Tuesday, October 09, 2012

Andorinhas e outros enganos - Sidnei Schneider


Primeiro livro de contos do meu amigo Sidnei Schneider - Porto Alegre - dia 17/10

Sunday, October 07, 2012

O Contestado - Restos Mortais: Uma guerra que assombra o presente!


O cineasta Sylvio Back e médium em transe - Foto Cláudio Silva



Foto - Cláudio Silva

O CONTESTADO - FOTO CLARO JANSSON - JAGUNÇOS




O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS:
 REVELAÇÃO DE UMA GUERRA INSEPULTA


Coincidindo com a efeméride do centenário da Guerra do Contestado (1912-1916), violento conflito armado pela disputa de fronteiras (daí a expressão, “contestado”) e posse da terra entre Paraná e Santa Catarina, será lançado nacionalmente, a partir de outubro, o filme “O Contestado – Restos Mortais” (118 min., cor/PB), de Sylvio Back, o premiado diretor de “Aleluia, Gretchen”, “Yndio do Brasil” e “Lost Zweig”. O longa-metragem será exibido em cinco capitais, estreando em Florianópolis e Curitiba (19 de outubro); em seguida, Porto Alegre (26/10), Rio de Janeiro e São Paulo (23.11).

Tema já tratado ficcionalmente pelo autor em “A Guerra dos Pelados” (1971), hoje um épico “clássico” sobre a questão fundiária no Brasil, “O Contestado – Restos Mortais” é o inédito resgate histórico e mítico (através do transe de 30 médiuns em cena), iconográfico (inéditas músicas e filmes da época) e oral (a fala forte de descendentes dos rebeldes e de especialistas), dessa autêntica guerra civil nos sertões do sul até hoje submersa em mistério.

Envolvendo milhares de posseiros, pequenos proprietários, comerciantes, autoridades municipais, índios, negros, imigrantes europeus e fanáticos religiosos, e a nada surpreendente repressão do Exército e forças militares regionais associadas a "coronéis" e seus jagunços, o inesperado levante, que provocou a morte de mais de 20 mil pessoas, ensanguentou o centro-oeste de Santa Catarina durante quatro anos, num território do tamanho do estado de Alagoas.

História desconhecida

“Nesses quarenta e um anos que separam "A Guerra dos Pelados" deste "O Contestado – Restos Mortais", filmado entre 2008 e 2010 no próprio teatro de operações do Contestado, uma sensação de lesa pátria nunca deixou de me assombrar” – confessa Sylvio Back.

“Sim, não apenas como cidadão – explica –, mas por ser um cineasta cuja obra é seduzida pela ânsia de reverter falácias, compromissos políticos-ideológicos e o esquecimento militante da história oficial. Enfim, quão esquecidos, ignorados, omitidos, quando menos, minimizados, permanecem personagens, fatos & atos em torno da Guerra do Contestado. Seja junto à própria memória sobrevivente em Santa Catarina e no Paraná, seja pela indiferença com que é tratada no meio acadêmico e de sua explícita pouca importância no ensino escolar, portanto, da historiografia brasileira. O Contestado está se tornando invisível” – adverte Back.





O CONTESTADO – RESTOS MORTAIS

 

Filme de Sylvio Back



(Digital, Cor/PB, 118 min.)

Sinopse

Com o testemunho de trinta médiuns em transe, articulado ao memorial sobrevivente e à polêmica com especialistas, “O Contestado – Restos Mortais”, é o resgate mítico da chamada Guerra do Contestado (1912-1916). Envolvendo milhares de civis e militares, o sangrento episódio conflagrou Paraná e Santa Catarina por questões de fronteira e disputa de terras, mesclado à eclosão de um surto mes­siânico de grandes proporções.


