Friday, December 17, 2021

Soledad - Bárbara Lia

 



Soledad

Vi em um filme de Bruno Barreto
Elizabeth Bishop e Robert Lowell
A passear pelo Central Park entre
Risos e passos lerdos de poetas
Ela disse ao seu amigo: eu devo ser
A mulher mais solitária do mundo -
Isto deve constar no meu epitáfio
Elizabeth, eu te apresento minha vida:
Longas noites nesta cama desabitada
Manhãs tomando café com pássaros
Tétrico corredor de sombra única
Um prato e um copo à mesa do jantar
Mesa redonda, cadeira fria e escura
Horrível trono de rainha viúva
Minha solidão é de extremada textura
De quem vive a arranhar a carnadura
Da odiosa palavra - Não
Posto que, diferente de ti, eu nunca vi
O luar de Ouro Preto ao lado do amor
Nem recebi - de mão beijada -
Uma casa serrana diante do infinito
Nem ninguém atravessou o oceano
Para morrer ancorado em meu corpo
Dito isto fica combinado então:
Mudarei meu nome para – Soledad
Nem sempre fui Bárbara na vida
Com certeza sempre fui solidão

Bárbara Lia
L'amour me ravage
Poesia (2019)
Carnavalhame - 3ª edição

Friday, November 19, 2021

O Romance "Arrependimento" na Revista Trajanos





Texto de Bárbara Martins para a Revista Trajanos, clique no link abaixo para ler. 

"Arrependimento" é um livro que tem como cenário Paranaguá, esta cidade sempre presente em minhas narrativas. É mistério até para mim, atualmente é Guaraqueçaba que se apresenta como um dos cenários de um romance que escrevo. 

Gracias, Bárbara Martins. Amei suas palavras.

https://revistatrajanos.wixsite.com/trajanos/post/arrependimento-livro-de-b%C3%A1rbara-lia



Saturday, November 06, 2021

Adeus Karuguá - Bárbara Lia

 

 (Matéria para o Site - Vejo São José. Em 2006 atuei como jornalista cobrindo a COP8. Quinze anos passados e segue tudo como era dantes no quartel de Abrantes. Greta Thunberg era praticamente um bebê em 2006).


Ampulheta colocada no hall de entrada do Expotrade Convention Center pelos integrantes do Programa do GreenPeace (Kids for Forest). Dentro, os animais se transformando em dinheiro e o pedido para que virassem a ampulheta ao contrário.

 


A MOP3 começou com uma recepção no Memorial de Curitiba – Largo da Ordem. Três semanas depois, as delegações, ONG’s, jornalistas, Ministros de Estado e até mesmo o Presidente da República deram sua contribuição para colorir Curitiba das cores da Terra e da Esperança. Na manhã deste sábado (1º de abril) aconteceu a última reunião. O futuro da Terra, em sua essência mais complexa, foi discutido e dissecado. Ao final, ao que parece, tudo segue sem merecer o devido cuidado e a primordial atenção. Por mais que os integrantes da Convenção, na figura do seu secretário Ahmed Djoglaf faça uma avaliação positiva, ressaltando que houve um grande entendimento e muita sintonia entre os Ministros de Estado presentes, não há muito a comemorar. Ahmed enfatizou a presença de quatrocentos jornalistas, ainda assim, ao menos para esta observadora, o momento merecia muito mais atenção da grande mídia, da população, que se escora em divagações quando questionada sobre o tema. Ouvi de uma pessoa: até lá já morri. Ouvi isto quando comentei sobre a conclusão dos mil e trezentos cientistas que responderam ao pedido da ONU e fizeram um relatório sobre a saúde do planeta. Eles colocaram a possibilidade de dentro de trinta anos o planeta entrar em convulsão, caso nada seja feito a respeito da questão do meio ambiente. Então, quando alguém te responde com esta lacônica previsão "Até lá eu já morri", percebe-se a dificuldade que irão encontrar governos, ONGs, ambientalistas e qualquer um que pense o futuro das espécies e a saúde da Terra: a inércia.

 



Durante alguns dias este ônibus decorado com borboletas nos levava ao MOP/COP – A biodiversidade está na gente – escrito em dois idiomas.

 

Na primeira semana o tema girava em torno de duas sentenças: “contém”, e “pode conter” os chamados transgênicos, ou organismos vivos modificados. O debate sobre os alimentos transgênicos foi longo. A máquina que usei para fotografar estava com a data errada, quiçá em 2.023 borboletas reais circundem os ônibus e comemorem outra mentalidade. A questão da MOP3 levou o Governador Roberto Requião a dizer em um dos seus pronunciamentos “O eufemismo falso do – pode conter- se transportado para um programa de governo, por exemplo, comportaria a dedução de que o programa de governo pudesse ser rotulado como - pode conter interesses contra a Ecologia”.

