Mulher na janela (Cícero Dias)
Igor ficaria menos tempo do que previmos. No máximo uma semana. Uma semana é o tempo de se contar mais de dez vidas, ele disse. Senti alívio verdadeiro ao perceber que ele não ultrajava nosso recanto, nem nossa intimidade. Apenas sacudia o meu desejo de voltar ao vício – fumar.
Como fosse um adivinho, depois do jantar, ele foi fumar no jardim. Vi seu vulto andando para lá e para cá embaixo da mangueira. Atirando o olhar para a natureza em torno, acompanhando o passeio da lua. Vi a suavidade máscula dos traços de seu rosto banhado de lua. Espiei por uma mínima nesga da cortina. Soltei-a rapidamente quando o olhar dele se voltou para a janela do meu quarto. Parei por um minuto feito uma estátua ancorada na parede. Minha respiração alterada.
Bárbara Lia
Constelação de Ossos
(ed. vidráguas /2010)
(ed. vidráguas /2010)
pg 50
Lucia M. Russo
Amei uma mulher com cheiro de céu na altura do coração. No silêncio dos dias, longe dela, eu a lembrava e chorava, chorava repentinamente em qualquer lugar. Bastava lembrar o perfume suave da sua alma e a luz que dela emanava. Era o silencioso Darma a nos enlaçar. Era outra história. Era uma fragrância de outra esfera. Sutil, quase inodora. O céu não tem cheiro de nada. Inodoro. Cheiro de Luz Branca.
Branco!
Branco!
O inferno exala no ar chanel n° 5, forte como farfalhar de sedas vermelhas.
- Chanel n° 5: O cheiro do inferno.
Bárbara Lia
Coreografia do Caos - 21 gramas/2010
publicado no formato ebook no site Germina