Wednesday, February 12, 2014

obsessão



A melodia enferrujada atravessa
Alma placebo e a mente devassa
Corda de sisal no poço de tolice
Recolhendo o avesso de Beatrice
Oco soco no vórtice da beleza sã
Hálito de harpia com febre terçã
Expele fumaça inócua de súcubo
Logo esfumaça em nada ao cubo

Barbara Lia


Beatrix by Dante Gabriel Rossetti

geraldo azevedo



Monday, February 10, 2014

dos livros perdidos...

Foto - Rosie Hardy




Há alguns anos a minha amiga Loraine Thais convidou amigos para um piquenique no bosque do MUMA para comemorar seu aniversário. Foi um aniversario poético ao lado dos eucaliptos, com direito a fogueira – que o moço da guarda municipal pediu para que apagássemos – dança do índio ao redor da fogueira, enquanto houve tempo e fogueira. Levei para Loraine um exemplar do meu livro de bolso – O sorriso de Leonardo – que era a publicação que eu tinha naquele ano. Algum tempo depois a Loraine apareceu em casa para um café e disse: - perdi teu livro naquela noite no bosque. Fiquei pensando nele atirado entre as folhas de eucalipto, dissolvendo-se com a chuva e o tempo e pensei e acreditei que nasceria uma árvore de pequeninos – Sorrisos de Leonardo. Algum tempo depois a Loraine foi pra Bahia em férias, eu dei a ela outro livro, e quando ela voltou para outro café, ela disse: - Conheci um moço na Bahia que adorou seu livro, deixei o livro com ele. E eu disse: - E agora, Loraine? Não tenho mais nenhum “sorriso” para te dar... Lembrei desta saga da Loraine com os meus livros de bolso quando abri o e-mail pela manha e os Correios comunicaram que vão pagar a misera indenização de 50,00 por quinze livros artesanais. Quer dizer, não cobre nem o material que comprei. E quem não faz o seguro ou qualquer coisa que prevê um pagamento no caso de perda, dança. Dancei. Mas, o dinheiro e abortar uma parceria a gente supera. Complicado é digerir a duvida. Onde estão meus rebentos? Um livro é um filho... Mas, a burocracia não sabe disto... E estes podem estar em uma sala gelada, se ao menos fosse um bosque de eucaliptos...

