Wednesday, August 16, 2017

As filhas de Manuela - Bárbara Lia










                                    lançamento em Peabiru - Casa da Cultura - com Maria Izabel Trivilin


As Filhas de Manuela
Bárbara Lia
148 páginas
Capa: Félix Nadar (1820-1910)
ISBN 978-856117566-5
Triunfal Gráfica e Editora (SP) 
Menção Honrosa na primeira edição
do Prémio Fundação Eça de Queiroz
(Portugal)

RS.30,00 + remessa

contato: barbaralia@gmail.com

As Filhas de Manuela. Romance. Realismo Mágico. 
Inicia em 1839 em plena Guerra dos Farrapos e segue até os dias atuais. 
O enredo acompanha a vida de todas as descendentes de Manuela, uma garota simples de Paranaguá que, ao encontrar um oficial da Armada Nacional, muda totalmente de direção a sua vida pacata em uma busca e esta busca pelo homem amado a levará ao encontro de alguém cruel. Este homem, rejeitado por Manuela, amaldiçoará Manuela e as futuras gerações. Esta maldição acrescentará dor e perdas e o adendo de levarem, todas as mulheres da estirpe de Manuela, uma sombra da cor do sangue. Como cada mulher viveu esta peculiaridade e os desdobramentos deste encontro de Manuela com o amor e o ódio vai definir os passos futuros em um círculo  de perdas e superações.

Saturday, August 12, 2017

um poema...





eu me permito errar
e me permito cair
em contradição
eu me permito dor
e me permito chão
e me permito ruínas
e me permito caos
eu me permito ser
quem se perde 
dentro de si
eu me permito gritar
e provocar os céus
com mil perguntas
eu me permito rasgar
cada fibra del cuore
para tecer uma flor
sangrada e livre
eu me permito amar
e acordar
como quem nasce
de novo
eu me permito flanar
entre o inferno
das noites a sós
e o sol
que me abre
as manhãs
eu me permito
ser inteira
sem medo
eu me permito cair
e levantar
nas madrugadas
para colher
as estrelas tontas
que despencam
em seu próprio céu
como eu

Bárbara Lia
Inverno de 2017

imagem - Francesca Woodman

Thursday, August 10, 2017

Forasteira no site "Toca a falar disso"





Sobre "Forasteira" no site "Toca a falar disso":



"Puro lirismo. É assim que pensamos Bárbara Lia, autora de Forasteira, ao abrir a primeira página do livro. A alma da poeta que traduz o inconformismo pela desumanidade e que também mergulha nos sentimentos mais íntimos, revela-se a cada estrofe.

Com uma identidade peculiar na escrita e uma personalidade marcante que fica bem pontuada em cada frase, a autora nos conduz por todos os caminhos que a visão da alma poética é capaz de levar. A inquietação infantil do mundo a descobrir, o florescer dos sentimentos, o compreender-se mulher na totalidade dos sentimentos e percepções, o entusiasmo pela vida e os dissabores pelas vivências que deixam marcas, são os reflexos que por entre as palavras que dançam nas páginas bem elaboradas, dessa menina-mulher.

Que fez a travessia pelo mundo e pelo tempo, sem perder a docilidade e o sonho de menina, mas ao mesmo tempo, acumulando no olhar, a experiência e as marcas de quem percebe o ser humano na sua mais dura vertente. Forasteira da vida e de si mesma, segue por vários caminhos, na arte da escrita e mantém inalterado o poder transformador de não se conformar com o feio, o distorcido, o desumano, seja na poesia ou na vivência, e revesti-lo de encanto , beleza e compaixão.

O Livro é o retrato fiel da alma da autora, relatado por Fernando Koproski no prefácio, traduzindo com perfeição o que encontramos na vivência poética de Bárbara Lia: filha de Florbela Espanca com Vinícius de Moraes. E isso já revela tudo.

Um abraço tropical"

DRIKKA INQUIT

link para o texto

Tuesday, August 08, 2017

As filhas de Manuela - Bárbara Lia



Para adquirir o romance "As Filhas de Manuela" 
contatar e-mail: barbaralia@gmail.com



Manuela
Grande Mar Redondo

Sobre mim passam, com a sua cacofonia,
os corvos em bando negro.

