Tuesday, November 17, 2009
Sunday, November 15, 2009
Diante da janela, o roseiral
Testamento enterrado
à sombra do roseiral:
Deixo meu violão
para a balconista da padaria.
A erva benta
para a velha do sobrado.
A chaleira
que chia Villa-Lobos
para Frei Gustavo,
que costura almas
nas manhãs de quarta.
O livro de poesia
de Augusto dos Anjos,
para o cobrador do expresso 022.
Assinado:
A menina dos olhos tristes.
Chico me chamava de Carolina,
mas era só um disfarce.
Sou eu a menina
que viu o tempo passar na janela,
sem ver.
Bárbara Lia
in O SAL DAS ROSAS
estante #29

Um simples atraso
.
E que, se risse, ofertaria aos pobres"
Carlos Drummond de Andrade
.
Cheguei em companhia de quem nem conhecia. Mas, mesmo assim, mesmo estando só, mesmo estando só de passagem, fizeram-me esperar à porta.
O riso, não celebrado, não aconteceu de novo.
E tudo ficou tão tarde. Desejei passear um pouco lá fora e acompanhar o cortejo das árvores.
Tranquei-me sujo com o mijo escuro da noite.
Tranquei-me com mil pássaros.
Tranquei-me com um pouco da própria carne entre os dentes.
Meu medo, enfim, por fim, sem riso celebrado, desencabulou-se e saiu de casa. Foi apanhar-me no meio da rua.
Bernardo Brayner
Exercício de Morrer
Editora LivroRápido, 2005
Thursday, November 12, 2009
Tia Coruja
God
John Lennon
God is a concept
By which we measure
Our pain
I'll say it again
God is a concept
By which we measure
Our pain
I don't believe in magic
I don't believe in I-Ching
I don't believe in Bible
I don't believe in tarot
I don't believe in Hitler
I don't believe in Jesus
I don't believe in Kennedy
I don't believe in Buddha
I don't believe in mantra
I don't believe in Gita
I don't believe in yoga
I don't believe in kings
I don't believe in Elvis
I don't believe in Zimmerman
I don't believe in Beatles
I just believe in me
Yoko and me
And that's reality
The dream is over
What can I say?
The dream is over
Yesterday
I was the dreamweaver
But now I'm reborn
I was the Walrus
But now I'm John
And so dear friends
You just have to carry on
The dream is over
Sunday, November 08, 2009
Wednesday, November 04, 2009
Mulher na árvore
como abraçar um amigo em outra estrela?

.
O copo quebrou
e não foi preciso mais nada
além da voz de Yma Sumac
.
O copo quebrou
no agudo do passarinho
dentro dela
.
O copo quebrou
e os cacos ficaram no chão
para algum faquir sorrir dor
.
O copo quebrou
e toda criança sabe
que a boa água é a da bica
Rodrigo de Souza Leão
- saudades do Rodrigo que hoje estaria recebendo abraços e soprando as velinhas e escrevendo alguma poesia e ficando mais velho e espalhando ternura...
Monday, November 02, 2009
No caminho com Michel Sleiman

http://saldaterraluzdomundo.net/literatura_entrevista___.html
Também no Site Icarabe:
http://www.icarabe.org/CN02/entrevistas/entr_det.asp?id=69
Na foto estou com Michel logo após o Diwan - setembro de 2.006 - uma das noites mais geladas do ano.
Sunday, November 01, 2009
o drama dos imigrantes no rádio e na tela


