Wednesday, October 10, 2012
Tuesday, October 09, 2012
Sunday, October 07, 2012
O Contestado - Restos Mortais: Uma guerra que assombra o presente!
O cineasta Sylvio Back e médium em transe - Foto Cláudio Silva
Foto - Cláudio Silva
O CONTESTADO - FOTO CLARO JANSSON - JAGUNÇOS
O
CONTESTADO – RESTOS MORTAIS:
REVELAÇÃO DE UMA GUERRA INSEPULTA
Coincidindo com a efeméride do centenário
da Guerra do Contestado (1912-1916), violento conflito armado pela disputa de
fronteiras (daí a expressão, “contestado”) e posse da terra entre Paraná e
Santa Catarina, será lançado nacionalmente, a partir de outubro, o filme “O
Contestado – Restos Mortais” (118 min., cor/PB), de Sylvio Back, o premiado
diretor de “Aleluia, Gretchen”, “Yndio do Brasil” e “Lost Zweig”. O
longa-metragem será exibido em cinco capitais, estreando em Florianópolis e
Curitiba (19 de outubro); em seguida, Porto Alegre (26/10), Rio de Janeiro e
São Paulo (23.11).
Tema já tratado ficcionalmente pelo autor em
“A Guerra dos Pelados” (1971), hoje um épico “clássico” sobre a questão fundiária
no Brasil, “O Contestado – Restos Mortais” é o inédito resgate histórico e
mítico (através do transe de 30 médiuns em cena), iconográfico (inéditas músicas
e filmes da época) e oral (a fala forte de descendentes dos rebeldes e de especialistas),
dessa autêntica guerra civil nos sertões do sul até hoje submersa em mistério.
Envolvendo milhares
de posseiros, pequenos proprietários, comerciantes, autoridades municipais, índios,
negros, imigrantes europeus e fanáticos religiosos, e a nada surpreendente
repressão do Exército e forças militares regionais associadas a
"coronéis" e seus jagunços, o inesperado levante, que provocou a
morte de mais de 20 mil pessoas, ensanguentou o centro-oeste de Santa Catarina durante
quatro anos, num território do tamanho do estado de Alagoas.
História desconhecida
“Nesses quarenta e
um anos que separam "A Guerra dos Pelados" deste "O Contestado –
Restos Mortais", filmado entre 2008 e 2010 no próprio teatro de operações
do Contestado, uma sensação de lesa pátria nunca deixou de me assombrar” –
confessa Sylvio Back.
“Sim, não apenas
como cidadão – explica –, mas por ser um cineasta cuja obra é
seduzida pela ânsia de reverter falácias, compromissos políticos-ideológicos
e o esquecimento militante da história oficial. Enfim, quão esquecidos,
ignorados, omitidos, quando menos, minimizados, permanecem personagens, fatos
& atos em torno da Guerra do Contestado. Seja junto à própria memória
sobrevivente em Santa Catarina e no Paraná, seja pela indiferença com que é
tratada no meio acadêmico e de sua explícita pouca importância no ensino
escolar, portanto, da historiografia brasileira. O Contestado está se tornando
invisível” – adverte Back.
O
CONTESTADO – RESTOS MORTAIS
Filme de Sylvio Back
(Digital, Cor/PB, 118 min.)
Sinopse
Com o testemunho de trinta médiuns em transe, articulado ao
memorial sobrevivente e à polêmica com especialistas, “O Contestado – Restos
Mortais”, é o resgate mítico da chamada Guerra do Contestado (1912-1916).
Envolvendo milhares de civis e militares, o sangrento episódio conflagrou
Paraná e Santa Catarina por questões de fronteira e disputa de terras, mesclado
à eclosão de um surto messiânico de grandes proporções.
