Meu corpo lembra Frida Kahlo. A
marca que impede uma alma livre de ser plena, correr ao encontro de tudo. O
congelamento do corpo em uma cama, em um espaço cerzido. Ela - Frida - não
aceitou e pintou sua realidade com traços de luz/fogo/alfazema/lágrima e amou de um amor irrepreensível e nunca
aceitou que o mundo a taxasse de menor ou pequena... Frida sussurra no meu
travesseiro a ladainha da rebeldia: Ergue este queixo bonito e pisa as flores
da tua escolha, e ama e ama até forjar uma chuva de colibris acima dos abismos.
Frida, Frida... Ainda estamos colhendo estas aves azuis com nossas mãos
pequenas. Tua liberdade era estrela bastarda - eterna fagulha no céu - eu a
agarro como quem monta uma égua dilacerada, pretendendo com ela atravessar a
agonia do viver. E quando meu corpo esquece que é teu corpo eu contemplo este
duplo meu e a minha voz interior diz claramente - Sou Frida à medula.
Bárbara Lia in Respirar/2014
Frida Kahlo, c.1940. Photo by Ivan Dmitri