Wednesday, February 23, 2022

A memória da dor na constituição da identidade das mulheres no romance As filhas de Manuela de Bárbara Lia


 


Data poética  22.02.2022
Tarde poética.

Parabéns, Andriele Aparecida Heupa pela aprovação com louvor.
Emocionada e feliz.
Momento lindo na minha vida de escritora.

 
Que as mulheres sempre cantem Livres.

Thursday, February 03, 2022

 




#leiturasdomês


Livros que li em janeiro:

Os visitantes
B. Kucinski
Companhia das Letras

O jornalista Bernardo Kucinski causou furor na cena literária brasileira com seu romance K: Relato de uma busca, publicado em 2013. História de um pai em busca da filha que desapareceu durante a ditadura no Brasil, o romance angariou uma legião de fãs e foi aclamado como uma das grandes obras literárias daquele ano. A novela Os visitantes é uma continuação de K, e cada capítulo narra a visita de uma pessoa diferente que vai até o autor cobrar satisfações sobre o livro anterior.

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Déjà vu: voltar ao final do século passado. Noites e noites de horror percorrendo os livros escritos pós abertura política. Os crimes cometidos pela ditadura militar eram embalados em requintes de crueldade. Arrastar Stuart Angel por um pátio, atado a um jeep do exército com a boca diante do escapamento. Frei Tito com a alma estilhaçada sem encontrar saída. Dora esmagada por um trem em Berlim. Não é fácil desgrudar o fantasma da barbárie da própria pele. Degradação de corpos: queimá-los em uma usina (Cambahyba) como aconteceu com a irmã de Kucinski. Por ser judia, dor duplicada por lembrar os fornos crematórios nazistas, dor ampliada para os familiares.
É muito original este livro por trazer a reação de personagens reais a eventos antigos. Uma espécie de procissão de personagens marcados por um momento que espalhou cicatrizes, dor e ausências.


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Vista Chinesa
Tatiana Salem Levy
Todavia Editora

Leio os capítulos vagarosamente para conseguir ultrapassar o terrível drama. É denso e triste.
O livro inicia com a personagem tomando uma decisão: escrever uma carta aos filhos para contar sobre um terrível evento. Um estupro ocorrido em um local chamado - Vista Chinesa. O livro é real, sem paliativos. Coloca o leitor frente a frente com os momentos que fizeram uma mulher decidir não esconder, nem esconder-se. É o enfrentamento do momento, para não ser esmagada por um estigma. Ainda cai sobre ombros de mulheres estupradas uma espécie de dúvida, como se fosse possível evitar.


Friday, January 21, 2022

A Engenheira da Memória - Pedro Carrano

 

                                            




Nos últimos dois anos estou isolada socialmente de uma forma mais rigorosa que minha antiga misantropia. Quebrei o isolamento para trocar livros com o poeta, escritor e jornalista Pedro Carrano. Vidas e vidas depois daquele encontro na Oficina de Poema Curto ministrada pelo Joba Tridente quando encontrei o Pedro Carrano lá se vão vinte e quatro anos de estrada. Muitos livros, lutas e idas e vindas, é muito poético ler a dedicatória do Pedro no romance - A engenheira da memória: "À Bárbara, passam-se os anos, fica a poesia e a memória, forte abraço".

Devorei as cem páginas de "A engenheira da memória". Gosto de ser transportada para o texto, capturada, sem conseguir deter o fluxo de leitura. O romance merece um olhar cuidadoso e um texto mais cuidadoso ainda, por isto deixo o link para uma matéria sobre o livro. 


A engenheira da memória
Pedro Carrano
Romance
Caravana Grupo Editorial



Sobre o livro:





Monday, January 10, 2022

Andrew Garfiel interpreta Jonathan Larson em "Tick,Tick... Boom!"





Não sou muito fã de musicais, no entanto, o melhor filme que vi nos últimos meses é um musical: Tick, Tick... Boom!

É Música, Poesia, Teatro e Cinema em um filme.
Tem o talento musical (que eu desconhecia) do Andrew Garfiel interpretando Jonathan Larson, um artista que morreu precocemente antes de ver o sucesso de sua Peça Teatral: Rent.
No início de sua carreira foi incentivado por Steven Soderbergh, quando escrevia sua primeira Peça de Teatro e trabalhava em uma Lanchonete. Durante oito anos ele compôs canções, criou um enredo, e realizou uma audição na tentativa de dar um salto para fora daquele seu trabalho e iniciar uma vida dedicada apenas à sua Arte.
É lindo! Chorei mas foi um choro/revelação. Aquela injeção de coragem: perseverar.
É um filme sobre - ser artista.
Sobre perder amigos para o HIV, sobre ficar dividido entre a Amada e a Arte. Sobre a angústia e a incerteza a cada criação. Dedicar dias, horas, meses, anos... Depois, recomeçar.
Andrew Garfiel é extraordinário... E canta!
Venceu o Globo de Ouro ontem.
Linda performance, grande homenagem a Jonathan Larson.

Tuesday, December 28, 2021

Livros de 2021 - O Ano da Poesia

 


Em Marte Sem Passaporte"
Poesia 
Bárbara Lia / Thomas Gabriel
Edição Independente  (2021)
40 páginas 
Capa: o desenho é do Arthur - neto da poeta Bárbara Lia - 
sobre fotografia de Marte (NASA).