Ficha técnica
Equipe
Fotografia e câmara Antonio Luiz Mendes
Diretor assistente Zeca Pires
Som-direto Juarez Dagoberto
Montagem/edição Sylvio Back/PH Souza
Abertura/efeitos visuais Fernando Pimenta
Produção PH Souza
Produção executiva Margit Richter
Produção
Usina de
Kyno/Anjo Azul Filmes
Pesquisas, roteiro e
direção Sylvio Back
Apoio
Governo do Paraná
Secretaria de Estado
da Cultura do Paraná
Governo de Santa
Catarina
Secretaria de
Turismo, Cultura e Esporte
de Santa Catarina
Universidade
Federal de Santa Catarina
Fundação de
Amparo à Pesquisa Universitária
(FAPEU-UFSC)
Secretaria da
Cultura (UFSC)
Patrocínio
Companhia Paranaense de Energia Elétrica (COPEL)
Companhia
de Saneamento do Paraná (SANEPAR)
Centrais Elétricas de Santa Catarina
(CELESC)
Lei do Audiovisual
Agência Nacional
do Cinema (ANCINE)
Contestado, o que é?
(resumo
histórico)
Sylvio
Back
A
Guerra do Contestado (1912-1916), o maior e mais trágico levante pela posse e contra
a usurpação da terra no século XX no Brasil, com nítido substrato de fanatismo
religioso, cunho separatista e ânsia de poder, e cujo desenrolar incendiou os
estados do Paraná e de Santa Catarina, provocando a morte de mais de 20 mil
pessoas, continua pouco estudado e reconhecido nas escolas e universidades, além
de inteiramente desterrado da historiografia e do inconsciente coletivo
nacionais.
Inúmeras vezes
associado à Canudos (1896-1897), dadas as raízes messiânicas, sociais e bélicas
comuns, embora o viés geopolítico, multinacional, xenófobo e terrorista de luta
nos sertões catarinenses os distancie, inclusive, pelo número de mortos e
feridos, o Contestado soa como um acontecimento fantasma no processo civilizatório
brasileiro, em especial, do Sul.
Quando não é,
inclusive, confundido com a Revolução Farroupilha (1835-1845) e com os Mucker (1872-1874), aquela, porque
chegou a estender seu raio de ação até Santa Catarina (Laguna e Lages), este,
pelo fervor religioso que norteou seu nascimento e derrocada frente às tropas
imperiais.
Há quase cem anos, exatamente em 1915, com a
prisão de seu último líder, Adeodato, o chamado “Flagelo de Deus”, terminava
a (ainda) tão mal conhecida e esparsamente estudada “Campanha do Contestado”,
uma guerra civil sem precedentes na História do Brasil, e que, durante quatro
anos, entre 1912 e 1916, conturbou o Centro Oeste de Santa Catarina numa área
do tamanho do Estado de Alagoas. Era esse o território reivindicado pelo
Paraná, cujas fronteiras iam até a atual divisa do Rio Grande do Sul, e
contestada no Supremo Tribunal Federal, daí a expressão, “Contestado”.
Numa violenta, épica e desigual luta
fraticida, quando se chegou a cogitar o inédito uso da aviação para bombardear
os revoltosos, antigos posseiros e fanáticos religiosos, que se reuniam nos
chamados “redutos” (toscas cidadelas onde aceitavam uma “vida concentracionária”,
rezando o dia inteiro, passando fome e na total insalaubridade, e até submetendo-se
a castigos físicos) sob lideranças místicas e paramilitares que vinham de
outras refregas institucionais da região, como a Revolução Federalista
(1893-1895), que também almejava separar-se do resto do país.
Todos, juntamente, com pequenos fazendeiros,
ervateiros e lavradores, peões, deserdados de vários quadrantes,
comerciantes, profissionais liberais, desempregados, imigrantes, quilombolas,
desertores e fugitivos da lei, se bateram (e revidaram com idêntica virulencia)
contra a exploração de empresas estrangeiras aliadas a latifundiários, mercenários
e aos detentores do poder político e militar no Paraná e Santa Catarina.
