desenho - Ane Fiuza
Segunda percepção
A luz se move.
Vaga-lumes são faróis terrestres.
Siameses de estrelinhas verdes.
Espiões de meninas travessas.
Detrás das árvores de flores brancas eles abduziam Magnólia.
Piscavam, enfeitiçavam.
O lusco-fusco magnético fazia com que ela estendesse a mão, sempre impossível alcançar a luz.
Ninguém ensinou à Magnólia como colher vaga-lumes e estrelas.
A primeira vez que Magnólia entrou solenemente na vida, era esta a percepção:
Uma calçada clara clareada de chuva de mínimas flores brancas, a árvore florida e ao lado dela uma janela com luz estranha lembrando o miolo de romãs. Vaga-lumes distantes de seus dedos frágeis.
Magnólia colecionava palavras e não sabia qual a sua primeira palavra.
A mãe jamais dissera.
Por isto imaginava que sua primeira palavra tinha a ver com flor e luz e inseto que incendeia em lusco-fusco.
Talvez tenha sido um suspiro sua primeira palavra.
Ou uma interjeição: Ah!
O que mais pode expressar o sentimento de inserção...
Talvez tivesse repetido o som da flor que cai suave branca na calçada branca...
E este som ainda era o prenúncio de que o paraíso está ali na esquina.
Andava com prenúncios de paraíso ouvindo o som da flor que cai.
Bárbara Lia
Percepções / 21 gramas - 2010