Ficha técnica

 

Equipe 
Fotografia e câmara Antonio Luiz Mendes
Diretor assistente Zeca Pires
Som-direto Juarez Dagoberto
Montagem/edição Sylvio Back/PH Souza
Abertura/efeitos visuais Fernando Pimenta
Produção PH Souza
Produção executiva Margit Richter

Produção Usina de Kyno/Anjo Azul Filmes

 Pesquisas, roteiro e direção Sylvio Back

Apoio
Governo do Paraná
Secretaria de Estado da Cultura do Paraná
Governo de Santa Catarina
Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte
 de Santa Catarina
Universidade Federal de Santa Catarina
Fundação de Amparo à Pesquisa Universitária
(FAPEU-UFSC)
Secretaria da Cultura (UFSC)
Patrocínio
      Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL)
     Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR)
    Centrais Elétricas de Santa Catarina (CELESC)
    Lei do Audiovisual
   Agência Nacional do Cinema (ANCINE)
 


Contestado, o que é?
                              (resumo histórico)
Sylvio Back

A Guerra do Contestado (1912-1916), o maior e mais trágico levante pela posse e contra a usurpação da terra no sé­culo XX no Brasil, com nítido substrato de fanatismo religioso, cunho separatista e ânsia de poder, e cujo desenrolar incendiou os estados do Paraná e de Santa Catarina, provocando a morte de mais de 20 mil pessoas, continua pouco estudado e reconhecido nas escolas e universidades, além de inteira­mente desterrado da historiografia e do in­consci­ente coletivo nacionais.

Inúmeras vezes associado à Canudos (1896-1897), dadas as raízes messiânicas, sociais e bélicas comuns, embora o viés geopolítico, multinacional, xenófobo e terrorista de luta nos sertões catarinenses os distancie, inclusive, pelo número de mortos e feridos, o Contes­tado soa como um acontecimento fan­tasma no processo civili­zatório brasileiro, em especial, do Sul.

Quando não é, inclu­sive, con­fundido com a Revolução Farrou­pilha (1835-1845) e com os Mucker (1872-1874), aquela, por­que chegou a estender seu raio de ação até Santa Catarina (Laguna e Lages), este, pelo fervor religioso que norteou seu nas­cimento e derrocada frente às tro­pas imperiais.

Há quase cem anos, exatamente em 1915, com a prisão de seu último lí­der, Adeo­dato, o chamado “Flagelo de Deus”, terminava a (ainda) tão mal co­nhecida e esparsamente estudada “Campanha do Contestado”, uma guerra civil sem pre­cedentes na História do Brasil, e que, durante quatro anos, entre 1912 e 1916, conturbou o Centro Oeste de Santa Catarina numa área do tamanho do Estado de Alagoas. Era esse o territó­rio rei­vindicado pelo Paraná, cujas fronteiras iam até a atual divisa do Rio Grande do Sul, e contestada no Supremo Tribunal Federal, daí a expressão, “Contestado”.

Numa violenta, épica e desigual luta fraticida, quando se chegou a cogitar o inédito uso da aviação para bombardear os revoltosos, antigos possei­ros e fa­náticos religiosos, que se reuniam nos chamados “redutos” (toscas cidadelas onde aceitavam uma “vida concentracionária”, rezando o dia inteiro, passando fome e na total insalaubridade, e até submetendo-se a castigos físicos) sob lideranças místicas e paramilitares que vinham de outras refregas institucionais da região, como a Revolução Federalista (1893-1895), que também almejava separar-se do resto do país.

Todos, juntamente, com pequenos fa­zendei­ros, er­vateiros e la­vradores, peões, deserdados de vários quadran­tes, comerciantes, profissionais li­berais, desempregados, imi­grantes, quilombolas, desertores e fugi­ti­vos da lei, se bateram (e revidaram com idêntica virulencia) contra a ex­plo­ração de empresas estrangei­ras aliadas a latifundiários, mer­ce­ná­rios e aos detentores do poder político e militar no Paraná e Santa Catarina.

E, depois, no ápice dos acontecimentos, do Go­verno Federal, com a entrada em cena do Exército (quase setenta por cento do seu efetivo nacional) em 1914, temeroso de que ali havia rastilho de retorno à monarquia, especialmente, quando se espalhou pela região em guerra a explosiva noticia da criação da Monarquia Sul-Brasileira, que se estenderia do Uruguai ao Rio de Janeiro.

