Wednesday, November 23, 2011

SUBLIMAR

Tu és o Louco da imortal loucura,
o louco da loucura mais suprema.
A terra é sempre a tua negra algema,
prende-te nela a extrema Desventura.

Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
faz que tu'alma suplicando gema
e rebente em estrelas de ternura.

Tu és o Poeta, o grande Assinalado
Que povoas o mundo despovoado,
De belezas eternas, pouco a pouco.

Na Natureza prodigiosa e rica
Toda a audácia dos nervos justifica
Os teus espasmos imortais de louco!

O assinalado - Cruz e Sousa


Making Off - A Atriz Maria Ceiça e o Diretor de - O Poeta do Desterro - o Poeta Sylvio Back

Na noite de ontem o Canal Brasil apresentou o filme de Sylvio Back - Cruz e Sousa - O poeta do Desterro. O filme seguido do Making Off.  Uma homenagem a Cruz e Sousa. Lições poéticas.
Os poetas ainda sublimam toda a sua dor, escrevendo. Isto não tem nada a ver com sentimentalismo. O sentir é inerente ao ser o Humano e a função do poeta é revelar Humanidade quando verte uma poesia para o papel. Alguns poemas são apenas catedrais de palavras e é preciso não se apoderar do título de poeta por conta deste agarrar-se aos signos. Não é Poesia se não existir a fagulha humana dentro e não é poesia se existir apenas um relato piegas calcado apenas no sentir, enfim.
O que Cruz e Sousa veio lembrar na noite foi a SUBLIMAÇÃO de sua dor, quanto mais dor mais pureza em versos, mais luz dentro.
O tempo rasgou dentro de minha alma algumas palavras que eu achava essenciais (quiçá eu não tenha sofrido o suficiente para preservá-las)... Mas, diante de tanto sofrimento transformado em Arte,  só resta desengavetar a palavra e vestí-la, com este azul que visto agora. Vestir o sublime e seguir capturando signos. A vida é um mistério tão intenso que não tem explicação.
As coisas vão acontecendo, à revelia. Cremos ter as rédeas dos dias e o mapa e o traçado do caminho. Quanta enganação.
Esta coragem de folha despencada que segue o vento e se entrega à uma liberdade sem rota, é o nirvana. Um tempo eu ousei soltar-me ao vento das estações. Confesso que vivi.
A chave está ali à minha espera: Leveza e Sublimação. Sem elos e sem prisões.
A leveza abre aquele canal para os mistérios.
Não pude coordenar meus horários pra ir de Assaí direto para o Rio de Janeiro no coquetel de abertura da exposição do Rodrigo de Souza Leão - Tudo vai ficar da cor que você quiser. Tentei. Não consegui. Ir até minha cidade natal foi especial. Estava voltando para casa no dia 09 e na minha frente um carro tinha a placa que começava com as letras MAM. Foi um sinal, a lembrança do amigo, a certeza de que - ainda que ausente - o MAM estava ao meu lado naquela noite, a homenagem ao longe. Estas sincronias.
E gravar a fogo tatuagem mensagem recado na parede no céu na lua, estes versos que me incitam à alquimia possível:

(...)
Mas essa mesma algema de amargura,
Mas essa mesma Desventura extrema
faz que tu'alma suplicando gema
e rebente em estrelas de ternura.
(...)




  •  Sinopse de Cruz e Sousa - O poeta do Desterro.
    Reinvenção da vida, obra e morte do poeta catarinense Cruz e Sousa (1861-1898), fundador do Simbolismo no Brasil e considerado o maior poeta negro da língua portuguesa. Através de 34 "estrofes visuais", o filme rastreia desde as arrebatadoras paixões do poeta em Florianópolis até seu emparedamento social, racial, intelectual e trágico no Rio de Janeiro.
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