Sunday, February 09, 2014

Mulheres, Escritoras e... Paranaenses




Não se mede o Tempo na Literatura como normalmente medimos – os anos da nossa vida – por exemplo, nem como deve ser marcado para o inicio meio e fim de uma plantação de uvas, ou de rosas. A Literatura se contrai e se estende e nada pode ser dito e nada pode ser afirmado com tanta certeza. Digo isto depois de passar dias e dias meditando sobre o momento da Literatura Paranaense, ao ler periódicos e acompanhar as noticias sobre escritores e livros. Enclausurada, sigo escritora. Esta estranha ocupação onde é possível ser, sem viver atrelada a nada. Alias, acredito mesmo que para ser escritor é necessário fazer aquilo que Gonçalo Tavares disse e achei deveras interessante: Seus pais não o interrompem quando ele sai de seu local de trabalho, vai até a cozinha para tomar um café e volta para sua ideia. Ninguém diz nada, as coisas urgentes são comunicadas por bilhetes atirados por baixo da porta. Cara de sorte este Gonçalo, vive a plenitude da Escrita, seu momento de criação respeitado de forma ampla, geral e irrestrita. Sobre estes murmúrios de que não existem Escritoras Paranaenses. Sobre os sussurros que gotejam feito torneira estragada sem interromper nunca a água chata a repetir a mesma nota, tentam via alguns jornais editados por vezes por jornalistas jovens e deslumbrados, tentam afirmar que existe apenas uma possibilidade, um único nome, blá blá  blá. Decidi percorrer os caminhos das mulheres que – como eu – escreveram romances. Sim. Existe um nome que sempre brilha quando falam em escritoras paranaenses: Julia da Costa. Começo com ela, e quando digo que – começo com ela – não significa ler em uma semana um livro, dois ou três. Significa ficar um ou dois anos ao redor de Julia da Costa. Conhecer palmo a palmo, nadar dentro de seus textos. Com Sylvia Plath eu deitei e acordei de 2000 a 2001, com Emily Dickinson de 2009 ao ano de 2010. Uma coisa que amo fazer e que não abro mão. Quando digo, quero conhecer este autor, tento ver tudo que existe dele impresso, depois se existir material de áudio, filme, qualquer coisa... Depois disto eu posso dizer, sim eu li Sylvia Plath. Sim, eu li Emily Dickinson. E, me dedico a isto. Em um verão eu li os volumes grossos da obra completa de Borges. Eu li em espanhol. Passei as férias de verão percorrendo páginas, quando terminei eu não conseguia pensar mais no meu idioma. Pensava como Borges, e amava aquilo. Foi naquele verão que escrevi – Deus no orvalho. Decidi ler as obras das mulheres romancistas. Por viverem em um tempo em que a obra destas autoras se resumia a um livro ou dois, talvez eu não necessite dois anos para aproximar-me de Julia da Costa. Quem sabe neste tempo eu possa conhecer também Didi Caillet. Hoje comecei a pesquisar sobre elas e encontrei um vídeo sobre Didi Caillet. Maravilha! Um mergulho delicioso neste domingo imprescindível quando anjos vieram sussurrar: Não se preocupe com nada, apenas em ser fiel ao seu destino e ao que estava programado desde o inicio - Escrever. Viver para deixar uma obra na esquina do mundo. A maçã deixada na curva de um caminho. Foi Gonçalo Tavares que falou sobre esta sua paixão pelos escritores, e  a razão dele dialogar com tantos autores. Ele acredita que deve algo aos que vieram antes e quer deixar algo aos que vierem depois. Lindo isto. Eles vieram antes, para que os futuros autores soubessem seus passos, se a carruagem de seus destinos virou a esquerda ou a direita, cada um deixou uma maçã(o fruto do conhecimento) na curva do caminho. Vou procurar as esquinas do antes, e conhecer as mulheres que escreveram antes de mim, para completar o ciclo e aprender com elas.
Na minha casa eu ouvia sem cessar os poemas de Maria Cândida de Jesus Camargo (irmã da minha bisavó) e Eleonora de Angelis (irmã da minha avó), este manancial de poesia feminina do final do século XIX e inicio do século XX. Minha raiz mais pura.

103 anos de Elisabeth Bishop




O Mapa


Terra entre águas, sombreada de verde.
sombras, talvez rasos, lhe traçam o contorno,
uma linha de recifes, algas como adorno,
riscando o azul singelo com seu verde.
Ou a terra avança sobre o mar e o levanta
e abarca, sem bulir suas águas lentas?
Ao longo das praias pardacentas
será que a terra puxa o mar e o levanta?

A sombra da Terra Nova jaz imóvel.
O Labrador é amarelo, onde o esquimó sonhador
o untou de óleo. Afagamos essas belas baías,
em vitrines, como se fossem florir, ou como se
para servir de aquário a peixes invisíveis.
Os nomes dos portos se espraiam pelo mar,
os nomes das cidades sobem as serras vizinhas
— aqui o impressor experimentou um sentimento semelhante
ao da emoção ultrapassando demais a sua causa.
As penínsulas pegam a água entre polegar e indicador
como mulheres apalpando pano antes de comprar.

As águas mapeadas são mais tranquilas que a terra,
e lhe emprestam sua forma ondulada:
a lebre da Noruega corre para o sul, afobada,
perfis investigam o mar, onde há terra.
É compulsório, ou os países escolhem as suas cores?
— As mais condizentes com a nação ou as águas nacionais.
Topografia é imparcial; norte e oeste são iguais.
Mais sutis que as do historiador são do cartógrafo as cores.

Elisabeth Bishop
traduçao Paulo Henriques Britto



Friday, February 07, 2014

Dez anos depois...





No dia 15 de dezembro de 2004 – dia do nascimento do poetaço Marcos Prado – meu primeiro livro de poesia foi lançado. Para comemorar dez anos de uma pequena odisseia de livros em prosa e verso, em 2014 vou publicar um livro de Poesia. Tenho poemas inéditos em livro para este que será meu sétimo livro de Poesia. Foi a forma que encontrei para comemorar uma década especialmente feliz na minha vida.