O pivô de tudo foi a concessão de terras úberes e forra­das de pi­nheiros e outras árvores nobres à multinacio­nal Brazil Rai­l­way Com­pany (financeiramente monitorada pelo chamado Sindicato Far­quhar, hol­ding internacional do americano Percival Far­quhar, dono de um império ferroviário e de energia elétrica no país)  que, para cons­truir uma extensa e dispendiosa estrada de ferro, cor­tando, a partir de São Paulo, o Paraná e Santa Catarina até o Rio Grande do Sul, ganhou da República quinze quilôme­tros de cada lado do traçado. Um au­têntico maná.

No en­tanto, ao invés de povoar com colonos europeus as terras vizinhas à ferrovia, se­gundo obrigação contra­tual, a Brazil Railway decidiu otimi­zar seus lucros, cri­ando a Sou­thern Brazil Lumber and Colonization Com­pany, conhecida por Lumber – uma gi­gantesca serraria que rapida­mente trans­formou-se na maior da América do Sul.

Enquanto as discussões sobre fronteiras entre catari­nenses e para­naenses se arrastavam nos tribunais, os cons­trutores da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, os adminis­tra­dores da Lumber e os grandes proprietários de terras dos dois Es­tados (na época, “provín­cias”), investiam no au­mento de seus res­pectivos horizontes tanto para a extensiva expropri­ação das ri­que­zas naturais (araucária, imbuía, cedro, planta­ções de erva-mate, e pastagens férteis para o gado) como para a cobrança de impostos.
      
A expulsão da caboclada e que tais (milhares deles contratados no Nord­este e no Rio de Janeiro, sem trabaho após a con­clusão da ferrovia em 1910) de seus ranchos, plantações e pi­nheirais, fazia parte do ne­gócio. E para quem ocupava aqueles imen­sos e ricos sertões, título de propriedade era uma ficção ou então encarado com um instrumento dos “coronéis” para en­ganá-los.
Mas naqueles idos de 1912, quando a arbitrariedade no campo era mo­eda corrente, nem o latifúndio nem os estrangeiros conta­vam com uma súbita, depois grada­tiva, organi­zada e ferrenha reação armada dos espolia­dos. O alento provinha de um catolicismo rús­tico mes­clado a nebulosas convicções mitoló­gi­cas rememoradas por dois “monges” viandantes e curandei­ros, João e José Maria, cada um a seu tempo, líderes carismáti­cos convertidos pelos fiéis em “santos guerrei­ros”, mesmo de­pois de mortos. Instigado e munici­ado por cis­mas políticos regionais, o segundo deles, José Maria, que “vendia” fraudulentamente terras devolutas aos posseiros, pregava e prometia à multidão de seguidores a implantação de uma “mo­narquia celestial” (inspirado na mitológica figura de Carlos Magno) para se con­trapor à Re­pública, execrada como sendo uma “inven­ção do di­abo”, respon­sável pela fome, miséria e êxodo a que tinham sido condenados.   

No princípio revestido e travestido de um messianismo de corte ordeiro e autodefensivo, mas que logo foi evoluindo para uma luta de vida e morte tanto de caráter rei­vindicatório quanto de poder, com laivos terroristas na afir­mação social e en­frenta­mento béli­co – um ce­nário institucio­nal desconhecido numa re­gião até então rara e ralamente habitada.
Assim, a Guerra do Contestado acabou adubando com sangue e selvageria inaudita o chão onde antes vi­viam pacifica­mente milhares de famílias, de vez em quando visitadas pela Igreja, cujos padres, pura ironia, ora benziam as armas das tropas, como durante o conflito alcaguetavam ao Exército as prelazias dos caboclos para os ataques do general Setembrino de Carvalho, que desconhecia topograficamente a região.
Rodea­dos hoje por gigantescas e silenciosas extensões de pinus elliottii, onde antes se viam vastas po­pulações de animais silvestres, de pinheiro, plantações de erva-mate e milharais, cri­ação e lavouras de sub­sistên­ica, atualmente, cruzei­ros fan­tas­mas de “pelados” e soldados inse­pultos conti­nuam clamando por salvação divina e justiça terrena. –
O Diretor

