Saturday, November 10, 2007

NO CAMINHO COM CARLOS BARROS
























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Painho de La Mancha
-ilustração do filho de Carlos Barros: George Brayner

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Em 1988 quando Carlos Barros chegou por aqui eu estava grávida do meu filho caçula Thomas e não havia retomado a escrita, o que iria acontecer apenas em 1.992 quando rabisquei meu primeiro poema depois de muitos anos. Eu enterrei por anos o sonho de ser escritora. A semente guardada no escuro de mim, aquecida. Por mais que eu me deslumbrasse diante dos poetas e das poesias não conseguia vislumbrar isto - a minha poesia saindo de mim para o papel. O “culpado” ou um grande grau de “culpa” de iniciar minha jornada poética foi mesmo do Carlos Barros. Lembro do seu interesse e uma ânsia dele, e que era mesmo a bandeira do Carlos - divulgar a poesia. Lembro do disque-poesia. Lembro que deixei por inúmeras vezes livros nos bancos das praças e nos cafés e nos ônibus. Lembro da poesia na vidraça. E sei que cada afago ou chibatada que recebo por conta da poesia tem um “culpado” lá no passado que ficou muito tempo exigindo que eu tirasse os poemas da gaveta. Quando viu que eu não ia mesmo tirar ele decretou que eles iam para o Buffet de Poesia, o que aconteceu em 1.997. Minha estréia, meus primeiros passos como poeta e escritora foram mesmo capitaneados por Carlos Barros. No caminho com Carlos Barros é um passeio para resgatar as audácias poéticas e esperar que os poetas sempre encontrem um Carlos Barros pela vida, e se tornem fortes. Como criança que cresce, mas não esquece os primeiros passos....


NO CAMINHO COM CARLOS BARROS


1. Disque-Poesia

Em 1988, ao chegar em Curitiba, tomei conhecimento de uma experiência de poesia em telefone, na Inglaterra. Propus à TELEPAR, aluguei uma linha especial e fui em busca de poetas interessados em participar. Contatei o Edson Bueno e a Eliane Karas, que toparam falar os poemas, fomos para o estúdio da Rádio Capital, AM, no Bairro Alto e pusemos no ar o "Disque Poesia: 200.2626", o primeiro serviço de poesia por telefone do Brasil. Detalhe: banquei sozinho toda a implantação do serviço, bem como sua manutenção, sendo esta uma das razões seu desativamento em 1995. A TELEPAR me pagava uma pequena comissão pelas ligações recebidas, mas foi insuficiente para a manutenção do serviço.Participaram, além de mim, o Eduardo Hoffman, a Helena Kolody, a Viviane Gral, Tonicato Miranda e o Estevan AS, entre outros. Foi uma luta! Mas deu certo. Funcionou até 1995 e com a curiosidade de, por um ou dois anos, perto de 1995, Curitiba ter sido a única cidade brasileira a ter dois serviços simultâneos de poesia por telefone: é que a Fundação Cultural de Curitiba lançou um serviço semelhante, acho que em 1994, que funcionou, também, até 1995. O DISQUE POESIA, além de permitir que eu entrasse em contato com um bom número de poetas curitibanos, propiciou a esses poetas o alcance a um público maior e, de certa forma, movimentou a cidade. Recebemos ampla cobertura das mídias e fomos notícia em todos os lugares do País e alguns do exterior. Recebi muita correspondência e colaboração dos mais variados lugares. O DISQUE POESIA pôs ao alcance de qualquer pessoa (bastava ter uma ficha telefônica), a poesia que se fazia no País, naquela época. Foi um grande difusor dessa arte.


