Monday, March 19, 2007

O FILÓSOFO, SEUS MAPAS, O ÁBACO...



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(para L. A. S. - meu pai)



Por que sempre viro à direita,
quando é necessário virar
à esquerda,
penso os cartógrafos como deuses
guiando os homens...
seus mapas
negras linhas em pele de gazelas
papiros esfarelados
horizontes nítidos:
Eram sábios!

Por que sempre atravesso o rio,
para só depois perceber
que estava na margem certa,
dei para sonhar uma linha negra
abaixo dos meus pés...
como no cinema:
as caravanas cálidas
os jipes em safáris
os beats pedindo carona
a moça que foge dos grilhões...
caminhando
sobre os mapas do mesmo tom
amarelo-ouro, sempre.

Por que tudo que tem caminho
necessita ser da cor do sol?
pontilhado de negro, e os rios,
sempre azuis?...
eu trilho uma linha negra
em uma superfície prata,
e explico:

Amanhã ele faria 91:
- meu pai –
ainda caminho em suas linhas,
em uma mapa que não era ouro,
era um prata de luar feliz...
Seus mapas eram na folha branca
papel manteiga
tinta nanquim.
Media terras - meu pai – topógrafo...
é nítida demais a imagem
do seu ofício todo aberto
em cima da negra mesa de madeira,
a letra pequena de filósofo,
as curvas sinuosas das fazendas,
chácaras, sítios...
até cidades...
a mesma mesa onde me ensinou
a utilizar o ábaco,
o barulho das teclas
o aroma da sopa de aipim que ela fazia
então, ele me contava de uma indiazinha
chamada Diacui e eu sorria...
naquele tempo, eu sorria,
e todas as lendas e mitos e constelações,
e as baforadas do cigarro de palha...
até hoje morro de saudade
se um ancião passa curvado ao meu lado,
soltando baforadas daquele cheiro acre...
a mesa escura, e ecos de uma palavra que grudou,
junto com a saudade...
Liberdade.
BÁRBARA LIA

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