Soledad
Vi em um filme de Bruno Barreto
Elizabeth Bishop e Robert Lowell
A passear pelo Central Park entre
Risos e passos lerdos de poetas
Ela disse ao seu amigo: eu devo ser
A mulher mais solitária do mundo -
Isto deve constar no meu epitáfio
Elizabeth, eu te apresento minha vida:
Longas noites nesta cama desabitada
Manhãs tomando café com pássaros
Tétrico corredor de sombra única
Um prato e um copo à mesa do jantar
Mesa redonda, cadeira fria e escura
Horrível trono de rainha viúva
Minha solidão é de extremada textura
De quem vive a arranhar a carnadura
Da odiosa palavra - Não
Posto que, diferente de ti, eu nunca vi
O luar de Ouro Preto ao lado do amor
Nem recebi - de mão beijada -
Uma casa serrana diante do infinito
Nem ninguém atravessou o oceano
Para morrer ancorado em meu corpo
Dito isto fica combinado então:
Mudarei meu nome para – Soledad
Nem sempre fui Bárbara na vida
Com certeza sempre fui solidão
Bárbara Lia
L'amour me ravage
Poesia (2019)
Carnavalhame - 3ª edição