Aguardem!

Revista Lasanha Literata

http://www.revistalasanha.com.br/

Maicknuclear voltou a editar a Revista Lasanha. Uma saudade. Bons tempos de volta.
De lamber os textos...
Nesta edição um poema meu do livro Noir (2006)

Bon appetit!








Promoção Penalux


Repassando a promoção da Editora Penalux:

(Meu livro de contos - PARAÍSOS DE PEDRA - custa R$-30,00 + remessa. Quem entrar nesta promoção de fevereiro recebe um livro de brinde).



PROMOÇÃO 
"Bem-vindo, 2014!" A Editora Penalux adora promoções com livros como brinde, pois queremos ver nossas publicações circulando e encontrando leitores. É com este propósito que anunciamos mais uma oportunidade de comprar nossos livros e levar de presente um título-surpresa*. Dessa vez, porém, o leitor poderá escolher o gênero, ficando a critério da editora apenas a escolha do título (assim podemos remanejar nosso estoque e segurar a promoção por mais tempo). A validade desta promoção vai até o dia 28 de fevereiro. Em resumo: comprando qualquer título na nossa loja ou através do nosso e-mail comercial (vendas@editorapenalux.com.br), o leitor levará de brinde um título-surpresa no gênero que escolher: poesia, contos, crônicas, micronarrativas, romance e acadêmico.


* O livro-brinde diz respeito a apenas 1 unidade por comprador. 

Poesia - Curitiba

Tradicional troca de livros. No domingo voltei para casa com o novo livro do Alvaro Posselt: Um lugar chamado instante. E o livro - Gume de Gueixa - de Jandira Zanchi:



O poeta é brando
Trabalha, arma uma batalha
quando está sonhando

Alvaro Posselt 
Um lugar chamado instante
Blanche Ediçoes
p. 15







***



UMBIGO

fumava fumaças
de charutos rútilos
desejava desvios
de prantos e pratas
nádegas de defuntos

esquálida e vibrante
essa face nódoa
amante do umbigo

fertilizadora de silêncios.

www.editorapatua.com.br
Livro: Gume de Gueixa
Autor: Jandira Zanchi




Wednesday, February 05, 2014

Sarau das Meninas que Escrevem em Curitiba - algumas imagens

Alexandra Barcellos e Andreia Carvalho Gavita

Kely Kachimareck

Fran Ferreira

Iriene Borges

Mari Quarentei


Kely Kachimarek e Barbara Lia

Mirian Adelman

Prisca Merizzio

Jandira Zanchi

   Maria Cecilia Coutinho



  1 º Sarau das Meninas que Escrevem em Curitiba. Organizado por Alexandra Barcellos e Andréia Carvalho, algumas imagens. As fotos são de Kely Kachimareck. No momento da leitura da Kely que foi minha parceira de palco, Maria Cecília clicou a imagem. Bela tarde de Poesia no "Dona Doida Restobar" com varal de poesia, performances e um prato especial criado pela chef da casa - Aline Tomaz - uma salada deliciosa que recebeu no cardápio o propicio nome - Inspiração.

Domingo a Fran Ferreira raptou-me para a tarde de Poesia, por conta de livros por concluir que estão parados e necessitando meus cuidados, e por esta dor no meu pé direito que faz com que eu acabe adiando sempre algum passeio ou evento, decidi ficar de fora deste grupo que reúne mulheres que vivem em Curitiba e se dedicam a escrita. Neste primeiro sarau, no entanto, eu acabei entrando de penetra neste novo movimento, grupo, momento revolucionário... 
Uma mulher sozinha já e uma revolução, imagine oitenta. 
Para saber mais sobre o grupo - meninas que escrevem em Curitiba - falar com Andréia Carvalho Gavita, editora do site Mallarmargens ou com Alexandra Barcellos. 

Ricardo Pozzo!




