Claude Monet
ESTUDO PARA UM JARDIM DE ANIMAIS TRISTES
“Mas tira essa gente invisível que ronda a minha casa!"
(Federico García Lorca)
Um lobo
Quem
te acompanha à tua porta
em vigílias extremas
faz esperas em teu jardim de bichos e flores tristes
E se enoturna de magnólias
e se cobre de relvas
tomba a sua sombra
em canteiros com sede
Espreita entre madressilvas
e idiomas de pintassilgos.
De tua tristeza em olho d’àgua
faz-se arroio
E se transforma em silêncios e outonos
e se alumbra na tua ausência
e se corta com cacos de teus vitrais?
A selva dos desejos
Quem te iludiu e entrou contigo
na selva dos desejos
na cama azulada de sanhaços
invadiu a nossa casa
e fez noites que se entreolham
em espelhos profundos?
Ressurreição
E me ofertas esta taça de ódio!
E me ofertas esta malícia de delícias!
Sevicias o meu pranto!
E me coroas com o cilício do silêncio!
Mas replantando em teu jardim
semeio canteiros noturnos de jasmins
freio auroras para te admirar na janela.
Tu que não me ouves porque és nuvem.
Tu que não me falas porque sou árvore.
Reencanto
Sou todo outono.
Espero a primavera para que voltes.
Terás virtudes de idades maduras,
terei silêncios de lonjuras para te contar
de juventudes idas em agosto.
O prodígio, a festa
Havia rosas na chuva
sob o portão da nossa casa.
Cascas de arroz pelo chão,
calendários, sermões, letras mortas;
editais pregados nas paredes,
recuerdos, datas e aniversários.
Agora a letra viva
aclama e canta em festa o dia da volta
pródiga, agradece
(Um lobo arisco se afasta
arrastando na boca um pedaço de crepúsculo;
contra o albedo da lua vidra o olho
refletido em cacos de vitrais).
Epitáfio
Em nossa casa rodeiam-nos os vivos
que chegam com palmas e ofertórios.
E eu leio alto com tremuras na voz:
“Porque o amor é forte como a morte
e duro como a lápide”
(Um raio cortado de sol mágico fende a janela,
tu repartes os cabelos da boneca e me acordas com um beijo).
Márcio Davie Claudino
(O sátiro se retirou para um canto escuro e chorou
Imprensa Oficial, 2.007
SEEC - Paraná)