(Matéria para o Site - Vejo São José. Em 2006 atuei como jornalista cobrindo a COP8. Quinze anos passados e segue tudo como era dantes no quartel de Abrantes. Greta Thunberg era praticamente um bebê em 2006).
Ampulheta colocada no hall de
entrada do Expotrade Convention Center
pelos integrantes do Programa do GreenPeace (Kids for Forest). Dentro, os
animais se transformando em dinheiro e o pedido para que virassem a ampulheta
ao contrário.
A
MOP3 começou com uma recepção no Memorial de Curitiba – Largo da Ordem. Três
semanas depois, as delegações, ONG’s, jornalistas, Ministros de Estado e até
mesmo o Presidente da República deram sua contribuição para colorir Curitiba
das cores da Terra e da Esperança. Na manhã deste sábado (1º de
abril) aconteceu a última reunião. O futuro da Terra, em sua essência
mais complexa, foi discutido e dissecado. Ao final, ao que parece, tudo segue sem merecer
o devido cuidado e a primordial atenção. Por mais que os integrantes da
Convenção, na figura do seu secretário Ahmed Djoglaf faça uma avaliação
positiva, ressaltando que houve um grande entendimento e muita sintonia entre
os Ministros de Estado presentes, não há muito a comemorar. Ahmed enfatizou a
presença de quatrocentos jornalistas, ainda assim, ao menos para esta
observadora, o momento merecia muito mais atenção da grande mídia, da
população, que se escora em divagações quando questionada sobre o tema. Ouvi de
uma pessoa: até lá já morri. Ouvi isto quando comentei sobre a conclusão dos
mil e trezentos cientistas que responderam ao pedido da ONU e fizeram um
relatório sobre a saúde do planeta. Eles colocaram a possibilidade de dentro de
trinta anos o planeta entrar em convulsão, caso nada seja feito a respeito da
questão do meio ambiente. Então, quando alguém te responde com esta lacônica
previsão "Até lá eu já morri", percebe-se a dificuldade que irão encontrar
governos, ONGs, ambientalistas e qualquer um que pense o futuro das espécies e
a saúde da Terra: a inércia.

Durante alguns dias este ônibus
decorado com borboletas nos levava ao MOP/COP – A biodiversidade está na gente
– escrito em dois idiomas.
Na primeira semana o tema girava em torno de duas sentenças: “contém”,
e “pode conter” os chamados transgênicos, ou organismos vivos modificados. O debate sobre os alimentos transgênicos foi longo. A
máquina que usei para fotografar estava com a data errada, quiçá em 2.023
borboletas reais circundem os ônibus e comemorem outra mentalidade. A questão
da MOP3 levou o Governador Roberto Requião a dizer em um dos seus
pronunciamentos “O eufemismo falso do – pode conter- se transportado para um
programa de governo, por exemplo, comportaria a dedução de que o programa de
governo pudesse ser rotulado como - pode conter interesses contra a Ecologia”.
Do
lado de fora da Expotrade, em tendas
brancas, acontecia paralelamente o Fórum Global da Sociedade Civil, que teve a
participação da Ministra Marina Silva e do Governador Requião na abertura do Fórum. O evento reuniu ONGs, Nações Indígenas e
integrantes da Via Campesina.
A
MOP3 teve avanços na negociação da rotulação definitiva do termo “contém”,
muito embora esta prática só entre em vigor em 2.012. Segundo Marina Silva “O
protocolo de Cartagena é cumulativo e o que fizemos aqui foi colocar o “contém”
na ordem do dia, nos países que são parte do Protocolo”.
Ao
final da MOP o Governador do Paraná – Roberto Requião – tomou à frente e
assinou um decreto onde, a partir de agora, os produtos paranaenses vão receber
o selo “contém OVM’s - Organismos vivos modificados”, atitude elogiada pela Ministra e por vários integrantes
do evento.
Finda
a MOP3, a Convenção da Biodiversidade teve início com a chegada à Curitiba de
várias etnias, fazendo do Centro de Convenção um lugar onde desfilavam os trajes
típicos de várias nações e os povos indígenas de sessenta países presentes. No
pátio realizavam cerimônias, diante das ocas montadas, atraindo os visitantes.
Cavalhadas
Em
três noites, durante a COP8, aconteceu uma encenação com mais de mil
integrantes, do grupo – Ordem dos Cavalheiros – da cidade de Guarapuava (PR),
interpretando o espetáculo conhecido como “Cavalhadas”, reproduzindo lutas da
Idade Média.
Durante
a COP8 a taxa de ocupação hoteleira em Curitiba alcançou a taxa de 70%, contra
30% no mês período no ano de 2.005.
Dentro,
as negociações giravam em torno de temas importantes como a questão da
repartição de benefícios e acesso a recursos tradicionais, e a utilização ou
não das Terminators.
O
Fórum Internacional Indígena sobre Biodiversidade (FIIB) fez críticas aos
resultados no último dia do evento - a 8ª Conferência das Partes da Convenção
sobre Diversidade Biológica (COP8). Segundo os participantes do Fórum “não
avançou na construção de um regulamento internacional para o acesso a recursos
genéticos e conhecimentos tradicionais”. Os indígenas esperavam a criação de um
sistema de regras mundiais para as pesquisas com plantas e animais, que,
segundo eles, se apropriam do saber dos indígenas, quilombolas e extrativistas.