*todas as imagens do video do poeta e fotografo Ricardo Pozzo:

"Galeria de Urbe Fágica"
http://www.flickr.com/photos/38658058...
photo by Ricardo Pozzo (Curitiba - PR)

Tuesday, February 04, 2014

10 anos sem Hilda Hilst



Sempre irreverente. Intensidade e Poesia para narrar tanto o sagrado quanto o profano. Eu gostaria de dizer o que ela me significa, mas, quando algo/alguém me encanta, eu fico muda, contemplativa, em uma especie de felicidade por poder tocar a Beleza. Gracias, Hilda. Tua Poesia arrebatou-me para todo o sempre. 





PRELÚDIOS-INTENSOS PARA OS DESMEMORIADOS DO AMOR.

Hilda Hilst



I

Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.



II

Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.


Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.

Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.

(...)

[Júbilo memória noviciado da paixão (1974)]


Monday, January 27, 2014

o alfabeto dos flamingos e a semente do sol





Procurava o rastro do gafanhoto no fio da toalha. 
A casa da libélula embaixo do travesseiro. 
Procurava na Biblioteca o livro com o alfabeto dos flamingos. 
Procurava no amante ruivo a semente do sol. 
Procurava. 
Procurava. 


Bárbara Lia

Sunday, January 26, 2014

Novidades - 2014 - A Poesia Nossa de Cada Dia, + Antologias

Boa notícia da Confraria Do Vento: já está em elaboração uma edição revista e ampliada do livro "O que é poesia?". Aguardem. 





Ainda neste semestre o lançamento da Antologia - Poetas Paranaenses - Editada pela Biblioteca Publica do Parana. Ademir Demarchi, organizador da antologia, reuniu 101 poetas, em 160 anos do Estado do PR 
Uma entrevista de Ademir no link abaixo:




Noticia de duas antologias e o ano nem ultrapassa janeiro... Salve! Salve! Poesia, sempre.


Saturday, January 25, 2014

Musas de Acetileno


imagem - gosia janik

Um céu / sem estrelas e sem pai: uma água negra
Sylvia Plath


O céu água negra de Plath
Pleno de alegorias fatídicas
Bebês carbonizados e Medusas
Ovelhas de neve na névoa
A balir para a enigmática lua - 
Blasé - com seu capuz de osso

Bárbara Lia

Tuesday, January 14, 2014

O caminho para ""Paraísos"







"Paraísos de Pedra é um livro de memórias da infância e da juventude. São textos curtos em que a escritora Bárbara Lia registra as lembranças de sua meninice em Peabiru e algumas vivências em Curitiba, onde mora hoje. O tom, na maior parte dos contos, é de conversa, de intimidade. Peabiru – e dentro dela, as casas onde a menina Barbara viveu – é um lugar comum, mas mágico para a criança que descobre o mundo."


Ano passado “Paraísos de Pedra” - editado pela Penalux - foi minha estréia em narrativas curtas. Quando penso sobre a publicação de outro livro de contos tudo fica nublado, ou melhor, branco. Dificilmente escrevo contos, mas, por algum tempo eu fiz viagens e viagens a um tempo bem feliz, minha vida em Peabiru dos seis aos quinze anos. Sempre quis registrar a minha odisséia infantil, os meus dias de menina, em uma espécie de homenagem aos meus pais e também a cidade de Peabiru, que eu amo.
Quem desejar o livro, ele se encontra a venda no site da editora: 

Friday, January 03, 2014

Inaugurando 2014



Casa de areia com vista para Aldebaran





Há algo de intransferível no poeta.
Ao homem comum não custa muito mudar os hábitos, mudar de mulher, 
mudar de casa, trocar de carro, de corte de cabelo, de loção.
O poeta não pode mudar seus hábitos.
Segue Universo sem fragmento.
Não pode cortar nada, amputar-se, diluir.
Os homens comuns levam uma vida assim:
Terno, família, futebol, financiamento, férias.
O poeta leva uma vida distinta, plena de diálogos interiores:
- A flor amarela cresceu um pouco mais e segue agarrada ao muro.
- Há dois dias não ouço aquele pássaro que lembra Gardel.
- Morro de pena dos anjos, pois sei que eles nunca dormem.
- Voltei a pensar em Chopin noite e dia e em sua dor de tísico em Nohant... Na dor de perder a amada: aquela mulher-areia - Sand. Aquela que lhe concedeu uma filha emprestada e paraísos de orvalho. Os homens fogem do amor, e com razão...  Quem decifra estes corações com asas? E apenas as mulheres com asas nas artérias seguem inesquecíveis... Chopin que o diga.
Em dias de dor insuportável o poeta pensa: - Ah! Quem dera uma vida morna, um terno lindo, reuniões plenas de gráficos e cafezinhos.
Mal seca as lagrimas, continua assim:

Casa de areia com vista para Aldebaran.

Bárbara Lia

O desencanto mata os centauros brancos...



Terminou de soar na relva a foice do crepúsculo...
Eu sinto hoje uma vontade louca
De mijar, da janela, para a lua. 

Sierguiéi Iessiênin



O desencanto mata os centauros brancos
Quem antes deblaterava contra o negror
Morre branco de dor no Hotel Inglaterra

O desencanto raspa a tintura do poema
Rasga peles à carne viva
Mata meninos na flor da bonança

Os homens desde os Césares até Bush
Os homens desde a antiga Babilônia até USA
Os homens desde a primeira fala até o último ditador
Vestem o desencanto como luva

E havia nele tanto amor!
Morrer não é difícil – ele disse -
Difícil é o ofício de ressuscitar a esperança
Respiração boca a boca em todas as manhãs

Lá vai o menino pelos campos
Infância a caminhar em tábuas rústicas
Molha a lua com seu xixi audacioso

Lá vai o menino pelas ruas
O verso na boca
O coração aos saltos

Em Moscou ama Isadora meio à fumaça
Do "Cão Vadio". Maiakovski, a poesia, a luta
A neve diabolicamente alva de dezembro
A colorir-se de rubra dor
Na parede a mensagem escrita a sangue

Viver é difícil, sim, viver é
Este é teu canto real
Ao qual nenhum poeta escapa
Bárbara Lia

* depois das poesias para as - musas de acetileno - escrevi algumas para os poetas suicidas como Hart Crane e o belo Iessienin... 

Tuesday, December 31, 2013

Poema de fim de ano


    Imagem by  Rosie Hardy





NIZAR QABBÁNI (sírio, 1923-1995)