E, depois, no ápice dos acontecimentos, do Governo
Federal, com a entrada em cena do Exército (quase setenta por cento do seu
efetivo nacional) em 1914, temeroso de que ali havia rastilho de retorno à monarquia,
especialmente, quando se espalhou pela região em guerra a explosiva noticia da criação
da Monarquia Sul-Brasileira, que se estenderia do Uruguai ao Rio de Janeiro.
O pivô de tudo foi
a concessão de terras úberes e forradas de pinheiros e outras árvores nobres
à multinacional Brazil Railway Company (financeiramente monitorada pelo chamado Sindicato Farquhar, holding internacional do americano
Percival Farquhar, dono de um império ferroviário e de energia elétrica no
país) que, para construir uma extensa e
dispendiosa estrada de ferro, cortando, a partir de São Paulo, o Paraná e
Santa Catarina até o Rio Grande do Sul, ganhou da República quinze quilômetros
de cada lado do traçado. Um autêntico maná.
No entanto, ao
invés de povoar com colonos europeus as terras vizinhas à ferrovia, segundo
obrigação contratual, a Brazil Railway decidiu otimizar seus lucros,
criando a Southern Brazil Lumber and Colonization Company, conhecida por
Lumber – uma gigantesca serraria que rapidamente transformou-se na maior da
América do Sul.
Enquanto as
discussões sobre fronteiras entre catarinenses e paranaenses se arrastavam
nos tribunais, os construtores da Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, os
administradores da Lumber e os
grandes proprietários de terras dos dois Estados (na época, “províncias”),
investiam no aumento de seus respectivos horizontes tanto para a extensiva
expropriação das riquezas naturais (araucária, imbuía, cedro, plantações de
erva-mate, e pastagens férteis para o gado) como para a cobrança de impostos.
A expulsão da caboclada e que tais (milhares deles
contratados no Nordeste e no Rio de Janeiro, sem trabaho após a conclusão da
ferrovia em 1910) de seus ranchos, plantações e pinheirais, fazia parte do negócio.
E para quem ocupava aqueles imensos e ricos sertões, título de propriedade era
uma ficção ou então encarado com um instrumento dos “coronéis” para enganá-los.
Mas naqueles idos
de 1912, quando a arbitrariedade no campo era moeda corrente, nem o latifúndio
nem os estrangeiros contavam com uma súbita, depois gradativa, organizada e
ferrenha reação armada dos espoliados. O alento provinha de um catolicismo rústico
mesclado a nebulosas convicções mitológicas rememoradas por dois “monges”
viandantes e curandeiros, João e José Maria, cada um a seu tempo, líderes
carismáticos convertidos pelos fiéis em “santos guerreiros”, mesmo depois de
mortos. Instigado e municiado por cismas políticos regionais, o segundo
deles, José Maria, que “vendia” fraudulentamente terras devolutas aos
posseiros, pregava e prometia à multidão de seguidores a implantação de uma “monarquia
celestial” (inspirado na mitológica figura de Carlos Magno) para se contrapor
à República, execrada como sendo uma “invenção do diabo”, responsável pela
fome, miséria e êxodo a que tinham sido condenados.
No princípio revestido e travestido de um messianismo
de corte ordeiro e autodefensivo, mas que logo foi evoluindo para uma luta de
vida e morte tanto de caráter reivindicatório quanto de poder, com laivos terroristas
na afirmação social e enfrentamento bélico – um cenário institucional
desconhecido numa região até então rara e ralamente habitada.
Assim, a Guerra do Contestado acabou adubando com
sangue e selvageria inaudita o chão onde antes viviam pacificamente milhares
de famílias, de vez em quando visitadas pela Igreja, cujos padres, pura ironia,
ora benziam as armas das tropas, como durante o conflito alcaguetavam ao
Exército as prelazias dos caboclos para os ataques do general Setembrino de
Carvalho, que desconhecia topograficamente a região.