Sylvio Back é cineasta, poeta, roteirista e escritor. Filho de Imigrantes hún­garo e alemã, é natural de Blumenau (SC). Ex-jornalista e crí­tico de cinema, au­todidata, inicia-se na direção cinematográfica em 1962, tendo escrito, dirigido e produzido até hoje trinta e oito filmes – entre curtas, médias e onze longas-metragens, esses, a saber: Lance Maior” (1968), A Guerra dos Pe­lados” (1971), Ale­luia, Gretchen” (1976), Revo­lução de 30” (1980), Repú­blica Gua­rani” (1982), Guerra do Bra­sil” (1987), Rádio Auriverde” (1991), Yndio do Brasil” (1995), Cruz e Sousa O Poeta do Des­terro” (1999), “Lost Zweig” (2003), “O Contestado – Restos Mortais” (2010); e “O Universo Graciliano” (2012, em finalização).

Tem editados vinte e um livros entre poesia, ensaios, contos e os argu­men­tos/roteiros dos filmes, Lance Maior”, Aleluia, Gret­chen”, Re­pública Guarani”, Sete Quedas”, Vida e Sangue de Po­laço”, O Auto-Retrato de Bakun”, Guerra do Brasil”, Rá­dio Auriverde”, Yndio do Brasil”, Zweig: A Morte em Cena”, Cruz e Sousa O Poeta do Desterro” (tetralíngüe), Lost Zweig” (bilíngue) e A Guerra dos Pelados”.

Obra poética: O ca­derno eró­tico de Sylvio Back” (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, Minas Gerais, 1986); Moedas de Luz” (Max Limo­nad, São Paulo, 1988); A Vinha do De­sejo” (Geração Editorial, SP, 1994); Yndio do Brasil” (Poemas de Filme) (No­nada, MG, 1995); bou­doir” (7Le­tras, Rio de Janeiro, 1999); Eurus” (7Letras, RJ, 2004); Traduzir é poetar às avessas” (Langston Hughes traduzido) (Memorial da América Latina, SP, 2005), Eurus” bilíngüe (português-inglês) (Ibis Libris, RJ, 2006); kinopoems” (@-book) (Cronópios Pocket Books, SP, 2006); e As mulheres gozam pelo ouvido” (Demônio Negro, SP, 2007).

Com 74 láureas nacionais e internacionais, Sylvio Back é um dos mais premiados cineastas do Brasil. Em 2011, recebe a insígnia de Oficial da Ordem do Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, pelo conjunto de sua obra cinematográfica e de roteirista. – 


ATENÇÃO: ESCREVI UM TEXTO APÓS ASSISTIR O DOCUMENTÁRIO - PARA LER CLICAR AQUI: 

Aleluia, Back! 

Friday, October 05, 2012

Um dia sou prosa e no outro poesia


Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz

(Vida, Chico Buarque)



Quero mais!
Sempre penso nestas palavras do Chico. Sou um navio quase à pique que insiste em ir adiante. Nem que todos os barcos recolham ao cais... Sigo na maré cansada, o barco velho, um pesqueiro triste, mas como são belos estes peixes que a rede revela. Eu me sinto assim com minha vida e minha poesia. Nem o cansaço e a falta de saúde bloqueiam esta viagem para além das cortinas e os palcos infinitos. Sigo recolhendo as ideias nas manhãs sonoras. Os pássaros acordam a poeta em uma sinfonia bonita. Nas manhãs os poemas se apresentam, deslocam o silêncio assim que deixo a cama, como uma goteira que não cessa uma palavra se apresenta, outra palavra, um momento, a memória, o desejo, a interrogação, o susto, a beleza. E súbito um verso estendido diante dos meus olhos. Um dia sou prosa, no outro poesia. Os livros calados, precisam aguardar prazos dos concursos. Vou construindo dia a dia um pequeno arsenal. E o mais importante, só quando escrevo eu me sinto viva. Só quando um novo tema se apresenta e aquela alegria da descoberta faz ninho dentro de meu coração e cérebro, o sangue valsa e traz aquela sensação de euforia. Como quem tomou uma poderosa droga, o meu corpo experimenta as sensações do delírio, a euforia, o êxtase. Vida me leva longe, leva mais...

