Era bela a silhueta de Maya pelos bulevares. Jean-Luc
seguindo-a como se ela fosse o ar. Ela era noturna. Durante o dia usava
sombrinhas coloridas, para não permitir que o sol denunciasse sua sombra de
sangue. As pessoas paravam para olhar a sua silhueta esbelta, com seus ternos
femininos de cores claras e a sua beleza rara. Sua pele claríssima, herança de
Savério. Seu cabelo escuro, herdado de Magnólia. Ninguém diria que ela era uma
mulher amaldiçoada. Quando ficava nua diante da janela, sua sombra era escultura
escarlate no chão claro. E ela, a sós, achava poético ter uma sombra sangrada.
Achava bela sua sombra que vibrava mais que a sombra das mulheres da família,
achava que era pelo seu excesso de vida. Quiçá por ser ela fruto de um
incontestável amor. Admitia. Sabia da inquebrantável linha solar que unia sua
mãe ao italiano. O pai era seu pequeno deus e ela o adorava. E ele nada
cobrava. Não dizia nada, não fazia como Magnólia que a queria outra –
Uma menina quase deusa, uma pessoa magnânima talvez.
As filhas de Manuela
Bárbara Lia
Menção Honrosa no Prémio Fundação Eça de Queiróz, em sua primeira edição
Neste ano o Prémio Fundação Eça de Queiroz premiará um ensaio... o link abaixo para o regulamento do concurso...