Rodeados hoje por gigantescas e silenciosas extensões
de pinus elliottii, onde antes se
viam vastas populações de animais silvestres, de pinheiro, plantações de
erva-mate e milharais, criação e lavouras de subsistênica, atualmente, cruzeiros
fantasmas de “pelados” e soldados insepultos continuam clamando por salvação
divina e justiça terrena. –
O Diretor
Sylvio Back é cineasta, poeta, roteirista e escritor. Filho de Imigrantes húngaro e
alemã, é natural de Blumenau (SC). Ex-jornalista e crítico de cinema, autodidata,
inicia-se na direção cinematográfica em 1962, tendo escrito, dirigido e
produzido até hoje trinta e oito filmes – entre curtas, médias e onze
longas-metragens, esses, a saber: “Lance Maior” (1968), “A Guerra dos Pelados” (1971), “Aleluia, Gretchen” (1976), “Revolução de 30” (1980), “República Guarani” (1982), “Guerra do Brasil” (1987), “Rádio Auriverde” (1991), “Yndio do Brasil” (1995), “Cruz e Sousa – O Poeta do Desterro” (1999), “Lost
Zweig” (2003), “O Contestado – Restos Mortais” (2010); e “O Universo
Graciliano” (2012, em finalização).
Tem editados vinte e um livros – entre poesia, ensaios, contos e os argumentos/roteiros dos filmes, “Lance Maior”, “Aleluia, Gretchen”, “República Guarani”, “Sete Quedas”, “Vida e Sangue de Polaço”, “O Auto-Retrato de Bakun”, “Guerra do Brasil”, “Rádio Auriverde”, “Yndio do Brasil”, “Zweig: A Morte em Cena”, “Cruz e Sousa – O Poeta do
Desterro” (tetralíngüe), “Lost Zweig” (bilíngue) e “A Guerra dos Pelados”.
Obra poética: “O caderno erótico de Sylvio Back” (Tipografia do Fundo de Ouro Preto,
Minas Gerais, 1986); “Moedas de Luz” (Max Limonad, São Paulo, 1988); “A Vinha do Desejo” (Geração
Editorial, SP, 1994); “Yndio do Brasil” (Poemas de Filme) (Nonada, MG, 1995); “boudoir” (7Letras, Rio de Janeiro,
1999); “Eurus” (7Letras, RJ, 2004); “Traduzir é poetar às avessas”
(Langston Hughes traduzido) (Memorial da América Latina, SP, 2005), “Eurus” bilíngüe
(português-inglês) (Ibis Libris, RJ, 2006); “kinopoems” (@-book) (Cronópios Pocket
Books, SP, 2006); e “As mulheres gozam pelo ouvido” (Demônio Negro, SP, 2007).
Com 74 láureas nacionais e internacionais, Sylvio Back é um dos mais
premiados cineastas do Brasil. Em 2011, recebe a insígnia de Oficial da Ordem
do Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriores, pelo conjunto
de sua obra cinematográfica e de roteirista. –
ATENÇÃO: ESCREVI UM TEXTO APÓS ASSISTIR O DOCUMENTÁRIO - PARA LER CLICAR AQUI:
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Aleluia, Back!
Friday, October 05, 2012
Um dia sou prosa e no outro poesia
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz
(Vida, Chico Buarque)
Quero mais!
