(diante de uma fotografia de willie nelson)
O
caramelo deserto do teu sorriso
Este é o rosto da vida:
cicatriz rasgada abaixo do olho esquerdo e um lenço de pirata
Este é o rosto da vida:
rugas
que lembram um deserto com mil camelos enterrados
Estas corcovas da cor caramelo que são
– na
verdade – o sulco de tantas lágrimas
Este é o rosto da vida:
dois
planetas orbitados de luz a mostrar a explosão dentro...
Este é o rosto da vida:
nariz
adunco que esqueceu abutres e agora só cheira flor
Este é o rosto da vida:
lábios
sarcásticos que podem expor um riso ou uma agonia
Tanto faz o que foi a vida, ela começa agora com esta
música
que
cai lentamente
No espaço onde cabe o mundo inteiro e por isto cabe –
esta música
O rosto da vida é
carcaça de uma história
O rosto da vida é
cortina ilusória
A vida é esta música e é explosão dentro
e é ir remando lento na beira do abismo
Este rio que dá na queda
a queda que dá na morte
a morte que
se quer adiada
E o rosto da vida não entrega a real verdade
o rosto da
vida ri sarcasticamente e afaga mil camelos
Respira fundo e expele - em explosão de alma –
a última
esperança que dança a música
A bela música, e quando ela findar...
Os camelos estarão adormecidos
No caramelo deserto do teu sorriso
Bárbara Lia