Era inevitável: o cheiro das amêndoas amargas lhe lembrava sempre o destino dos amores contrariados.
Havia revistas e jornais velhos em todos os cantos, pilhas de negativos em placas de vidro, móveis quebrados, mas tudo estava preservado da poeira por mãos diligentes. Embora o ar da janela houvesse purificado o ambiente, ainda persistia para quem soubesse identificá-lo o rescaldo morno dos amores sem ventura das amêndoas amargas.
“Não faltará por aqui algum louco de amor que lhe dê a oportunidade um dia destes.” E só ao dizê-lo percebeu que entre os incontáveis suicídios que lembrava, aquele era o primeiro com cianureto que não tinha sido causado por um infortúnio de amor. Algo se alterou então na sua maneira de falar.
- Quando encontrá-lo, preste bem atenção – disse ao praticante: – costumam ter areia no coração.
Gabriel Garcia Marquez in O Amor nos Tempos do Cólera