No mundo real nunca é A Hora da Estrela. É sempre a hora do aço e do confronto e do desencanto. O poeta necessita uma dose imensa de coragem. Driblar cada não. Tornar tudo um sim-jardim. Ser, à revelia de tudo, uma mínima estrela. Tentar digerir o mundo escrevendo versos e pisando espaços inóspitos, saguões de gelo, catedrais de desesperança. Tudo afinal é apenas o desafio que se enfrenta enquanto vive. O poeta escreve isto, com ritmos – Reggae, Tango, Bossa Nova, Ópera-rock...
O enigma decifrado
O que a onda diz
ao cão sentado
babando moluscos
e saudades?
Como rasgar a onda
sem cicatrizar em azul?
Beber a ardência seminal
de amantes afogados
como quem engole
segredos guardados
entre debruns
de ondas
em seu giz rendado.
*
Aléias azuis na cinza manhã
inflam o ar em luz e ardor
envolvem a sombra.
*
Acordes rascantes
do amor em goles.
do amor em goles.
Chávena com alfabeto fenício
- início.
Olhar de mel silvestre
e este lúdico instante
Brancura do éden erguida
distante da rua de pedra
Chuva azul debaixo da mesa
Castanholas
Vermelha dança flamenca
acordando a lua.
Ar gélido da rua nos desperta.
A noite começa com um sol sem juízo.
Chaleira chia
dança em meus olhos
o teu sorriso.
---Mergulhar em gavetas e arquivos, derramar a poesia sobre a mesa - Faz frio e é tempo de organizar armários, gavetas e de revisar arquivos. Recolher toda a poesia, espelhá-la para ver se não virou fantasma, pra ver se reflete ainda um fragmento daquilo que foi ou é a poeta. Pensamentos, poemas e esta paz congelada na esquina. Faz frio e eu canto...