Stalingrado coração - sangue e amputações, cercas de arame com soldados estirados e fuzis cravados ao lado como cruz-metade. Stalingrado coração, esqueletos de casas, nenhuma flor na paisagem, botas rangendo a neve vermelha, silvos, bombardeios, doces lágrimas de adeus. Stalingrado coração, nenhuma alegoria, nada na mesa, nenhum vinho para coroar a noite de amantes, não há amantes. Stalingrado coração repleto de lenços brancos de despedida, repleto de fardas enlameadas, repleto de ausências que ardem em olhos azuis de meninos russos, repletos de saudades lambendo a noite, que não cessa, nem quando o dia arde na neve, que vai ser vermelha, sempre vermelha. Mais uma batalha, mais uma batalha, mais uma batalha, mais um amor que chega para abalar os alicerces, demolir a casa, atirar fogo aos navios, amputar as pernas, tocar uma melodia de canhões, de fuzis engalanados com uma cor vermelha, suástica canina. Esta imortal sanha de nazi, solidão nazista que me segue. Stalingrado coração resiste, para que a solidão não destrua a barreira última e se instale. Solidão vencida, que alguém me conquiste, que este alguém me conquiste, decepe a sede, arranque os alarmes, remova todos os cadáveres, remova a neve devolva vida aos ossos congelados. Stalingrado coração metralhado, rubro, sangra e resiste, e resiste e se prepara, para mais uma batalha, mais uma batalha. Stalingrado coração, por mais que sangre, nunca desiste, como se amar fosse minha pedra de Sisifo.
Bárbara Lia - 31.08.2005