Sempre penso nestas palavras do Chico. Sou um navio quase à pique que insiste em ir adiante. Nem que todos os barcos recolham ao cais... Sigo na maré cansada, o barco velho, um pesqueiro triste, mas como são belos estes peixes que a rede revela. Eu me sinto assim com minha vida e minha poesia. Nem o cansaço e a falta de saúde bloqueiam esta viagem para além das cortinas e os palcos infinitos. Sigo recolhendo as ideias nas manhãs sonoras. Os pássaros acordam a poeta em uma sinfonia bonita. Nas manhãs os poemas se apresentam, deslocam o silêncio assim que deixo a cama, como uma goteira que não cessa uma palavra se apresenta, outra palavra, um momento, a memória, o desejo, a interrogação, o susto, a beleza. E súbito um verso estendido diante dos meus olhos. Um dia sou prosa, no outro poesia. Os livros calados, precisam aguardar prazos dos concursos. Vou construindo dia a dia um pequeno arsenal. E o mais importante, só quando escrevo eu me sinto viva. Só quando um novo tema se apresenta e aquela alegria da descoberta faz ninho dentro de meu coração e cérebro, o sangue valsa e traz aquela sensação de euforia. Como quem tomou uma poderosa droga, o meu corpo experimenta as sensações do delírio, a euforia, o êxtase. Vida me leva longe, leva mais...
Thursday, October 04, 2012
o extracéu
Ontem, no extracéu, tomamos chá de anis
diante de um poente branco.
No extracéu não há noites e pássaros pousam
em nossa janela, enquanto tecemos mantos.
Você sorri, mais do que agora, e estrelas
fogem do céu-matéria para matarem a saudade
do teu belo riso italiano.
Vez ou outra congelamos uma estrela fugidia
e a colocamos na parede de nossa sala.
Bárbara Lia
in O sal das rosas (Lumme editor -2007)
Monday, October 01, 2012
Sunday, September 30, 2012
Em Lisboa
Continuo por aqui... Em Lisboa meu conto - Aquela Viagem - na Colectânea - Ocultos Buracos.
Gostei imensamente do nome da rua: Rua da Fábrica de Material de Guerra, nº 1.
Munição não vai faltar.
Curitiba revisitada II
Eu tenho um sonho e cada dia que passa ele se incorpora ao real.
Mudei-me para a "Casa de Marte" - casa da cor da superfície do planeta Marte. Agora eu abraço a Curitiba perdida. Aprendo a sublimar e lavar o que há de radical em mim. Duas ou três criaturas que falam em nome de um lugar - não são um lugar. O lugar é o mesmo que acolheu esta mulher, seus filhos, seus sonhos. Volto ao útero verde a ao vento precioso das manhãs que só Curitiba tem. Mudar é sempre bom. No meu caso foi curativo. Agora eu acho graça das artimanhas dos pequenos de alma. Reviso um livro, penso no próximo passo. A Poesia retorna como uma maré cálida a meus pés. Este é o cenário curitibano onde agora trafego, ao lado da Arthur Bernardes, o verde, os corredores nas manhãs. Caminhar quadras e quadras para ir ao Supermercado, respirar o verde. Ver as flores que anunciam a primavera do recomeço. Isto não tem preço.
Curitiba revisitada I
imagem
Milhões de eternidade cabem num suspiro*
Os
transformes
Estalam
o açoNa Ópera de Arame
O
ar antigo
Sopra
na fissuraDa porta
Escondo-me
Em
um caramanchão De nuvens
Tu
segues o som
Dos
meus suspirosVitorianos
Em
um segundo
Estou
nua e branca em tuas mãosO resto... Você sabe
Bárbara Lia
* verso de Emily Dickinson
Friday, September 28, 2012
verão anárquico
Oitavo dia da criação
Verão anárquico
- Instante branco -
Elemento novo:
mezzo uommo
mezzo angelo
Bárbara Lia
'a dor é mais visível na primavera'
O olho doente
da primavera
segue-me
Estende tapetes
de flores
venenosas
Viro à direita
sigo a trilha de pedras
áridas escarpas
Vivi o necessário
para ver a maldade
que floresce
Esta dor espalhada ao meu redor
pelos tolos que se escondem
atrás da frívola primavera
Bárbara Lia
in A flor dentro da árvore (2011)
p. 22
Canteiros
Passei a manhã
plantando clepsidras
espero chuvas primaverís
para que o tempo
floresça em canteiros
Bárbara Lia
pressa de mentir
Imagem comeunpratofiorito
O amor
nunca foi
e não deu
em nada
resta no ar
esta cantiga
com pressa
de mentir
Bárbara Lia
O amor
nunca foi
e não deu
em nada
resta no ar
esta cantiga
com pressa
de mentir
Bárbara Lia
chanson
qualquer roupa
depois do amor
é lixa áspera
a arranhar
a pele beatificada
pela hora sacra
Bárbara Lia
Thursday, September 27, 2012
A poeta do sol nascente
Assai - Situada no Norte do Paraná. Minha cidade natal. Meu nome e local de nascimento em junção poética traz uma espécie de personagem: A Guerreira do Sol Nascente.