(Estes atores potentes que precisavam ser mais aproveitados como protagonistas. Não troco nenhuma beldade na tela por Marcia Gay Harden. A força dela enriquece os filmes, ela lembra Marsha Mason - A garota do Adeus)
Jennings abre a porta da sua vida austera para um casal que está de forma ilegal vivendo em seu país e recupera o - sentido de sua vida - volta à música que ele abandonou quando abandonou o piano e a recupera com o tambor sírio, instrumento que Tarek toca.
Este tema voltou ontem à baila, vi este filme há uns dez dias e ontem no Workshop de Dramaturgia com Chris Dolan e David Ian Neville, o David trouxe a gravação de um capítulo da novela que ele dirigiu lá na Escócia. Novela de Rádio - Broken English - Através de uma garota de 13 anos, cujo pai foi deportado para a Turquia. O capítulo que ouvimos ontem, relata a manhã em que os policiais chegaram e levaram toda a família para um desses centro de detenção onde ficam os imigrantes. Senti saudades das novelas do rádio. Das manhãs em que minha mãe ligava o rádio e todos precisavam ficar quietos no ambiente para que ela ouvisse sua novela. O Direito de Nascer contava a vida de um certo Albertinho Limonta, lá em Santiago - de Cuba. Vez por outra lembro a abertura de uma outra novela, que girava em torno de personagens do circo e cuja fala inicial ficou gravada, depois de uma música dramática circense o locutor dizia - Um facho de luz ilumina a plataforma, todos tem os olhos fixos nele...
Esta nostalgia de primavera, novela no rádio. Lembrar o lugar de onde viemos, o lugar que escolhemos, as escolhas que a vida nos traz, melhor que as nossas, com mais ternura, tecida por uma Mente Benigna, que existe, embora vez por outra - nas tempestades - parece estar adormecida. Na verdade o sopro do caos vem do bem, pra mudar as pessoas, sacudir sua inércia e mostrar onde está a música, os nossos pares, as nossas jóias, a nossa alma.
Thursday, October 29, 2009
Para Camille, com uma flor de pedra
RUE NOTRE-DAME-DES-CHAMPS
.
.
Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
Entre nós não foi apenas valsa
Como a que dancei com Debussy
E talhei em mármore.
.
Não foi espanto e encanto
Meu olhar azul na onda
- Fuji ao fundo -
Terna reverência à Hokusai.
.
Lampejo de esperança – nosso encontro -
Sem saber que em minha vaga
Ao tecer crianças prestes a um naufrágio
Reproduzia o meu destino trágico.
.
Antes um plágio – roubar o barco
De Hokusai, não colocar-me aos pés da onda.
Mas, com minhas mãos pequenas
Esculpo apenas o que pulsa
Cão criança mulher amado.
.
Rue Notre-Dame-des-Champs
Recordas?
A minha agonia
Que nem podia
Esperar o novo dia
Estar em tua porta
Deitar-me
Natureza morta
Para que me eternizasse
- Danaide.
.
Rue Notre-Dame-des-Champs
Tua criança amorável eu era
Amiga feroz e soberana.
Dezoito anos, olhos de céu no dia da criação
Lábios sensuais em flor. Comecei a esculpir
– Pés, pés, pés...
.
Sem saber que dentro
Da alma feminina e fera
Esculpia um coração de vidro
Sem imaginar que um dia os estilhaços
Ergueriam em onda fria
E me soterraria – VIVA!
Bárbara Lia
...
Camille Claudel morreu em 19 de outubro de 1943, ao acaso passei alguns dias revendo estas poesias escritas há quase dois anos, com o título - Para Camille, com uma flor de pedra.
Uma mínima homenagem.
Tuesday, October 27, 2009
Constelação de Ossos
FÓSSEIS ROSAS PROFANADAS
.
.
O ar raspando o sangue seco da alma.
Alma mutilada a minha.
Sangue incrustado em suas paredes desde a infância, algumas feridas já cicatrizadas.
Minha alma um painel de Pollock.
Nas partes não cicatrizadas a tinta escorria espessa.
Por muitas noites eu não dormia.
A cor que mais doía era o amarelo aflito, aquele amarelo gritante.
Não sei se algum dia vai esgotar o amarelo de Van Gogh.
Como se ele tivesse a chave secreta da desesperança, em forma de girassol.
O meu interior borrado, sangrado de cores ardia ao vento, o pulmão ardia ao respirar lufadas de ar puro entre medo e delírio.
Raul segue pela Estrada Graciosa, um caminho antigo calçado de pedras, onde abismos se abrem, onde um trem trafega, onde pássaros desnudam suas lágrimas.
Quatro passos necessários para aprumar o esqueleto.
As nuvens se ordenam atrás das bananeiras.
Olho o bangalô e sinto uma ternura de gênesis.
Projeto de éden, recanto de Nyx.
À entrada da varanda um tapete tecido em barbante azul cobalto.
As pedras da entrada são claras, justapostas formam um desenho branco assimétrico.
A varanda pequena adornada de bebedouros ao redor onde um beija-flor pousa, beija a água adocicada e se vai.
Uma rede da cor do trigo maduro.
Raul bate na porta, três toques, a porta está entreaberta.
Ela não está na casa, eu penso.
Silenciosa como um anjo, pousa das alturas ao nosso lado.
fragmento do romance - Constelação de Ossos - Bárbara Lia, 2009
La nave va...
Uma Entrevista na Revista Arte Cítrica n°3
Na página 94 uma entrevista sobre minha vida de poeta na bela edição da Revista Arte Cítrica nº 3: https://drive.google.com/file/d/1PPTZT6...

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