2. Tem Poesia no meio do caminho

Em 1994, com o afã de difundir a poesia e a leitura, realizei o "Tem Poesia no Meio do Caminho". Consistia em deixar livros em locais públicos (bancos de praças, bancos de ônibus, orelhões, etc.), com etiquetas identificando o projeto e a proposta, para que as pessoas pegassem, lessem e os devolvessem a um local público, formando uma corrente de literatura, criando o que chamei de "a primeira biblioteca pública do Brasil". Sem carteirinhas, contas de luz, prazos para devolução, etc.
Partindo do princípio de que livro guardado é livro morto (lembro de ter dito à Folha de Londrina que manter um livro guardado era um "livrocídio") coloquei, nesse projeto, cerca de 400 livros de minha biblioteca, e os distribuí em Curitiba, São Paulo e Recife.
Esse projeto tem umas coisas bem interessantes. Recebi doações de vários livreiros (Chaim, Livrarias Pirâmide e Curitiba), autores e editores de Curitiba. Recebi colaborações de vários poetas querendo doar seus livros e, pelo menos um, Adélia Maria Woellner, me pedia para "comprar" as etiquetas do projeto para que ela pusesse seus livros para circular, ao tempo em que ajudava na manutenção do projeto. Em reportagem par a TV (Band, se não me engano) pudemos verificar como as pessoas se reprimem diante de um livro "abandonado" em um local público. Vi na Rua Senador Soares Alencar, crianças querendo pegar um livro, serem impedidos pelo pai ou mãe, que os puxava para seguir caminho.
E, talvez, o mais interessante: O projeto foi aprovado pela Fundação Cultural de Curitiba, para captar recursos pela Lei de Incentivo à Cultura. Recebi a informação de sua aprovação e da condição de que eu "deveria doar 10% da tiragem para as Bibliotecas Municipais". Ao responder que não tinha como cumprir esse requisito, uma vez que o projeto não previa tiragem alguma, mas compra de livros para distribuição, o projeto foi "desaprovado", de maneira que fiquei sem poder realizá-lo.
Outro fato interessante é que dois anos depois (em 1996) o Ministério da Cultura iniciou uma campanha nacional pelo incentivo à leitura, com o mote de "Ler é Viajar".
Em 2003, um sítio americano propôs a distribuição de livros de forma semelhante, em alusão a derrubada das Torres Gêmeas de Nova Iorque, no 11 de setembro de 2001.
Já há uns dois ou três anos, as Livrarias Curitiba promovem projeto semelhante, com distribuição de livros em cidades onde elas possuem filiais.


3. Poesia na Vidraça

Poesia na vidraça começou em Recife, na casa de uma amiga, em 1989. Escrevi, com bastões corretivos, na vidraça do terraço de sua casa, alguns poemas meus que ficaram ali por quase dez anos. Curioso que a cada diarista que chegava ela recomendava, veementemente, que limpasse a vidraça sem remover os poemas. Até que chegou uma mais desatenta e foi tudo embora.Como projeto propriamente dito, começou em Nova Prata (RS), em 1990, durante o I Congresso Brasileiro de Poesia. Depois de escrever poemas nas janelas do ônibus que nos conduzia pela cidade, fui aos comerciantes pedir, uma a um, permissão para escrever um poema em suas vitrines. A coisa funcionou tão bem que teve comerciante exigindo que eu escrevesse em sua vidraça.
A proposta do Poesia na Vidraça, como a maioria dos meus trabalhos, é difundir e desmitificar a poesia. No caso, colocamos a poesia diretamente em contato com o leitor, ao ensejo em que "valorizamos" o espaço utilizado apenas para vender produtos (as vitrines) como veículo poético. Esse projeto obteve o apoio maciço dos comerciantes de Bento Gonçalves (RS), onde é realizado anualmente, durante os Congressos Brasileiros de Poesia. Foi realizado, também, em Recife e Montes Claros (MG).


4. Buffet de Poesia

O Buffet de Poesia é uma forma revolucionária de publicar literatura. É um Buffet, tal como os inúmeros buffets que encontramos em restaurantes brasileiros: a pessoa lê, escolhe o que quer, como pretende levar (livro, com ou sem capa, ou folha solta) e paga só que escolher.Diante da falta de espaço com que nós, autores marginais, nos deparamos na Indústria Cultural, foi a maneira que encontrei de viabilizar a publicação e distribuição de nossa produção. Ao tempo que revolucionamos a própria indústria editorial. Eu não tenho conhecimento da produção de livros dessa forma, onde o leitor/comprador tem irrestrita liberdade de escolha. Ele escolhe, não só o que pretende levar, mas o(s) autore(s), a forma como deseja levar e, até, o preço do que deseja comprar, já que os poemas são expostos em folhas soltas, com a capa em separado, cabendo ao leitor/comprador montar, na hora da aquisição, o livro que deseje, se desejar.
Serviu, também, para expor a um público maior alguns autores inéditos que, até então, não haviam tido a oportunidade de mostrar sua produção. Do Buffet de Poesia participamos eu, Eduardo Hoffman (Jacarezinho-PR), Luiz Renato S. Pinto (Cuiabá-MT), Gisele Brayner (Recife-PE), Bárbara Lia Soares (Campo Mourão-PR), Adélia Maria Woellner, Horácio Portela, Glauco Neto e Etelvina Frota (Curitiba).
O Buffet de Poesia foi exposto, em Curitiba, na Feira do Livro da Faculdade Tuiuti, na praça de alimentação do XV Street Shopping (hoje Lojas Renner), além de Belo Horizonte-MG, Bento Gonçalves-RS, e Nova Roma do Sul-RS.