QUE TODO ANO VOCÊ SEJA A MINHA AMADA



Que todo ano você seja a minha amada. (1)
Digo com simplicidade de
reza de criança antes de dormir,
ou o descanso, na espiga de trigo, de um passarinho.
No vestido branco, mais uma flor,
nas águas dos olhos, mais um navio a esperar.
Digo com calor e ira de
pés batendo o chão – dançarino espanhol –,
mil círculos a formar
em torno da terra.
Que todo ano você seja a minha amada.
Sete palavras, embrulho com laço:
meu presente de ano novo.
Os cartões não dizem o meu querer;
todos os desenhos que contêm,
(velas, sinos, árvores, bolas de neve,
crianças, anjos) - nada disso me convém:
não me agradam os cartões prontos
nem os poemas prontos
nem os votos para exportação,
feitos em Paris, Londres e Amesterdã,
escritos em francês ou inglês
servindo a toda ocasião.
Mas você não é mulher de ocasião;
é a mulher que amo,
a dor diária
que não se escreve em cartões,
que não se diz em letras latinas
e nem por correspondência.
Quando chega a meia-noite,
você, peixe, penetra na minha água cálida, se banha,
minha boca explora florestas ciganas, o seu cabelo,
e fica por lá.
Porque amo você,
o ano novo, rei que chega;
e porque amo você, carrego
permissão especial de Deus
para passar entre mil estrelas.
Este ano, não vamos comprar árvore:
Você será a árvore,
e sobre você vou dispor
meus desejos e orações,
minhas lágrimas, lampiões.
Que todo ano você seja a minha amada.
Desejo que temo
para não ser acusado de ambição e pretensão,
idéia que temo alguém a roube
e alegue ser o inventor da poesia.
Que todo ano você seja a minha amada.
Que todos os anos eu seja o seu amado.
Desejo fora do merecido,
sonho além do permitido,
mas quem tem o direito de censurar-me por meus sonhos?
Quem censura ao pobre o sentar-se no trono
por cinco minutos? – um sonho.
Quem censura ao deserto
querer um riacho? um desejo.
Em três casos o sonho é legal.
Caso de loucura,
caso de poesia
e o caso de conhecer uma mulher
estonteante como você.
Eu – felizmente – sofro dos três.
Deixe a sua tribo,
siga-me até as minhas cavernas,
largue o chapéu de papel,
a desajeitada melodia
e a fantasia.
Sente-se comigo na sombra – anestesia:
A poesia tem véu azul;
O meu manto protege-a das chuvas de Beirute.
Tenho vinho tinto, das adegas dos monges. Eu lhe oferecerei.
Prepararei um prato espanhol, de frutos do mar.
Siga-me, minha senhora, para os descaminhos dos sonhos:
Eu lhe mostrarei poemas nunca dantes lidos,
destrancarei baús de lágrimas nunca dantes abertos,
amarei você como nunca amei antes.
Quando chegar a meia-noite
e a terra desequilibrar-se,
quando os dançarinos começarem a pensar com os pés,
retirarei-me para dentro de mim
e levarei você comigo.
Não é mulher pertencente à alegria
comum, você.
E nem ao tempo comum
e nem ao grande circo que passa
nem aos tambores pagãos que tocam,
tampouco às máscaras de papel.
Finda a noite, sobram só
homens de papel e mulheres de papel.
Ah, se fosse do meu alcance,
minha senhora,
construiria um ano só para você
poder recortar os seus dias como quiser,
em sua semana apoiar as costas como quiser,
tomar sol e se banhar,
nas areias dos meses, correr como quiser.
Ah, minha senhora,
se fosse do meu alcance
ergueria uma capital para você
na zona temporal
que não seguisse o relógio solar
nem o areial.
O tempo real só começaria a contar
quando sua mão pequenina fizesse
a sesta dentro da minha.
Que todo ano os seus olhos permaneçam
ícones bizantinos;
seus seios, loiras crianças na neve a brincar.
Que todo ano eu esteja enredado em você,
acusado por amar
como acusam o céu por viajar
e o lábio, por arredondar-se.
Que todo ano eu seja atingido por seu terremoto,
encharcado por suas águas
e tisnado feito vaso chinês
pela geografia de seu corpo.
Que todo ano você... não sei como dizer:
seus nomes, você escolhe,
como o ponto escolhe o seu lugar na linha,
como o pente escolhe o seu lugar nas dobras de seu cabelo.
Apenas, permita-me chamá-la:
“minha amada”.



(1) Um jogo de palavras a partir da expressão árabe equivalente a “Que todo ano e você esteja bem”, usada em  saudações festivas, especialmente na passagem do ano.

Traduçao - Michel Sleiman, integrou o recital de Poesia Arabe em 2006.

Saturday, December 14, 2013

G Ideias _ 7 Poetas Paranaenses

Ilustração: Felipe Lima



Linda ilustração dialogando com minha poesia _ Algo a respirar nas casas naufragadas _ que está no G Ideias deste sábado. Poema inédito que vai figurar em um próximo livro que devo organizar em 2014. 
Os poetas paranaenses deste belo encarte editado por Marleth Silva:
Rodrigo Garcia Lopes
Glória Kirinus
Marcos Losnak
Karen Debértolis
José Marins
Bárbara Lia
Adriano Scandolara

Sábado com Poesia, basta clicar no link:
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1433149&tit=A-producao-dos-poetas-paranaenses#barbara


A imagem que inspirou  _ Algo a respirar nas casas naufragadas:



http://www.vus.com.br/projects/italo-calvino/

Ilustração de uma passagem do livro Cidades Invisíveis de Italo Calvino

La nave va...

Livros de Bárbara Lia na Amazon (plataforma kindle) - baixar gratuitamente até 12/12/2025

Layla vive na região do Algarve. Uma garota como outras mil. Por uma perda na infância, jurou jamais amar. Impossível. O primeiro amor – Lou...