Thursday, October 04, 2012

o extracéu







Ontem, no extracéu, tomamos chá de anis
diante de um poente branco.
No extracéu não há noites e pássaros pousam
em nossa janela, enquanto tecemos mantos.
Você sorri, mais do que agora, e estrelas
fogem do céu-matéria para matarem a saudade
do teu belo riso italiano.
Vez ou outra congelamos uma estrela fugidia
e a colocamos na parede de nossa sala.
Bárbara Lia
in O sal das rosas (Lumme editor -2007)

Sunday, September 30, 2012

Em Lisboa


Continuo por aqui... Em Lisboa meu conto - Aquela Viagem - na Colectânea - Ocultos Buracos.
Gostei imensamente do nome da rua: Rua da Fábrica de Material de Guerra, nº 1. 
Munição não vai faltar.





Curitiba revisitada II


Eu tenho um sonho e cada dia que passa ele se incorpora ao real.
Mudei-me para a "Casa de Marte" - casa da cor da superfície do planeta Marte. Agora eu abraço a Curitiba perdida. Aprendo a sublimar e lavar o que há de radical em mim. Duas ou três criaturas que falam em nome de um lugar - não são um lugar. O lugar é o mesmo que acolheu esta mulher, seus filhos, seus sonhos. Volto ao útero verde a ao vento precioso das manhãs que só Curitiba tem. Mudar é sempre bom. No meu caso foi curativo. Agora eu acho graça das artimanhas dos pequenos de alma. Reviso um livro, penso no próximo passo. A Poesia retorna como uma maré cálida a meus pés. Este é o cenário curitibano onde agora trafego, ao lado da Arthur Bernardes, o verde, os corredores nas manhãs. Caminhar quadras e quadras para ir ao Supermercado, respirar o verde. Ver as flores que anunciam a primavera do recomeço. Isto não tem preço.

Curitiba revisitada I


imagem



Milhões de eternidade cabem num suspiro*




Os transformes
Estalam o aço
Na Ópera de Arame

 

O ar antigo
Sopra na fissura
Da porta

 

Escondo-me
Em um caramanchão
De nuvens

 

Tu segues o som
Dos meus suspiros
Vitorianos

 

Em um segundo
Estou nua e branca em tuas mãos
O resto... Você sabe

Bárbara Lia

* verso de Emily Dickinson

La Niña de Fante



Texto meu que encontrei no blog Palavras & Outras Coisas Mais

Friday, September 28, 2012

verão anárquico





Oitavo dia da criação
Verão anárquico
- Instante branco -
Elemento novo:
mezzo uommo
mezzo angelo

Bárbara Lia


'a dor é mais visível na primavera'




O olho doente
da primavera
segue-me

Estende tapetes
de flores 
venenosas

Viro à direita
sigo a trilha de pedras
áridas escarpas

Vivi o necessário
para ver a maldade 
que floresce

Esta dor espalhada ao meu redor
pelos tolos que se escondem
atrás da frívola primavera

Bárbara Lia
in A flor dentro da árvore (2011)
p. 22

Ágora Anis




Cinco décadas
Gestando o agora
Ágora anis

Bárbara Lia

Canteiros







Passei a manhã
plantando clepsidras
espero chuvas primaverís
para que o tempo
floresça em canteiros

Bárbara Lia

angústia





O pássaro azul do lençol
se enche de angústia
empalidece
sempre que me deixas

Bárbara Lia

pressa de mentir

   Imagem comeunpratofiorito


O amor 
nunca foi
e não deu 
em nada
resta no ar
esta cantiga
com pressa 
de mentir

Bárbara Lia

chanson


         qualquer roupa
depois do amor
é lixa áspera
a arranhar 
a pele beatificada
pela hora sacra

