Na época da II Guerra meu pai usava esta barba - este aspecto de bandoleiro tem uma história que dá um livro. Meu Rimbaud!
Flor escandalosa
Meu pai sonhava o deserto
E viveu ao lado do amor
Rimbaud sonhava as areias
Também reinventar o amor
Rimbaud viveu no deserto
Meu pai morreu de amor
O pai surfava o mar de estrelas
Com um teodolito da cor da destemperança
- verde oliva que pende ao amarelo –
Quando eu dormia
Ele soprava poesia
Por cima das minhas cobertas
Rimbaud passava as noites
Regando com nuvens
Minha alma/fogo e a semente
Nasceu esta flor escandalosa
Da cor dos olhos do amor
E do deserto sonhado
Por meu pai e Rimbaud
Meu pai viveu em poesia
Nunca escreveu um verso
Rimbaud desistiu bem cedo
Meu pai sabia; sabia Rimbaud
O vento que vaza a cortina
Traz a voz de ambos, mixada:
Ilumine o verbo!
Incendeie a alma!
Faça de corações desertos
Cactos em flor
Sangue em ebulição
Bárbara Lia
- O rasurado azul de Paris (21 gramas/2010)