Fóruns indígenas anteriores e também a Declaração Internacional de Cancún dos Povos Indígenas, já
demonstrava a preocupação dos povos indígenas com esta questão da distribuição
de benefícios. Na Quinta Conferência Ministerial da OMC em Cancún em setembro
de 2.003. A proposta do Fórum é que haja mecanismos de repartição dos lucros e
tecnologia com as comunidades locais. Os povos indígenas dão o nome de
Biocolonialismo a esta decisão dos governos agir sobre as suas milenares
práticas que começaram a atrair a atenção do homem branco. Segundo o Conselho
dos povos indígenas a ênfase na “distribuição de benefícios” tem o efeito de
promover ao invés de prevenir, a comercialização dos recursos genéticos. Ainda
que a distribuição de benefícios ajude mais os povos indígenas que a
biopirataria, apresenta iguais e sérios riscos. Segundo este conselho as vozes
dos povos indígenas em todo o mundo estão a questionar a engenharia genética,
denunciando os atos de biopirataria e reivindicando os direitos a proteger as
comunidades e o meio ambiente contra os depredadores da genes. As iniciativas e
forma de vida
dos povos indígenas continuará demonstrando ser uma alternativa em uma era
de globalização que trata de monopolizar e comercializar todos os recursos da
vida.
Para
os participantes do Fórum Indígena, o único avanço da COP8 foi manter a
proibição absoluta (estabelecida em 2000) para pesquisas com tecnologias
genéticas de restrição de uso da Tecnologia Terminator
– que diz respeito a plantas que foram geneticamente modificadas para produzir
sementes estéreis na colheita, através de mecanismo molecular induzido.
Desenvolvida pela indústria multinacional de sementes/agroquímicos e o governo
dos Estados Unidos para evitar que agricultores guardem e replantem sementes
colhidas que foram desenvolvidas pelas corporações de biotecnologia e de sementes.
O
Greenpeace avaliou a COP8 como um fracasso. E a falta de avanço, segundo a
organização, compromete seriamente as metas definidas pela própria Convenção de
reduzir a perda de Biodiversidade até 2010. O adiamento da lei sobre Repartição
de Benefícios segundo Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do
Greenpeace, ganhou-se tempo para que a indústria farmacêutica, especialmente
dos Estados Unidos, etiquetasse e colocasse a biodiversidade em código de
barras.
A
discussão sobre o papel da conferência em identificação de reservas marinhas em
alto-mar não avançou.
Em
resumo, a COP8 como avanço pode comemorar apenas a permanência da proibição do
uso das Tecnologias de Restrição de Uso Genético – GURT’s, ou Terminator.
Este
tema relativo aos Terminator entrou
no tema da convenção este ano. Este e outros temas terem entrado na agenda é
visto como um avanço na luta contra a perda da biodiversidade. Pelo Brasil foi
trazida a iniciativa de mapear as espécies de animais e plantas exóticas
invasoras. Segundo a ONU, tais espécies dão um prejuízo de US$ 1,4 trilhão,
sendo a primeira causa de redução de biodiversidade em ilhas e a segunda nas
demais regiões do mundo. Entre os invasores estão arbustos, aves, peixes,
répteis, e vírus exóticos.
Em
2008, na Alemanha, a COP9 terá como pauta uma gama enorme de pendências, a dois
anos da meta estabelecida para que se reduza a perda da Biodiversidade no
Planeta.
Certa
vez eu escrevi que as ONGs e os Médicos sem Fronteira e os membros do
Greenpeace eram os poetas do Terceiro Milênio. Nada poderá ser narrado se a Terra
estiver ressequida e nua.
Os
povos da floresta parecem ser os únicos que tem noção da importância do precioso vínculo com a Mãe Terra, e eles, até mesmo eles são parte desta
extinção vagarosa e estranha, e o homem branco, globalizado, com um código de
barras na alma talvez não compreenda o que Marcos Terena disse:
–
Posso ser quem você é sem deixar de ser quem sou.
Considerando
a luta em todo o mundo, incansável e sem trégua, o feito de muitos integrantes
que acabam presos em manifestações que buscam alertar os homens. A minha
pequena passagem pela MOP/COP fez com que eu me lembrasse de um poema que fiz
em 1.999 para esta organização, que se denominava, no início – Guerreiros do
Arco-Íris.
GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS
Quando
secarem as fontes
E
a terra estiver ressequida e nua
O
mundo se lembrará dos guerreiros do arco-íris
Quando
o verde desaparecer
E
o último pássaro migrar
Em
busca
Da
última folha
Da
última árvore
Da
última floresta
A
humanidade saberá
E
– tarde demais - acordará
Karuguá – em guarani significa
Arco-Íris.
As informações sobre o
Fórum Indígena em Cancun, em 2.003, foram retiradas do livro – Guerra de
Paradigmas – Resistência de Los Pueblos Indígenas a la Globalización
Econômica – editado por Jerry Mander y Victoria Tauli Corpuz.
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