Bárbara Lia

Thursday, September 27, 2012

A poeta do sol nascente



Assai - Situada no Norte do Paraná. Minha cidade natal. Meu nome e local de nascimento em junção poética traz uma espécie de personagem: A Guerreira do Sol Nascente.
Quando era garota e procurava o significado de meu nome eu encontrava - Estrangeira. Com o tempo mudaram o significado do meu nome para Guerreira. Achava Estrangeira mais poético, pendendo para um filme de Arte. A estrangeira. Seguido por Lia, meu nome assinalou o meu martírio. Naqueles tempos Lia significava - Aquela que tem olhos tristes e cansados. Por muito tempo quando eu evocava o meu desejo arquivado de ser escritora eu comentava que minha biografia teria exatamente este título:
- Estrangeira de olhos tristes e cansados -
Lia mudou também para um outro significado pequeno - Ovelha.
Sou contraditória pela escolha deste nome, nasci e cresci assinalada por este vaticínio - Guerreira Ovelha. Ovelha Negra. Há mais de meio século deixei este lugar onde nasci. Nada recordo. Uma única imagem minha que narrei em um texto. Uma fotografia aos três anos de idade. Sim. Minha família sempre foi pobre. Não sei qual o meu rosto primeiro. Não sei nada a não ser as narrativas.
Nasci neste lugar, onde hoje existe um belo portal. Uma cidade colonizada por japoneses. A cidade mudou, estive lá há quase um ano para participar do Projeto de duas professoras do Colégio Barão: Mª Zélia e Rosana. Uma emoção ser reconhecida como poeta, estar em meu lugar e dizer meus versos, levar poesia aos meninos que lá nasceram em outro tempo.
-- pequeno texto de uma provável biografia...



Arigatô, Ramón!

Qual o pai da menina do filme O livro de cabeceira desenhastes anagramas em minha pele... A palavra Liberdade e os sonhos do sertão que você cultivou docemente. Arigatô, meu pai. No lugar onde nasci existia a maior colônia de japoneses do nosso Estado. E tua vida era zen. A minha vida era um risco. Pequeno traço escuro no papel de arroz – olho de pássaro. Um pequeno pássaro de papel branco cortando as planícies e misturando-se ao algodão que os sitiantes plantavam. Era assim nossa Assai. Nada lá é memória para mim, Ramón. Nada.

Olho para esta foto que é o que restou da minha vida em Assai. A minha primeira foto.

Esta imagem:

Tenho três anos e estou em uma estrada de chão. Estou descalça. O vestido é novo. A foto sépia descortina uma roupa clara, simples. Estou bonita, ainda que descalça. Os cabelos curtos morenos lisos. Uma franja pequena. Um rostinho delicado. O vestido deixa à mostra a sequela de Pólio. Não tenho nenhuma foto antes desta, é a primeira. A sacramentar o meu destino. Estaria sempre só pela estrada da vida. Sépia. Minha vida Sépia. Nem colorida e nem em preto e branco.

Ramón sempre perguntava a cada manhã quando eu me sentava para a primeira refeição.

- Teve sonhos coloridos ou em preto e branco?

Décadas se passaram e hoje devo dizer ao meu pai, onde quer que ele se encontre – Sempre sonhei colorido, mas, quando ia revelar meus sonhos no Laboratório da Vida a revelação era sempre – Sépia.

Meus sonhos nunca puderam ver a luz dos dias. Demoravam tanto que ao chegarem até mim não passavam de fotos amarelecidas, este sépia eterno...

Ainda assim:


Arigatô, Ramón!


O ideograma – palavra – desenhado na altura do meu coração, cada vez que recitavas os versos de Gonçalves Dias, de Camões...

E quando a noite caia e a casa ficava quieta o teu vulto curvado sobre uma mesa calculando a distância entre uma e outra gleba. Gleba, que palavra esta, Ramón? Quando eu ia ao colégio e aprendia o básico, não sabia a professora que eu tinha um dicionário atado ao meu uniforme de menina. Que nas noites eu ouvia lendas gregas e lendas indígenas. E que me contavas sobre a tua vida de menino entre os índios. Eu me assustava só de ouvir a palavra jaguatirica. O sertão teu era bordado na mata-junta como se um filme estivesse impregnado e aquela madeira clara fosse o primeiro celulóide a projetar em uma fictícia tela um reino de águas claras e cipós. A lua clara era minha amiga, por compreender que ela foi a primeira lâmpada da vida do pai. Cada vez que ele contava como se atirava de uma escarpa muito alta nas águas do rio eu sentia o tremor das águas. O dom dele: Com carinho e cuidado me levar ao caminho que ele havia percorrido e me ensinar a escrever antes mesmo das primeiras aulas. Era um tédio de abelhas e sapos as aulas da mulher morena no pequeno Grupo Escolar. Eu já havia escrito hinos em meu coração e já dedilhara todo o alfabeto da natureza.