Sylvia Plath

Manuela não sabe de nada que acontece ao redor. Não sabe das expedições guarapuavanas que se atiraram na missão de domar os índios e conquistar aquele território. Os homens dão ordens para os cavalos pararem e ficam olhando aquela garota bela, queimada de sol. Manuela baixa o olhar. O intrépido Mauro
Risério adianta seu cavalo. Ele é filho de um dos homens da comitiva. Ele fica a dançar ao redor dela com seu cavalo. Ele a olha com seus olhos claros gélidos. Como quem quer invadir seus olhos tristes, ir andando com seu cavalo alma adentro como quem tem oitocentas perguntas. Manuela não move um músculo da face. Ele desce do cavalo e segura a garota pelos ombros. Manuela desmaia.

Bárbara Lia - As filhas de Manuela - Triunfal ed. - 2017
150 páginas
ISBN 978-856117566-5
R$.30,00

compras via e-mail: barbaralia@gmail.com

Saturday, August 05, 2017

fragmento: As filhas de Manuela




(..)conheci uma escritora triste que sempre fica na Livraria Ponte de Tábuas, tomando um cappuccino e escrevendo. Ela me vê. Conversamos telepaticamente. Ela diz que gostaria de ver Proust e não eu. Eu pergunto. Quem é Proust? Passo horas ouvindo sobre Proust. Ela o admira. E ela diz que adoraria que eu fosse Proust, pois eu poderia dizer se os escritos dela são Literatura ou desabafo. Poesia ou nada. E ela lê para mim e eu ouço e acho lindo. Ela diz que achar lindo não significa muito. Ela diz que as pessoas choram com propaganda de margarina e gostam de axé. Eu não sei bem o que é axé. Digo que meu avô ouve umas óperas belíssimas e que minha avó adora Chico Buarque. Ela sorri e diz: — Berço de ouro o teu, Mel. Eu sorrio. Nasci em berço de ouro. Sim. Eu nasci. Ela diz que tem nome de escritora: Virginia. As minhas tardes ganham nova alegria. Sento-me diante de Virginia e tenho aulas de Literatura. De vez em quando ela se queixa por eu não ser Proust, mas, com o tempo deixa de humilhar-me por causa de Proust e começa a ser mais amiga.

Bárbara Lia
As filhas de Manuela
página 133
Triunfal Ed. (2017)
ISBN 978-856117566-5




















contato - e-mail: barbaralia@gmail.com

Thursday, August 03, 2017

skyleros dermis: um diálogo com Paul Klee




Há quase dois anos eu teço um diálogo com Paul Klee, mixando arte & dor. Klee morreu vítima da esclerodermia. Eu vi ressuscitar o vírus que veio morar no líquido cinza da minha medula, e o nome científico é - síndrome tardia da poliomielite - sofri dores físicas, fiquei impedida de andar em muitas ocasiões e consegui estabilizar minha saúde depois de uma romaria por meia dúzia de médicos... Já posso fazer de conta que isto não aconteceu comigo. Esta é minha especialidade: negar dor. No caminho desta dor, desde 2008 até aqui dei de cara com Klee. Dialoguei com ele, sua Arte, sua beleza. E quiçá um dia eu publique estes textos que flanam entre a revolta com a dor e a libertação possível que germina em toda espécie de Amor.
No carnaval encontrei um estudo científico e uma fotografia que me fez chorar, a realidade física de Klee diante da esclerodermia... Não sei se conseguirei amar mais um artista do que amo este homem, a beleza absurda de um ser. Ele era poeta, um grande poeta, alguns títulos de seus quadros são versos. 
Klee é inesgotável, eterno, terno, belíssimo...



texto final que entrou no livro "não o convidei ao meu corpo" - editora kazuá - 2018.


A “Síndrome Tardia da Poliomielite” é uma denominação nova para mim e me soterra. A “síndrome” de Paul Klee tem outro nome. O que o matou se chama Esclerodermia. Ele pintou suas últimas telas como quem desenha homens desmembrados. Os anjos despedaçados de Klee. Algumas similaridades entre os sintomas da doença dele e desta síndrome tardia da pólio que veio me visitar agora que é como se fossemos irmãos sentindo as mesmas dores.