Do lado de fora da Expotrade, em tendas brancas, acontecia paralelamente o Fórum Global da Sociedade Civil, que teve a participação da Ministra Marina Silva e do Governador Requião na abertura do Fórum.  O evento reuniu ONGs, Nações Indígenas e integrantes da Via Campesina.

A MOP3 teve avanços na negociação da rotulação definitiva do termo “contém”, muito embora esta prática só entre em vigor em 2.012. Segundo Marina Silva “O protocolo de Cartagena é cumulativo e o que fizemos aqui foi colocar o “contém” na ordem do dia, nos países que são parte do Protocolo”.

Ao final da MOP o Governador do Paraná – Roberto Requião – tomou à frente e assinou um decreto onde, a partir de agora, os produtos paranaenses vão receber o selo “contém OVM’s - Organismos vivos modificados”, atitude elogiada pela Ministra e por vários integrantes do evento.

Finda a MOP3, a Convenção da Biodiversidade teve início com a chegada à Curitiba de várias etnias, fazendo do Centro de Convenção um lugar onde desfilavam os trajes típicos de várias nações e os povos indígenas de sessenta países presentes. No pátio realizavam cerimônias, diante das ocas montadas, atraindo os visitantes.

 



Cavalhadas

 

Em três noites, durante a COP8, aconteceu uma encenação com mais de mil integrantes, do grupo – Ordem dos Cavalheiros – da cidade de Guarapuava (PR), interpretando o espetáculo conhecido como “Cavalhadas”, reproduzindo lutas da Idade Média.

Durante a COP8 a taxa de ocupação hoteleira em Curitiba alcançou a taxa de 70%, contra 30% no mês período no ano de 2.005.

Dentro, as negociações giravam em torno de temas importantes como a questão da repartição de benefícios e acesso a recursos tradicionais, e a utilização ou não das Terminators.

O Fórum Internacional Indígena sobre Biodiversidade (FIIB) fez críticas aos resultados no último dia do evento - a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8). Segundo os participantes do Fórum “não avançou na construção de um regulamento internacional para o acesso a recursos genéticos e conhecimentos tradicionais”. Os indígenas esperavam a criação de um sistema de regras mundiais para as pesquisas com plantas e animais, que, segundo eles, se apropriam do saber dos indígenas, quilombolas e extrativistas. Fóruns indígenas anteriores e também a Declaração Internacional de Cancún dos Povos Indígenas, já demonstrava a preocupação dos povos indígenas com esta questão da distribuição de benefícios. Na Quinta Conferência Ministerial da OMC em Cancún em setembro de 2.003. A proposta do Fórum é que haja mecanismos de repartição dos lucros e tecnologia com as comunidades locais. Os povos indígenas dão o nome de Biocolonialismo a esta decisão dos governos agir sobre as suas milenares práticas que começaram a atrair a atenção do homem branco. Segundo o Conselho dos povos indígenas a ênfase na “distribuição de benefícios” tem o efeito de promover ao invés de prevenir, a comercialização dos recursos genéticos. Ainda que a distribuição de benefícios ajude mais os povos indígenas que a biopirataria, apresenta iguais e sérios riscos. Segundo este conselho as vozes dos povos indígenas em todo o mundo estão a questionar a engenharia genética, denunciando os atos de biopirataria e reivindicando os direitos a proteger as comunidades e o meio ambiente contra os depredadores da genes. As iniciativas e forma de vida dos povos indígenas continuará demonstrando ser uma alternativa em uma era de globalização que trata de monopolizar e comercializar todos os recursos da vida.

Para os participantes do Fórum Indígena, o único avanço da COP8 foi manter a proibição absoluta (estabelecida em 2000) para pesquisas com tecnologias genéticas de restrição de uso da Tecnologia Terminator – que diz respeito a plantas que foram geneticamente modificadas para produzir sementes estéreis na colheita, através de mecanismo molecular induzido. Desenvolvida pela indústria multinacional de sementes/agroquímicos e o governo dos Estados Unidos para evitar que agricultores guardem e replantem sementes colhidas que foram desenvolvidas pelas corporações de biotecnologia e de sementes.

O Greenpeace avaliou a COP8 como um fracasso. E a falta de avanço, segundo a organização, compromete seriamente as metas definidas pela própria Convenção de reduzir a perda de Biodiversidade até 2010. O adiamento da lei sobre Repartição de Benefícios segundo Paulo Adário, coordenador da campanha Amazônia do Greenpeace, ganhou-se tempo para que a indústria farmacêutica, especialmente dos Estados Unidos, etiquetasse e colocasse a biodiversidade em código de barras.

