Poesia
Bárbara Lia / Thomas Gabriel
Edição Independente (2021)
40 páginas
Capa: o desenho é do Arthur - neto da poeta Bárbara Lia -
A janela
se fecha no coração
Magnético
Em que olhos puxam vitrais
Olhos se fecham
Viúvas se matam
Caixinhas de música
Não tocam mais música
Apenas se fecham
Thomas Gabriel
Em Marte Sem Passaporte
Poesia (2021)
É mais
fácil ver anjos caídos
Em
jardins pomposos
Os anjos
transparentes
Vivem nos
becos
Nas
encruzilhadas tristes
Nas peles
rasgadas
Nos
catres surrados
Viver em
Poesia
Ajuda a
ver anjos
E
pássaros
E ajuda a
esquivar-se
Dos
jardins amorfos
E dos
risos pálidos
Bárbara Lia
Em Marte Sem Passaporte
Poesia (2021)
"Põe a mão em mim, viro água" reúne poemas escritos durante o ano de 2020.
Apenas os três poemas da série - O céu ainda é azul - foram escritos antes da pandemia, após a visita à exposição de Yoko Onno, no Instituto Tomie Othake, São Paulo.
O livro é dividido em três blocos com os seguintes títulos:
- 'Põe a mão em mim, viro água'
- 'O céu ainda é azul'
- 'A arte de não morrer'
O título é fragmento de uma fala da personagem Doralda, do livro "Corpo de Baile" - de João Guimarães Rosa: "Estou adoecida de amor. Põe a mão em mim, viro água".
Capa e ilustrações internas do pintor tcheco Alphonse Mucha.
*
Para que haja luz lá fora
À sacralidade da natureza nada
estremece:
O canto do pássaro
O assombro da rosa fúcsia
O coração da natureza -
Pura matéria das estrelas
Nós somos enxertados
Pelo sopro de dois anjos
O anjo do bem - descido das alturas
O anjo do mal - que veio a galope do
desconhecido
Qual deles está amalgamado ao teu
ser?
Amor se reconhece no ato
O ódio é este infiltrado
Via fatos, pessoas, eventos
O ódio é multifacetado - enganoso
O amor é como um menino
Livre e nu
Correndo de peito aberto
Gosto das pessoas eletrizadas
São as que amam
As que odeiam são contidas
Escondem sob a pele a farpa
As pessoas que odeiam
Voltam-se para dentro de si
Feito criptas
As que amam saem ao luar
Ao vento, ao destino
Invejo pássaros, rosas, rios e vento
Por saber que a sacralidade da
natureza
Não é atingida pela onda
Esta que ora chega
Como chega a tantos lugares
De tempos em tempos
Esta que persegue e carimba
Segrega e mata
Quando encontrarem nossos ossos
Eles serão leves
Serão como somos hoje:
Sol, liberdade e Poesia
Ninguém saberá quem odiou
E quem foi odiado
A mesma ossatura humana
Sem distinção
O negro, a mulher livre,
O mendigo ou cada poeta
Nossa ossatura tal e qual
A dos que –hoje – se conclamam deuses
E dizem que são escolhidos
E acham que podem
Com seus dedos de ódio
Brincar de: “uni duni tê o escolhido foi você”
Virarão pó e ossos e igualdade
- Enfim -
Resta dobrar de encontro ao coração
O estrondo do mundo
Para caber no peito
O quão grande é
E foi tudo
A esplendorosa vida
A delicada vida
A orgástica vida
Esta que dançou em minha pele
Nadou no meu sangue
E espera, em paz, meio à natureza,
Que ignora a podridão
Lembrar o último beijo
O verso último que brotou ainda agora
Ter a certeza de que ainda faltam
séculos
Para que haja luz lá fora
Bárbara Lia
"Põe a mão em mim, viro água"
Poesia (2021)
Quem desejar este livro (põe a mão em mim, viro água), enviar e-mail para a autora: barbaralia@gmail.com
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