Sigo nesta dança pela tenra primavera de Paul Klee armada de amor até os dentes. Alguns homens passam a vida a edificar legados de beleza. O de Klee é um dos mais poéticos e iluminados. Com ele os dias são lavados de humanidade, e seguimos. Quando os nazistas disseram que ele era inepto para seu ofício, assinaram a carta de desumanidade. Sabiam da alma sem preconceito do poeta. Leram a universalidade em suas telas. Paul realmente não combinava com aquela neurose coletiva chamada nazismo que tornou – e torna – o mundo bem mais triste. Paul morreu acossado pela dor profunda: a dor da esclerodermia e dos golpes de maldade que um inocente sofre à sombra da cruel História. Eu consigo imaginar o que ele sentia, apesar de saber que a dor dele foi bem maior. Eu filtro o extremo que a ele atingiu e para mim sobra esta dor chata que vou sentir até o fim.

Paul Klee pintava como quem compõe uma partitura. No final, somos todos: música A cor me possui, ele dizia. A palavra me possui, eu digo. Em meus escritos a dor grita nas entrelinhas. Tento compor a alegria, mas ela só cabe na Natureza. Quando digo da alma do homem é sempre dolorido. Paul pintou corpos desmembrados enquanto convivia com a doença que migrou para o seu corpo em 1.935 e ficou até sua morte em 1.940. A agonia vaza. Os nazistas o taxaram de incompetente. Voltou à Suíça, a cidadania não lhe foi concedida em vida, seis dias após sua morte ele tornou-se um cidadão suíço. Hoje vejo Klee como cidadão do mundo. Ao final da vida, cativo da dor. Não é bom ficar batendo nesta tecla. Não é bom gritar esta parte pequena do que somos: pura dor.

Sinto uma mão úmida e tensa a tomar minha mão, ouço uma voz que me pede para não ficar martelando nesta tecla de agonia como se estivéssemos vivendo dentro de uma sinfonia de Stravinsky. Há o ponto de fuga. Penso que é isto que Paul sussurra setenta e sete anos depois de sua morte, nesta sala, na manhã cinzenta de um país tropical. Menos mal. Nasci para negar dor, e penso que devo aferrar-me ao antigo hábito. Gosto deste terno de tecido antigo que ele usa na fotografia e gosto deste rosto que ele veste quando me visita. Não tenho nada a oferecer a não ser café ou um chá de erva doce. Ele sorri. Aos europeus sempre apresentamos a nossa cachaça. Aos europeus nosso mundo exótico de Natureza e Música. Eu o levarei a uma roda de samba, Klee. Embora eu não possa dançar, haverá uma mulher para te ensinar a ginga maravilhosa da nossa gente espalhafatosa. Somos tão diversos, Paul. Aqui as cores e as coreografias combinam tanto com seus quadros. De alguma forma, vestistes a liberdade plena de tudo que vi norte a sul deste país gigante, adormecido ainda. Ele pulsa como suas rosas pulsam em seus quadros. Ele tem traços fortes como em suas telas, e aqui tudo é poesia, como os títulos dos teus quadros que foram raptados de seus versos. Vê aquele galho escondido em algum ponto de um lugar onde a natureza é bruta? Breve o galho sacudirá e de lá vai voar uma gralha azul linda. Aqui onde vivo ela é o símbolo, e tudo que tem asas eu sigo. Eu amo. Somos cativos de uma dor sim, mas a vencemos, até que ela nos vença – pela morte. Veja a similaridade e não solte minha mão. Parece estranho te materializar assim, de forma tão plena. Isto é obra de poeta. Sinto falta de um lugar sonhado. Um lugar que se constrói agora como em um filme que se passa cem anos atrás. Vejo uma trilha de chão batido que dá em uma alameda cercada por árvores altas. Adiantando a cena, vejo de costas o teu casaco surrado e tua mão a puxar-me para esta estrada. Longe deve haver um lugar onde a grama é tapete de ternura, o rio, o cheiro das flores silvestres. Tela e tintas. Um dia todo para rir e criar e para partilhar tudo que não é dor. Não solte minha mão, Paul! Não solte!

Era para falar do que somos cativos, mas não somos. Não somos.




La nave va...

PACOTE DE POESIA

94ª edição do 'PACOTE DE POESIA" traz 15 poemas de Bárbara Lia. Quem vive em Curitiba pode retirar - gratuitamente- no SESC do Paço...