Sunday, July 24, 2011

Percepções (diário de Magnólia)



desenho - Ane Fiuza


Segunda percepção

A luz se move.






Vaga-lumes são faróis terrestres.

Siameses de estrelinhas verdes.

Espiões de meninas travessas.

Detrás das árvores de flores brancas eles abduziam Magnólia.

Piscavam, enfeitiçavam.

O lusco-fusco magnético fazia com que ela estendesse a mão, sempre impossível alcançar a luz.

Ninguém ensinou à Magnólia como colher vaga-lumes e estrelas.

A primeira vez que Magnólia entrou solenemente na vida, era esta a percepção:

Uma calçada clara clareada de chuva de mínimas flores brancas, a árvore florida e ao lado dela uma janela com luz estranha lembrando o miolo de romãs. Vaga-lumes distantes de seus dedos frágeis.

Magnólia colecionava palavras e não sabia qual a sua primeira palavra.
A mãe jamais dissera.

Por isto imaginava que sua primeira palavra tinha a ver com flor e luz e inseto que incendeia em lusco-fusco.

Talvez tenha sido um suspiro sua primeira palavra.

Ou uma interjeição: Ah!

O que mais pode expressar o sentimento de inserção...

Talvez tivesse repetido o som da flor que cai suave branca na calçada branca...

E este som ainda era o prenúncio de que o paraíso está ali na esquina.

Andava com prenúncios de paraíso ouvindo o som da flor que cai.


Bárbara Lia
Percepções / 21 gramas - 2010

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