuo dizendo
ondas vagarosas e perfeitas
siris que se escondiam
e que o vento é sábio
porque ensina com o silêncio
e aprende com desvios

acima
o céu não intervinha
ameno
dizia estrelas em nuvens de algodão

então,
eu vi que não sou melhor que os peixes,
eu que penso ser melhor que os homens

eu senti que não serei um milésimo do poente,
eu que já me acho um grande mestre

eu lembrei o valor dos pescadores
e da humilde gente
eu que sou da cidade de plástico

e vi que a vida é perfeita
porque não escolhe
a praia ou o campo,
esta ou aquela areia

ela apenas segue e se desenvolve
em busca de mais vida

e quando convém ao viver
ela morre


2. NIETZCHE HOJE NÃO


mar me ensine:
se eu disser raiva
diga praia mansa

se eu pensar em guerra
leve-me numa vaga
que me lance
dois mil e nove nós no oceano

para que eu me torne
menos que a água
e mais que a terra

humano, sem demasia, humano.


3. TARDE

dois moleques
com suas conchas colhidas
suas bermudas de areia
na praia que termina o sol

estivesse aqui minha sereia
e eu seria deles, um igual.

ADRIANO SMANIOTTO
Vísceras à Vista
SEEC PR/IMPRENSA OFICIAL DO PARANÁ 2010


Adriano Smaniotto - nasceu em Curitiba PR, 1975. Publicou - Vinte vozes de uma mesma veia (1999), Versejar a voz do ser é ser de si algoz (2000), em 2003 integrou a Antologia - Passagens - organizada por Ademir Demarchi. Formado em Letras pela PUC/PR atutalmente mestrando em Estudos Literários pela UFPR. Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
Adriano vê na poesia uma forma de reflexão e revolta diante do mundo. Ama algumas pessoas, além e seus pais, e acredita no ser humano, apesar de nunca ter conhecido um.

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