Friday, July 15, 2005

sereia alada




A gralha azul lava as asas no tanque de açucenas. O marajá de Yankipur espia os gestos da ave. Possui reinos, mas não possui o vôo. Só o ouro pesa nas mãos - ópio que engana. Admira as asas abertas azuis e pensa:
- Quero teu vôo!
A sereia na pedra sonha serem os negros cabelos - asas, e reclama:
- Não quero a úmida pedra e este canto que enfeitiça os habitantes das naus. Não quero raptá-los à lua, enamorados. - Quero asas!
Entre o marajá e a sereia, a gralha azul voeja e batiza o sonho de um deles com espumas de prata. O marajá olha insolente, mas, volta as costas ao milagre, preso ao peso do ouro, reclama:
- Quero asas!
Sonha raptar a sereia, adornar seu tanque de vidro e águas perfumadas. A sereia sorri e voa para longe das mãos ferinas, feliz por ter, no ritual da tarde, recebido asas azuis de vidro.

Bárbara Lia.
Ilustrado por Ane Fiuza

La nave va...

Um dedo de prosa

  Um Dedo de Prosa é um híbrido entre encontro de ideias, palestra e debate com o escritor, quer seja realizado em salas de aula, biblioteca...