5. O século passado era ontem


O século passado não passou. É hoje. Será amanhã.
Talvez os historiadores, se algum se ocupar de mim, façam essa distinção.
Na verdade, eu não consigo fazer, talvez porque continue vivo. No século vinte, nasci, fui alfabetizado, comecei a escrever, comecei a publicar, casei, tive filhos, me separei... No século vinte e um, continuo aprendendo, continuo escrevendo, continuo publicando...Não casei novamente, porque a gente deve aprender com os próprios erros, e dois séculos é muito pouco tempo para cometermos o mesmo erro duas vezes.
Assim, a sucessão de tempo que os calendários dividem, não funciona muito bem em nossas vidas particulares. Por isso que, ou ainda vivo no século passado, ou já vivo no século vindouro. Deixo a definição para os outros...


6. Quest e outros trabalhos


QUEST, meu quarto livro, é a reunião de trabalhos de mais de dez anos. Procurei reunir trabalhos em prosa e verso, além de alguma experiência em visual, sem ousar "poesia visual". QUEST é, como a maioria de meus trabalhos, mais uma experiência de vida, que uma obra literária. Nunca tive a preocupação de escrever livros. Meus escritos, minhas fotos, meus quadros sempre foram produzidos mais por uma necessidade pessoal de manifestação, que algo para ser lido, visto, publicado. A publicação é uma conseqüência natural do próprio fazer. Depois de feito, o trabalho pulsa por um vôo maior, anseia por amplidão.Meu primeiro livro, "PUNHESIAS", foi um trabalho feito manual e artesanalmente para uma Exposição de Arte Correio, no Recife, em 1976. Fiz somente doze exemplares. Depois, participei de algumas outras exposições, com outros trabalhos mais ligados à Arte Correio que à poesia propriamente dita.
Em 1989, saiu o FÊNIX, meu primeiro livro propriamente dito, editado pela Arte Quintal de Belo Horizonte. É um trabalho que me abriu inúmeras portas, circulou por várias cidades brasileiras (cada cidade que eu passasse, deixava exemplares para a biblioteca local) e foi incorporado ao acervo de inúmeras bibliotecas públicas e universitárias no Brasil e Exterior. A partir de 1990, dediquei-me a jornais literários, principalmente o POEMIA, com Marcelo Miguel, através do qual chegamos com a poesia que se fazia no Brasil ao País inteiro. Fizemos festas, procissões (passeatas poéticas), e um sem número de eventos, difundindo a pesia em todas as suas manifestações.
Em 1992, comecei a editar cartões poéticos, com meus poemas e ilustrações de alguns amigos, tais como Kátia Horn, George e Thiago Brayner (meus filhos) e outros.Paralelamente idealizei alguns projetos tais como o "Poesia na Vidraça" do qual falo acima; o "Pise Poesia", que realizei em vários eventos; o "Poesia Nossa de Cada Dia", programa diário de rádio, que foi ao ar, por seis meses, na Rádio Educativa de Curitiba; o "Buffet de Poesia", também acima referido; o "Série Poesia Brasileira em Cartões Telefônicos", não realizado por falta de patrocinador, apesar de aprovado pela Lei Rouanet; o "Pitangueiras Poéticas", também realizado anualmente em Bento Gonçalves-RS, entre outros.
Em 2001, já de volta ao Recife, publiquei, junto como poeta gaúcho Paulo Rocha, o livro "POESIA", pela TIÊ Editorial, um trabalho lúdico em que fizemos dois livros em um, que podem ser lidos independentemente e que nos remete a um círculo, uma vez que ao terminar a leitura de um é só virar o livro e começar o outro, e assim sucessivamente.
Em 2003, voltei a fotografar, produzindo alguns cartões com fotopoemas e, agora, estou desenvolvendo um trabalho com fotografias para "selos" para Arte Correio, o "sigilfoto".Em 2007, publiquei o QUEST, acima descrito, pela Livro Rápido, de Recife, em que publico pela primeira vez, em livros, trabalhos em prosa. É, também, minha primeira experiência com uma "editora virtual". O QUEST existe apenas na internet. É vendido somente pela Livro Rápido (www.livrorapido.com.br) e Mercado Livre (
www.mercadolivre.com.br), sendo impresso à medida em que for pedido, no que se convencionou chamar de "impressão por demanda".E em 2008...
Bem, 2008, deixemos para falar depois...


