Vísceras à Vista - do poeta Adriano Smaniotto - é mais uma publicação da Secretaria do Estado da Cultura - Governo do Paraná.
Comemorar este livro do Adriano a poesia que tão bem define o Márcio Claudino na contra-capa:
Seu trânsito é feito (e efeito) desse hibrido transe, dicotômico, entre o acadêmico-críptico X boêmio-místico, o real das ruas X o mítico apolíneo da refinada consciência da literariedade do verso que forma o poema, com o requinte da atmosfera dionisíaca que engendra a poesia. Isto equivale dizer que ele está de bem tanto com o singelo, o pungente (via comoção essencial), quanto com a elaboração analítica (via apurada fruição artística), ainda que prime pela irreverência e picardia, algumas de suas marcas registradas.
Márcio Claudino
LIÇÕES DE AREIA E SAL
1. TERAPIA
eu fui ver o mar
pra lembrar do meu tamanho,
bem menor
bem mundano
ele falou gaivotas,
pedras antigas,
conchas ao meio
e de sua esquiva rota
a mesma e não
a cada dia
eu disse
perdão por ser pequeno
e achar que as coisas são
como eu acho que as coisas são
ele continuo dizendo
ondas vagarosas e perfeitas
siris que se escondiam
e que o vento é sábio
porque ensina com o silêncio
e aprende com desvios
acima
o céu não intervinha
ameno
dizia estrelas em nuvens de algodão
então,
eu vi que não sou melhor que os peixes,
eu que penso ser melhor que os homens
eu senti que não serei um milésimo do poente,
eu que já me acho um grande mestre
eu lembrei o valor dos pescadores
e da humilde gente
eu que sou da cidade de plástico
e vi que a vida é perfeita
porque não escolhe
a praia ou o campo,
esta ou aquela areia
ela apenas segue e se desenvolve
em busca de mais vida
e quando convém ao viver
ela morre
2. NIETZCHE HOJE NÃO
mar me ensine:
se eu disser raiva
diga praia mansa
se eu pensar em guerra
leve-me numa vaga
que me lance
dois mil e nove nós no oceano
para que eu me torne
menos que a água
e mais que a terra
humano, sem demasia, humano.
3. TARDE
dois moleques
com suas conchas colhidas
suas bermudas de areia
na praia que termina o sol
estivesse aqui minha sereia
e eu seria deles, um igual.
ADRIANO SMANIOTTO
Vísceras à Vista
SEEC PR/IMPRENSA OFICIAL DO PARANÁ 2010
Adriano Smaniotto - nasceu em Curitiba PR, 1975. Publicou - Vinte vozes de uma mesma veia (1999), Versejar a voz do ser é ser de si algoz (2000), em 2003 integrou a Antologia - Passagens - organizada por Ademir Demarchi. Formado em Letras pela PUC/PR atutalmente mestrando em Estudos Literários pela UFPR. Professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira.
Adriano vê na poesia uma forma de reflexão e revolta diante do mundo. Ama algumas pessoas, além e seus pais, e acredita no ser humano, apesar de nunca ter conhecido um.