Em 2002 meu filho Thomas participou da Oficina Sarah Sal,  do poeta Fernando Karl ( in memoriam).
Sempre quis imprimir os poemas do Thomas. Karl destacou o talento poético do Thomas, mas Thomas escreveu apenas durante a Oficina e à época ele tinha 13 anos.  Os poemas do meu filho Thomas Gabriel falam de temas propostos durante os três meses que ele escreveu poesia sob a batuta do Karl. 
Meus poemas passam pelas estações do ano, temas esparsos e encerra com o poema longo "Contra a morte da luz" que fala da degradação do planeta (e dos homens) e dialoga com o poema "Do not go gentle into that good night" do poeta Dylan Thomas.
O livro foi impresso sob demanda. A tiragem foi apenas 50 exemplares. Edição esgotada.


A janela se fecha no coração

Magnético

Em que olhos puxam vitrais

 

Olhos se fecham

Viúvas se matam

Caixinhas de música

 

Não tocam mais música

Apenas se fecham


Thomas Gabriel 

Em Marte Sem Passaporte 

Poesia (2021)



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É mais fácil ver anjos caídos

Em jardins pomposos

Os anjos transparentes

Vivem nos becos

Nas encruzilhadas tristes

Nas peles rasgadas

Nos catres surrados

Viver em Poesia

Ajuda a ver anjos

E pássaros

E ajuda a esquivar-se

Dos jardins amorfos

E dos risos pálidos


Bárbara Lia

Em Marte Sem Passaporte 

Poesia (2021)




foto by Sabrina Gomes



"Põe a mão em mim, viro água" reúne poemas escritos durante o ano de 2020.

Apenas os três poemas da série - O céu ainda é azul - foram escritos antes da pandemia, após a visita à exposição de Yoko Onno, no Instituto Tomie Othake, São Paulo.

O livro é dividido em três blocos com os seguintes títulos:

- 'Põe a mão em mim, viro água'

- 'O céu ainda é azul'

- 'A arte de não morrer'

O título é fragmento de uma fala da personagem Doralda, do livro "Corpo de Baile" - de João Guimarães Rosa: "Estou adoecida de amor. Põe a mão em mim, viro água".

Capa e ilustrações internas do pintor tcheco Alphonse Mucha.


*

Para que haja luz lá fora

 


À sacralidade da natureza nada estremece:

O canto do pássaro

O assombro da rosa fúcsia

O coração da natureza -

Pura matéria das estrelas

 

Nós somos enxertados

Pelo sopro de dois anjos

O anjo do bem - descido das alturas

O anjo do mal - que veio a galope do desconhecido

 

Qual deles está amalgamado ao teu ser?

 

Amor se reconhece no ato

O ódio é este infiltrado

Via fatos, pessoas, eventos

O ódio é multifacetado - enganoso

O amor é como um menino

Livre e nu

Correndo de peito aberto

 

Gosto das pessoas eletrizadas

São as que amam

As que odeiam são contidas

Escondem sob a pele a farpa

As pessoas que odeiam

Voltam-se para dentro de si

Feito criptas

As que amam saem ao luar

Ao vento, ao destino

 

Invejo pássaros, rosas, rios e vento

Por saber que a sacralidade da natureza

Não é atingida pela onda

Esta que ora chega 

 

Como chega a tantos lugares

De tempos em tempos

Esta que persegue e carimba

Segrega e mata

 

Quando encontrarem nossos ossos

Eles serão leves

Serão como somos hoje:

Sol, liberdade e Poesia

 

Ninguém saberá quem odiou

E quem foi odiado

A mesma ossatura humana

Sem distinção

O negro, a mulher livre,

O mendigo ou cada poeta

Nossa ossatura tal e qual

A dos que –hoje – se conclamam deuses

E dizem que são escolhidos

E acham que podem

Com seus dedos de ódio

Brincar de: “uni duni tê o escolhido foi você

Virarão pó e ossos e igualdade

- Enfim -

 

Resta dobrar de encontro ao coração

O estrondo do mundo

Para caber no peito

O quão grande é

E foi tudo

 

A esplendorosa vida

A delicada vida

A orgástica vida

Esta que dançou em minha pele

Nadou no meu sangue

E espera, em paz, meio à natureza,

Que ignora a podridão

 

Lembrar o último beijo

O verso último que brotou ainda agora

Ter a certeza de que ainda faltam séculos 

Para que haja luz lá fora

 

 Bárbara Lia

"Põe a mão em mim, viro água"
Poesia (2021)


Quem desejar este livro (põe a mão em mim, viro água), enviar e-mail para a autora: barbaralia@gmail.com


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Antologia organizada por Rubens Jardim que reúne 328 poetas de todo o Brasil, de épocas, estilos e estados diferentes. Participo com dois poemas. Para adquirir o livro clicar no link abaixo.

http://www.arribacaeditora.com.br/as-mulheres-poetas-na-literatura-brasileira/



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La nave va...

Uma Entrevista na Revista Arte Cítrica n°3

  Na página 94 uma entrevista sobre minha vida de poeta na bela edição da Revista Arte Cítrica nº 3: https://drive.google.com/file/d/1PPTZT6...