7. Carlos Barros por Carlos Barros...

Carlos Barros chegou a este plano, como Carlos Alberto Fernandes de Barros, em maio de 1952, sob o signo de Touro, filho de um pequeno comerciante e uma dona de casa. Tímido, aos 14/15 anos começou a escrever poemas para louvar suas paixões, já que não tinha coragem de louvar, pessoalmente, suas musas. Com o tempo, percebeu que poderia, além de louvar paixões platônicas, dizer algo mais geral, colocando suas opiniões sobre mundo, vida, etc.
Desde pequeno, privilegiou o trabalho em detrimento, até, do estudo. Assim, aos 16 anos já estava no balcão de uma loja de tecidos, em Recife, sem contar que desde os 11 ajudava o pai na mercearia. Assim foi que só concluiu o primeiro grau, através do Supletivo, aos 22 anos. O segundo, também através do Supletivo, foi concluído em 1990, aos 38!! E o terceiro ainda está por concluir. Já tentou Filosofia na Federal do Paraná, e hoje tenta História na Federal de Pernambuco.
Trabalhou como motorista de táxi, motorista de caminhão, vendedor, pesquisador, bancário, produtor cultural, criador publicitário e, até, garçom.
Em 1988, mudou-se com a família, mulher e três filhos, para Curitiba, onde encontrou campo fértil para suas idéias. Foi ali que desenvolveu a maioria de seus projetos poéticos e a partir dali encontrou uma estrada aberta para a participação em inúmeros eventos. Antes, ainda em Recife, participou de alguns eventos ligados à poesia, arte postal e música. Também, ainda em Recife, começou a publicar seus poemas em jornais do Brasil e Portugal. Em 2000, voltou para Recife, onde mora até hoje. Desde então, publicou dois livros de poesias, e vem retomando seus trabalhos com fotografia, através do qual desenvolve um trabalho de poesia com fotografia, unindo suas duas expressões em cartões postais.


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CARLOS BARROS nasceu em Recife-PE, em maio de 1952, onde reside, desde fevereiro
de 2000, depois de 12 anos residindo em Curitiba-PR.
Tendo começado a escrever na adolescência, publicou os livros “PUNHESIAS”, edição artesanal, de bolso, em 1976, “FÊNIX”, pela Editora Arte Quintal, de Belo Horizonte-MG, em
1989, POESIA, junto com o poeta gaúcho PAULO ROCHA, pela Editorial Tiê, de Recife, em
2001 e QUEST, pela Livro Rápido, de Recife, 2007. Desde 1990, edita e publica cartões postais com poesias e ilustrações suas e de outros autores e, a partir de 2004, com fotos de sua autoria.
Participou de várias Antologias Poéticas, entre as quais “POETA, MOSTRA A TUA
CARA”, volume 4, em Bento Gonçalves-RS; “POESIA E LIBERDADE”, Edições Maria, de
Juiz de Fora-MG; “ALGUNS POETAS BRASILEIROS - 50 ANOS DA AABB RECIFE”, Edição
da AABB-Recife-PE; “ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA”, Fundação Rio/ Editora
Hipocampo, Rio de Janeiro e “INTERNATIONAL POETRY”, editada por Teresinka Pereira,
Bluffton College, Ohio, USA, e POESÍA BRASILEÑA PARA EL NUEVO MILÉNIO, publicada
em fevereiro de 2.000, em Havana, Cuba, sob a coordenação de Ademir Antonio Bacca. Teve
seu conto “SEMPRE ALERTA” selecionado para a mostra BANCO DE TALENTOS
FEBRABAN 2007, São Paulo-SP, novembro de 2007.

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Um dedo de prosa

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