Tuesday, January 12, 2010

Árvore


Van Gogh
.

.
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Decreto:
.

Proibido derrubar

qualquer árvore
.

(exceto para

construir
berços
e violinos)

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AZUL NOTURNO .


O anjo louco do casario deserto,
era invisível feito música.
De noite subia na árvore.
De dia descia ao poço.

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A voz – imã de luz.
O perfume – avenca suave.
A sombra – azul noturno.
O olhar de mar – salgado.
.

Anjo sem céu.
Anjo da terra.
Enlouquecido
de som e luz.

.

(O sal das rosas - Lumme Editor / 2007)

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...

.

.

HABIB

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Cedros do Líbano, entre-folhas secretas

Gravam nosso idílio - Saara incendiado.

Dança do ventre - teu olhar tâmara ardente.

Corpos reluzindo azeite - deleite - estrelas

Do deserto espiam. Alá me guia!

Tens sabor de damasco,

Olhos egípcios, pele de sol.

Habib. Habib.

Sussurro no auge.

Luz bruxuleia - tenda ao luar.

Luar a nos enlaçar

Na luz azul.

Guardar o gozo etéreo - eterno.

Habib - murmuro. Teu corpo se queda

Saciado, em meu corpo. Movendo astros.



...

(...)

Acordo

E tem um rio podre

Em minhas veias

Rasga e acelera

Meu coração

Em mágoa coagulada.

Nas pessoas, não há sorrisos.

Nem esperanças de primavera.

E na luz do dia, me apavoro...

Rostos que olho e

Vejo cadáveres,

Meninos mortos, esqueléticos.

Árvores sangrando

Folhas negras

E vento rasgando a rua.

Os cachecóis coloridos

São forcas esgarçadas

E as calçadas, areias movediças.

A música enlouquece em

Guitarras estridentes.

Anjos satânicos dedilhando gritos.

O sol esfria nas artérias.

O aroma do pão fresquinho congela no ar

E não chega aqui, para me lembrar — é dia!

(...)

(Fragmentos)





...


ARCO-ÍRIS BRANCO

.

Pássaro bicou a paina

no galho alto,

repercutiu neve.

.

Caías em mim

— arco-íris

branco

fragmentado

em sete tons —

.

pele

sorriso

fumaça do cigarro

esperma

notas do violão

voz e alma.

(Noir / 2006)


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Link para o conto - Mulher na àrvore



...




A Árvore da Serra
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— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!
.
— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...
.
— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
.
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

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Augusto dos Anjos

(1.884 - 1914)

- biografia -




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