Arigatô, Ramón.

Pelas serestas e pela poesia.

O que te leva a ser, dentro de uma metáfora, como o pai daquela garotinha do filme de Peter Greenaway, que pinta em sua pele anagramas e a partir desta infância constrói uma escritora.

O que não sabias é que eu teria que sair mil vezes à chuva para apagar cada história pincelada em meu corpo. Que meu corpo quase viraria chuva, de tanta chuva.

Tinta negra e jocosa escorrendo cada vez que tive que apagar um enredo prometido para deixar meu corpo de novo – página branca.

Pura metáfora.

De real mesmo uma impressão eterna – teus lábios em minha testa.

Quando lembro todas as nossas despedidas dá um nó na garganta.

O carinho fecundo do teu beijo.

O carinho de cada adeus pousando seus lábios finos em minha testa, uma reverência eterna.

O beijo do pai era para lacrar a minha mente de ouro. A sua menina nota dez, que não ia nunca ser miss, nem atleta, nem corredora de maratona, nem nada... Ia ser apenas a sua enrustida poeta. Embora ele tenha morrido antes da minha vida tomar este rumo da escrita, ele lia minha alma sensível e dividia comigo tudo o que sabia. Como quem deposita hieróglifos em minha alma. Anagramas em minha pele. Um tesouro que eu guardei. Cada palavra. Cada conto. Cada lenda. Cada estrela que apontou com seus dedos morenos.
Bárbara Lia

The Tale of Genji - Lady Mirasaku Shikibu - 1008

Chapter 23 - The Warbler’s First Song

Tosa Mitsunobu Japanese (c. 1434 - c. 1525)
The Warbler’s First Song (Hatsune), Illustration to Chapter 23 of the "Tale of Genji" (Genji monogatari), Muromachi period, dateble to 1509-1510




"Upon the cloudless mirror of this lake, Clear is the image for ten thousand years"



Há alguns anos entrei em uma exposição insólita - A exposição era da loja "O Boticário" e passeava pela História do Mundo - Para falar dos perfumes evocavam livros e lendas. Na Exposição existia uma sequencia de signos de todos os capítulos deste livro - The Tale of Genji - Copiei rusticamente em um caderno que tinha - O símbolo composto por linhas retas em desenhos vários e o título de cada capítulo. Reproduzo o signo do Capítulo 23 e uma ilustração do Capítulo - Uma frase do mesmo Capítulo. O momento de retorno ao encanto deste que é considerado o primeiro romance literário - é cíclico, geralmente em dias frios.
Detalhes sobre o livro neste link:

Aquela Viagem na Colectânea de Histórias Horríveis e Impossíveis


Lançamento em Outubro - Colectânea - Ocultos Buracos - da Pastelaria Studios - Portugal.
Breve coloco o link para a compra do livro e notícias do lançamento.
Aquela Viagem - meu conto que está neste livro - foi escrito em 2009 estava guardado, talvez, para este momento. Depois de Seth (que narra os passos de um serial killer e foi premiado no Concurso - Contos Grotescos: Prêmio Edgar Alan Poe) outro conto com o toque do suspense e do mistério e da certeza de que alguns homens se envolvem em tramas obscuras, em segredos e medos. Este é meu primeiro conto publicado em Portugal. Até o final do ano outra Antologia além do oceano. Seguimos. O canto na garganta e a alma envolvida na aura da Primavera.

Wednesday, September 26, 2012

A flor dentro da árvore - Bárbara Lia







“Uma migalha de mim”



Teço
Um ego-vidraça
Para que enxergues
Meu Eu

Teço
Uma nuvem lassa
Cortina que qualquer mão
Atravessa

Teço
Um hímen de fumaça
Sobre a virgem essência
- tudo o que sou Eu

Bárbara Lia
in A flor dentro da árvore (2011)

La nave va...

Uma Entrevista na Revista Arte Cítrica n°3

  Na página 94 uma entrevista sobre minha vida de poeta na bela edição da Revista Arte Cítrica nº 3: https://drive.google.com/file/d/1PPTZT6...