A discussão sobre o papel da conferência em identificação de reservas marinhas em alto-mar não avançou.

Em resumo, a COP8 como avanço pode comemorar apenas a permanência da proibição do uso das Tecnologias de Restrição de Uso Genético – GURT’s, ou Terminator.

Este tema relativo aos Terminator entrou no tema da convenção este ano. Este e outros temas terem entrado na agenda é visto como um avanço na luta contra a perda da biodiversidade. Pelo Brasil foi trazida a iniciativa de mapear as espécies de animais e plantas exóticas invasoras. Segundo a ONU, tais espécies dão um prejuízo de US$ 1,4 trilhão, sendo a primeira causa de redução de biodiversidade em ilhas e a segunda nas demais regiões do mundo. Entre os invasores estão arbustos, aves, peixes, répteis, e vírus exóticos.

Em 2008, na Alemanha, a COP9 terá como pauta uma gama enorme de pendências, a dois anos da meta estabelecida para que se reduza a perda da Biodiversidade no Planeta.

Certa vez eu escrevi que as ONGs e os Médicos sem Fronteira e os membros do Greenpeace eram os poetas do Terceiro Milênio. Nada poderá ser narrado se a Terra estiver ressequida e nua.

Os povos da floresta parecem ser os únicos que tem noção da importância do precioso vínculo com a Mãe Terra, e eles, até mesmo eles são parte desta extinção vagarosa e estranha, e o homem branco, globalizado, com um código de barras na alma talvez não compreenda o que Marcos Terena disse:

– Posso ser quem você é sem deixar de ser quem sou.

Considerando a luta em todo o mundo, incansável e sem trégua, o feito de muitos integrantes que acabam presos em manifestações que buscam alertar os homens. A minha pequena passagem pela MOP/COP fez com que eu me lembrasse de um poema que fiz em 1.999 para esta organização, que se denominava, no início – Guerreiros do Arco-Íris.

 

 


GUERREIROS DO ARCO-ÍRIS

 

 

Quando secarem as fontes

E a terra estiver ressequida e nua

O mundo se lembrará dos guerreiros do arco-íris

 

Quando o verde desaparecer

E o último pássaro migrar

Em busca

Da última folha

Da última árvore

Da última floresta

A humanidade saberá

E – tarde demais - acordará

 

 

 

 

Karuguá – em guarani significa Arco-Íris.

As informações sobre o Fórum Indígena em Cancun, em 2.003, foram retiradas do livro – Guerra de Paradigmas – Resistência de Los Pueblos Indígenas a la Globalización Econômica – editado por Jerry Mander y Victoria Tauli Corpuz.

 

A data da minha câmera estava errada com data de 2023. Coisas de poetas que não sabem lidar com câmeras, celulares, computadores.


 #COP8

#memories2006

#barbaralia

Tuesday, October 12, 2021

poema















a filha de Leonard Cohen 

se chama Lorca

Bob Dylan emprestou 

um dos nomes de Dylan Thomas

há um emaranhado 

de galhos e flores na criação

os deuses a chamam: árvore da eternidade

ela é nutrida 

por palavras de homens e mulheres

que ousaram se emaranhar 

de um modo atemporal

para ser poeta em tempos vários

e o - ser poeta - é sempre igual


Bárbara Lia

Sunday, October 10, 2021

eu poderia escrever um poema agora - Bárbara Lia



eu poderia escrever um poema agora
neste dia que inaugura o ano
que não era para existir
eu poderia escrever um poema agora
enquanto a chuva grossa lembra
como são esparsas as horas de alegria
alegrias são feito esta chuva
ela cai em uma telha e pula outra
e cai na outra e pula mais uma
eu poderia escrever um poema agora
neste dia que inaugura o ano
que não era para existir

Bárbara Lia/01.01.2013


(quando o apocalipse Maia falhou escrevi no primeiro dia de 2013)

Friday, October 01, 2021

Em Marte Sem Passaporte: três gerações em poesia





"Em Marte Sem Passaporte"
Bárbara Lia / Thomas Gabriel
Poesia
40 páginas

Um livro com poemas meus e do meu filho Thomas (escritos há quase vinte anos, quando ele tinha 13 anos). A capa do livro é um desenho do meu neto Arthur.

Os poemas do meu filho Thomas Gabriel ele escreveu aos 13 anos quando participou da oficina Sarah Sal do poeta Fernando Karl (in memoriam).
Os meus poemas falam das quatro estações e encerra com um poema longo inédito (Contra a morte da luz) que faz uma referência ao poema de Dylan Thomas "Do not go gentle into that good night".


 

Thursday, September 09, 2021

L' amour me ravage - Bárbara Lia (Dica de Leitura)

Dica de Leitura de Francine Cruz em seu canal - Senhora Literatura.
Amei!
Gracias, Francine. 