Quando era garota e procurava o significado de meu nome eu encontrava - Estrangeira. Com o tempo mudaram o significado do meu nome para Guerreira. Achava Estrangeira mais poético, pendendo para um filme de Arte. A estrangeira. Seguido por Lia, meu nome assinalou o meu martírio. Naqueles tempos Lia significava - Aquela que tem olhos tristes e cansados. Por muito tempo quando eu evocava o meu desejo arquivado de ser escritora eu comentava que minha biografia teria exatamente este título:
- Estrangeira de olhos tristes e cansados -
Lia mudou também para um outro significado pequeno - Ovelha.
Sou contraditória pela escolha deste nome, nasci e cresci assinalada por este vaticínio - Guerreira Ovelha. Ovelha Negra. Há mais de meio século deixei este lugar onde nasci. Nada recordo. Uma única imagem minha que narrei em um texto. Uma fotografia aos três anos de idade. Sim. Minha família sempre foi pobre. Não sei qual o meu rosto primeiro. Não sei nada a não ser as narrativas.
Nasci neste lugar, onde hoje existe um belo portal. Uma cidade colonizada por japoneses. A cidade mudou, estive lá há quase um ano para participar do Projeto de duas professoras do Colégio Barão: Mª Zélia e Rosana. Uma emoção ser reconhecida como poeta, estar em meu lugar e dizer meus versos, levar poesia aos meninos que lá nasceram em outro tempo.
-- pequeno texto de uma provável biografia...
Arigatô, Ramón!
Qual o pai da menina do filme O livro de cabeceira desenhastes
anagramas em minha pele... A palavra Liberdade e os sonhos do sertão que você
cultivou docemente. Arigatô, meu pai. No lugar onde nasci existia a maior
colônia de japoneses do nosso Estado. E tua vida era zen. A minha vida era um
risco. Pequeno traço escuro no papel de arroz – olho de pássaro. Um pequeno
pássaro de papel branco cortando as planícies e misturando-se ao algodão que os
sitiantes plantavam. Era assim nossa Assai. Nada lá é memória para mim, Ramón.
Nada.
Olho para esta foto que é o que restou da minha
vida em Assai. A minha primeira foto.
Esta imagem:
Tenho três anos e estou em uma estrada de chão. Estou
descalça. O vestido é novo. A foto sépia descortina uma roupa clara, simples.
Estou bonita, ainda que descalça. Os cabelos curtos morenos lisos. Uma franja
pequena. Um rostinho delicado. O vestido deixa à mostra a sequela de Pólio. Não
tenho nenhuma foto antes desta, é a primeira. A sacramentar o meu destino.
Estaria sempre só pela estrada da vida. Sépia. Minha vida Sépia. Nem colorida e
nem em preto e branco.
Ramón sempre perguntava a cada manhã quando eu me
sentava para a primeira refeição.
- Teve sonhos coloridos ou em preto e branco?
Décadas se passaram e hoje devo dizer ao meu pai,
onde quer que ele se encontre – Sempre sonhei colorido, mas, quando ia revelar
meus sonhos no Laboratório da Vida a revelação era sempre – Sépia.
