Thursday, October 04, 2012

o extracéu







Ontem, no extracéu, tomamos chá de anis
diante de um poente branco.
No extracéu não há noites e pássaros pousam
em nossa janela, enquanto tecemos mantos.
Você sorri, mais do que agora, e estrelas
fogem do céu-matéria para matarem a saudade
do teu belo riso italiano.
Vez ou outra congelamos uma estrela fugidia
e a colocamos na parede de nossa sala.
Bárbara Lia
in O sal das rosas (Lumme editor -2007)

Sunday, September 30, 2012

Em Lisboa


Continuo por aqui... Em Lisboa meu conto - Aquela Viagem - na Colectânea - Ocultos Buracos.
Gostei imensamente do nome da rua: Rua da Fábrica de Material de Guerra, nº 1. 
Munição não vai faltar.





Curitiba revisitada II


Eu tenho um sonho e cada dia que passa ele se incorpora ao real.
Mudei-me para a "Casa de Marte" - casa da cor da superfície do planeta Marte. Agora eu abraço a Curitiba perdida. Aprendo a sublimar e lavar o que há de radical em mim. Duas ou três criaturas que falam em nome de um lugar - não são um lugar. O lugar é o mesmo que acolheu esta mulher, seus filhos, seus sonhos. Volto ao útero verde a ao vento precioso das manhãs que só Curitiba tem. Mudar é sempre bom. No meu caso foi curativo. Agora eu acho graça das artimanhas dos pequenos de alma. Reviso um livro, penso no próximo passo. A Poesia retorna como uma maré cálida a meus pés. Este é o cenário curitibano onde agora trafego, ao lado da Arthur Bernardes, o verde, os corredores nas manhãs. Caminhar quadras e quadras para ir ao Supermercado, respirar o verde. Ver as flores que anunciam a primavera do recomeço. Isto não tem preço.

Curitiba revisitada I


imagem



Milhões de eternidade cabem num suspiro*




Os transformes
Estalam o aço
Na Ópera de Arame

 

O ar antigo
Sopra na fissura
Da porta

 

Escondo-me
Em um caramanchão
De nuvens

 

Tu segues o som
Dos meus suspiros
Vitorianos

 

Em um segundo
Estou nua e branca em tuas mãos
O resto... Você sabe

Bárbara Lia

* verso de Emily Dickinson

La Niña de Fante



Texto meu que encontrei no blog Palavras & Outras Coisas Mais

Friday, September 28, 2012

verão anárquico





Oitavo dia da criação
Verão anárquico
- Instante branco -
Elemento novo:
mezzo uommo
mezzo angelo

Bárbara Lia


'a dor é mais visível na primavera'




O olho doente
da primavera
segue-me

Estende tapetes
de flores 
venenosas

Viro à direita
sigo a trilha de pedras
áridas escarpas

Vivi o necessário
para ver a maldade 
que floresce

Esta dor espalhada ao meu redor
pelos tolos que se escondem
atrás da frívola primavera

Bárbara Lia
in A flor dentro da árvore (2011)
p. 22

Ágora Anis




Cinco décadas
Gestando o agora
Ágora anis

Bárbara Lia

Canteiros







Passei a manhã
plantando clepsidras
espero chuvas primaverís
para que o tempo
floresça em canteiros

Bárbara Lia

angústia





O pássaro azul do lençol
se enche de angústia
empalidece
sempre que me deixas

Bárbara Lia

pressa de mentir

   Imagem comeunpratofiorito


O amor 
nunca foi
e não deu 
em nada
resta no ar
esta cantiga
com pressa 
de mentir

Bárbara Lia

chanson


         qualquer roupa
depois do amor
é lixa áspera
a arranhar 
a pele beatificada
pela hora sacra

Bárbara Lia

Thursday, September 27, 2012

A poeta do sol nascente



Assai - Situada no Norte do Paraná. Minha cidade natal. Meu nome e local de nascimento em junção poética traz uma espécie de personagem: A Guerreira do Sol Nascente.
Quando era garota e procurava o significado de meu nome eu encontrava - Estrangeira. Com o tempo mudaram o significado do meu nome para Guerreira. Achava Estrangeira mais poético, pendendo para um filme de Arte. A estrangeira. Seguido por Lia, meu nome assinalou o meu martírio. Naqueles tempos Lia significava - Aquela que tem olhos tristes e cansados. Por muito tempo quando eu evocava o meu desejo arquivado de ser escritora eu comentava que minha biografia teria exatamente este título:
- Estrangeira de olhos tristes e cansados -
Lia mudou também para um outro significado pequeno - Ovelha.
Sou contraditória pela escolha deste nome, nasci e cresci assinalada por este vaticínio - Guerreira Ovelha. Ovelha Negra. Há mais de meio século deixei este lugar onde nasci. Nada recordo. Uma única imagem minha que narrei em um texto. Uma fotografia aos três anos de idade. Sim. Minha família sempre foi pobre. Não sei qual o meu rosto primeiro. Não sei nada a não ser as narrativas.
Nasci neste lugar, onde hoje existe um belo portal. Uma cidade colonizada por japoneses. A cidade mudou, estive lá há quase um ano para participar do Projeto de duas professoras do Colégio Barão: Mª Zélia e Rosana. Uma emoção ser reconhecida como poeta, estar em meu lugar e dizer meus versos, levar poesia aos meninos que lá nasceram em outro tempo.
-- pequeno texto de uma provável biografia...