Monday, July 26, 2021

Entrevista - Paraná Imprensa




Ontem foi dia do escritor e saiu na edição do Paraná Imprensa esta entrevista que concedi para a poeta Isabel Furini. Notícias em tempos pandêmicos. A Poesia segue...

https://www.paranaimprensa.com.br/2021/07/isabel-furini-entrevista-premiada-poeta.html

Monday, July 05, 2021

Um poema para Alejandra Pizarnik

 

 


"Ser poeta é ser visitante de um litoral distante até morrer."

Holldór Laxness 

 

 

 

Sonhei com Alejandra Pizarnik

Ela vestia um pulôver

- Cor crepúsculo fosco –

Pantalonas da mesma cor

Uma malha branca

Alvíssima

(Contraste perfeito)

Ela veio a mim

Saída de uma névoa clara

Linda e lenta

Em quase dança

Olhou-me com seus olhos

Grandes, eternos

- Duas amêndoas orvalhadas -

Meio a um sorriso delicado

Sussurrou:

 

Creo que mi soledad

Debería tener alas”

 

Com leveza de pássaro

Deu meia volta e saiu

A bruma a engoliu

E ninguém

Nunca mais a viu


Bárbara Lia

 

Saturday, June 26, 2021

Leonard Cohen "So Long, Marianne" (Legendado)

Diálogo poético com Leonard Cohen *e outros poetas amados*

https://www.youtube.com/watch?v=wyVicmarzUA



Três poemas de Bárbara Lia



Não pretendo sugerir que fui quem mais te amou
Não posso controlar o destino de cada pássaro caído
Lembro-me bem de você no Hotel Chelsea
Então é isso, nem penso em você com tanta frequência

Leonardo Cohen (fragmento da canção Chelsea Hotel)

 

 

o mar é meu

disse Ariadne

e adormeceu

nunca sofreu

pelo abandono

de Teseu

ou de todo

e qualquer menino

a todos:

adeus, adeus...



o mar é meu

pensou Ariadne

sua dança atiça

estrelas cálidas

entre as coxas



o mar é meu

e lambo as conchas

como Janis Joplin

lambia o sexo

de Leonard Cohen

no Chelsea Hotel



o mar é meu labirinto

absinto

vidro moído no coração

som & fúria

insubmisso

com mil caprichos



- o mar é meu

 



---




e ela rezou baixinho a Leonard Cohen

 

 

ela não acreditava mais
no amor e na flor
mas o amor acreditava
nela
na beleza do imponderável
ela não acreditava
em mais nada
temia a pétala aguda
lança que caiu no coração
 com o nome dele cravado ali
o olhar belíssimo - pétala lança
a voz pétala uma lança
a flor em lança
e a beleza
e tudo ela atirou longe
arrancou do peito
aquela primavera mais atrevida
querendo morar em sua vida
ela não acreditava mais
no amor
na flor 
na primavera
e quando detonou tudo
com chuvas de dez anos
em uma única tarde
arrependeu-se

chorou
mãos em conchas

no rosto antigo
e pensou em prece
e por crer apenas na poesia
e no amor dos poetas
rezou baixinho a Leonard Cohen


que ele me ame como você amou Marianne 
que ele me ame como você amou Marianne 
que ele me ame como você amou Marianne 


e assim repetiu
até adormecer



---



And if you want another kind of love

I'll wear a mask for you

Leonard Cohen

 

 

 

 

não cessa este canto de areia

ampulheta lerda a lembrar

esta lonjura até os teus poentes

nossa revolução desesperançada

nos leva a erguer o esqueleto a cada dia

para caminhar silente em uma estrela fria

a mastigar versos raros de amigos caros

mariposas de Neruda e Ave Nave de Hilda

lua de Lorca e rebanhos de Caeiro

as estradas de Kerouac nos levam

ao Cabaret Verde de Rimbaud

só em Pasárgada faremos amor

ao som de - I’m your man –

é vital que a voz seja de Cohen

tecerei uma blusa amarela qual de Maiakovski

pra te enlear em um eterno entardecer

e a luva de pelica de Ana C.?

esta eu calçarei para tocar você



Bárbara Lia

Poeta e Escritora Brasileira



Leonard Cohen

Poeta, Escritor, Cantor e Compositor Canadense





Bárbara Lia 
Fotografia - Daniel Castellano
Arte da fotografia - Lua Palasadany













Leonard Cohen
Imagem by - The Guardian


La nave va...

Presenteie Livros

  Presenteie Livros no Natal. Tenho – ainda - alguns exemplares de dois romances premiados: “As filhas de Manuela” – Romance – Menção Honros...