Arigatô, Ramón!

Qual o pai da menina do filme O livro de cabeceira desenhastes anagramas em minha pele... A palavra Liberdade e os sonhos do sertão que você cultivou docemente. Arigatô, meu pai. No lugar onde nasci existia a maior colônia de japoneses do nosso Estado. E tua vida era zen. A minha vida era um risco. Pequeno traço escuro no papel de arroz – olho de pássaro. Um pequeno pássaro de papel branco cortando as planícies e misturando-se ao algodão que os sitiantes plantavam. Era assim nossa Assai. Nada lá é memória para mim, Ramón. Nada.

Olho para esta foto que é o que restou da minha vida em Assai. A minha primeira foto.

Esta imagem:

Tenho três anos e estou em uma estrada de chão. Estou descalça. O vestido é novo. A foto sépia descortina uma roupa clara, simples. Estou bonita, ainda que descalça. Os cabelos curtos morenos lisos. Uma franja pequena. Um rostinho delicado. O vestido deixa à mostra a sequela de Pólio. Não tenho nenhuma foto antes desta, é a primeira. A sacramentar o meu destino. Estaria sempre só pela estrada da vida. Sépia. Minha vida Sépia. Nem colorida e nem em preto e branco.

Ramón sempre perguntava a cada manhã quando eu me sentava para a primeira refeição.

- Teve sonhos coloridos ou em preto e branco?

Décadas se passaram e hoje devo dizer ao meu pai, onde quer que ele se encontre – Sempre sonhei colorido, mas, quando ia revelar meus sonhos no Laboratório da Vida a revelação era sempre – Sépia.

Meus sonhos nunca puderam ver a luz dos dias. Demoravam tanto que ao chegarem até mim não passavam de fotos amarelecidas, este sépia eterno...

Ainda assim:


Arigatô, Ramón!


O ideograma – palavra – desenhado na altura do meu coração, cada vez que recitavas os versos de Gonçalves Dias, de Camões...

E quando a noite caia e a casa ficava quieta o teu vulto curvado sobre uma mesa calculando a distância entre uma e outra gleba. Gleba, que palavra esta, Ramón? Quando eu ia ao colégio e aprendia o básico, não sabia a professora que eu tinha um dicionário atado ao meu uniforme de menina. Que nas noites eu ouvia lendas gregas e lendas indígenas. E que me contavas sobre a tua vida de menino entre os índios. Eu me assustava só de ouvir a palavra jaguatirica. O sertão teu era bordado na mata-junta como se um filme estivesse impregnado e aquela madeira clara fosse o primeiro celulóide a projetar em uma fictícia tela um reino de águas claras e cipós. A lua clara era minha amiga, por compreender que ela foi a primeira lâmpada da vida do pai. Cada vez que ele contava como se atirava de uma escarpa muito alta nas águas do rio eu sentia o tremor das águas. O dom dele: Com carinho e cuidado me levar ao caminho que ele havia percorrido e me ensinar a escrever antes mesmo das primeiras aulas. Era um tédio de abelhas e sapos as aulas da mulher morena no pequeno Grupo Escolar. Eu já havia escrito hinos em meu coração e já dedilhara todo o alfabeto da natureza.

Arigatô, Ramón.

Pelas serestas e pela poesia.

O que te leva a ser, dentro de uma metáfora, como o pai daquela garotinha do filme de Peter Greenaway, que pinta em sua pele anagramas e a partir desta infância constrói uma escritora.

O que não sabias é que eu teria que sair mil vezes à chuva para apagar cada história pincelada em meu corpo. Que meu corpo quase viraria chuva, de tanta chuva.

Tinta negra e jocosa escorrendo cada vez que tive que apagar um enredo prometido para deixar meu corpo de novo – página branca.

Pura metáfora.

De real mesmo uma impressão eterna – teus lábios em minha testa.

Quando lembro todas as nossas despedidas dá um nó na garganta.

O carinho fecundo do teu beijo.

O carinho de cada adeus pousando seus lábios finos em minha testa, uma reverência eterna.

O beijo do pai era para lacrar a minha mente de ouro. A sua menina nota dez, que não ia nunca ser miss, nem atleta, nem corredora de maratona, nem nada... Ia ser apenas a sua enrustida poeta. Embora ele tenha morrido antes da minha vida tomar este rumo da escrita, ele lia minha alma sensível e dividia comigo tudo o que sabia. Como quem deposita hieróglifos em minha alma. Anagramas em minha pele. Um tesouro que eu guardei. Cada palavra. Cada conto. Cada lenda. Cada estrela que apontou com seus dedos morenos.
Bárbara Lia

The Tale of Genji - Lady Mirasaku Shikibu - 1008

Chapter 23 - The Warbler’s First Song

Tosa Mitsunobu Japanese (c. 1434 - c. 1525)
The Warbler’s First Song (Hatsune), Illustration to Chapter 23 of the "Tale of Genji" (Genji monogatari), Muromachi period, dateble to 1509-1510




"Upon the cloudless mirror of this lake, Clear is the image for ten thousand years"



Há alguns anos entrei em uma exposição insólita - A exposição era da loja "O Boticário" e passeava pela História do Mundo - Para falar dos perfumes evocavam livros e lendas. Na Exposição existia uma sequencia de signos de todos os capítulos deste livro - The Tale of Genji - Copiei rusticamente em um caderno que tinha - O símbolo composto por linhas retas em desenhos vários e o título de cada capítulo. Reproduzo o signo do Capítulo 23 e uma ilustração do Capítulo - Uma frase do mesmo Capítulo. O momento de retorno ao encanto deste que é considerado o primeiro romance literário - é cíclico, geralmente em dias frios.
Detalhes sobre o livro neste link:

Aquela Viagem na Colectânea de Histórias Horríveis e Impossíveis


Lançamento em Outubro - Colectânea - Ocultos Buracos - da Pastelaria Studios - Portugal.
Breve coloco o link para a compra do livro e notícias do lançamento.
Aquela Viagem - meu conto que está neste livro - foi escrito em 2009 estava guardado, talvez, para este momento. Depois de Seth (que narra os passos de um serial killer e foi premiado no Concurso - Contos Grotescos: Prêmio Edgar Alan Poe) outro conto com o toque do suspense e do mistério e da certeza de que alguns homens se envolvem em tramas obscuras, em segredos e medos. Este é meu primeiro conto publicado em Portugal. Até o final do ano outra Antologia além do oceano. Seguimos. O canto na garganta e a alma envolvida na aura da Primavera.

Wednesday, September 26, 2012

A flor dentro da árvore - Bárbara Lia







“Uma migalha de mim”



Teço
Um ego-vidraça
Para que enxergues
Meu Eu

Teço
Uma nuvem lassa
Cortina que qualquer mão
Atravessa

Teço
Um hímen de fumaça
Sobre a virgem essência
- tudo o que sou Eu

Bárbara Lia
in A flor dentro da árvore (2011)

Tuesday, September 25, 2012

EXPOSIÇÃO - CÓDIGO COLETIVO em BH




MUSEU NACIONAL DA POESIA
Belo Horizonte - Minas Gerais
munapbr@yahoo.com.br
...
Tel.: (31) 8838-7367

25/09/2012 - 06h às 18h
EXPOSIÇÃO - CÓDIGO COLETIVO de SANDRA SANTOS
Local: Galeria da Árvore - espaço Museu Nacional da Poesia. Parque Municipal Américo René Giannetti.

25/09/2012 - 18h30 às 19h30
ENCONTRO Internacional Terças Poéticas, com a poeta Sandra Santos/RS apresentando Código Coletivo.
Local: Palácio das Artes Av. Afonso Pena.
sobre o CODIGO COLETIVO:

(exposição CODIGO COLETIVO na 6ª Primavera dos Museus)

Monday, September 24, 2012

Marcos Prado





Bebo o sangue da luna rossa. Bárbara figura vestida de pele de ovelhas que mal cobre o sexo. Lilith devassa, louca alada e nua escondida em uma roupa de senhora. Não sou esta dama no salão de chá, cadeiras bordadas de flores da Confeitaria das Famílias. Vomitando asteriscos e estrelas e dissecando a XV da Federal à Boca Maldita ao lado de meninos de camiseta Hering branca e óculos de Clark Kent, tomando coca-cola. Na hora do ângelus pisam partituras de ossos e surfam no caos, dominam suas ondas... Suas pipas são estrelas inconclusas, com fios esgarçados que eles alcançam da torre da Catedral. Ninguém diria que ferve nas veias um rio vermelho encharcado de blues, nesta saudade órfã do triste homem azul. Pode que ele nos espie no canto da confeitaria em um ângulo discreto, com aquele olhar maroto e aquele chapéu escuro. Pode que ele acompanhe meninos poetas, andando sobre os muros e explodindo em vida ao nosso lado. A gente pensa que é a brisa de fim de tarde na XV - é sopro de Marcos Prado - Este cara eterno que nos mata de saudade...
Bárbara Lia

Reescrevendo o poema - Saudades de Marcos Prado - que foi publicado aqui
Poesia dedicada ao França e Leprevost, nascida de uma conversa na Confeitaria das Famílias... 

Sunday, September 23, 2012

1997


   Em Bento Gonçalves (RS) - Cerimônia anual da Pitangueira Poética. 1997

2011



QUINTA POÉTICA – 38a edição - 30 de junho de 2011 - Casa das Rosas - São Paulo
Nesta edição li minhas poesias ao lado dos poetas Gracco Oliveira (Diadema - SP) e Maiara Gouveia (São Paulo – SP)

La nave va...

Uma Entrevista na Revista Arte Cítrica n°3

  Na página 94 uma entrevista sobre minha vida de poeta na bela edição da Revista Arte Cítrica nº 3: https://drive.google.com/file/d/1PPTZT6...