Meus sonhos nunca puderam ver a luz dos dias.
Demoravam tanto que ao chegarem até mim não passavam de fotos amarelecidas,
este sépia eterno...
Ainda assim:
Arigatô, Ramón!
O ideograma – palavra – desenhado na altura do meu
coração, cada vez que recitavas os versos de Gonçalves Dias, de Camões...
E quando a noite caia e a casa ficava quieta o teu
vulto curvado sobre uma mesa calculando a distância entre uma e outra gleba.
Gleba, que palavra esta, Ramón? Quando eu ia ao colégio e aprendia o básico,
não sabia a professora que eu tinha um dicionário atado ao meu uniforme de
menina. Que nas noites eu ouvia lendas gregas e lendas indígenas. E que me
contavas sobre a tua vida de menino entre os índios. Eu me assustava só de
ouvir a palavra jaguatirica. O sertão teu era bordado na mata-junta como se um
filme estivesse impregnado e aquela madeira clara fosse o primeiro celulóide a
projetar em uma fictícia tela um reino de águas claras e cipós. A lua clara era
minha amiga, por compreender que ela foi a primeira lâmpada da vida do pai. Cada
vez que ele contava como se atirava de uma escarpa muito alta nas águas do rio
eu sentia o tremor das águas. O dom dele: Com carinho e cuidado me levar ao
caminho que ele havia percorrido e me ensinar a escrever antes mesmo das
primeiras aulas. Era um tédio de abelhas e sapos as aulas da mulher morena no
pequeno Grupo Escolar. Eu já havia escrito hinos em meu coração e já dedilhara
todo o alfabeto da natureza.
Arigatô, Ramón.
Pelas serestas e pela poesia.
O que te leva a ser, dentro de uma metáfora, como o
pai daquela garotinha do filme de Peter Greenaway, que pinta em sua pele anagramas e a partir
desta infância constrói uma escritora.
O que não sabias é que eu teria que sair mil vezes à chuva
para apagar cada história pincelada em meu corpo. Que meu corpo quase viraria
chuva, de tanta chuva.
Tinta negra e jocosa escorrendo cada vez que tive que
apagar um enredo prometido para deixar meu corpo de novo – página branca.
Pura metáfora.
De real mesmo uma impressão eterna – teus lábios em
minha testa.
Quando lembro todas as nossas despedidas dá um nó na
garganta.
O carinho fecundo do teu beijo.
O carinho de cada adeus pousando seus lábios finos em
minha testa, uma reverência eterna.
O beijo do pai era para lacrar a minha mente de ouro.
A sua menina nota dez, que não ia nunca ser miss, nem atleta, nem corredora de
maratona, nem nada... Ia ser apenas a sua enrustida poeta. Embora ele tenha
morrido antes da minha vida tomar este rumo da escrita, ele lia minha alma
sensível e dividia comigo tudo o que sabia. Como quem deposita hieróglifos em
minha alma. Anagramas em minha pele. Um tesouro que eu guardei. Cada palavra.
Cada conto. Cada lenda. Cada estrela que apontou com seus dedos morenos.
Bárbara Lia
The Tale of Genji - Lady Mirasaku Shikibu - 1008
Chapter 23 - The Warbler’s First Song
"Upon the cloudless mirror of this lake, Clear is the image for ten thousand years"
Tosa Mitsunobu Japanese (c. 1434 - c. 1525)
The Warbler’s First Song (Hatsune), Illustration to Chapter 23 of the "Tale of Genji" (Genji monogatari), Muromachi period, dateble to 1509-1510
"Upon the cloudless mirror of this lake, Clear is the image for ten thousand years"
Há alguns anos entrei em uma exposição insólita - A exposição era da loja "O Boticário" e passeava pela História do Mundo - Para falar dos perfumes evocavam livros e lendas. Na Exposição existia uma sequencia de signos de todos os capítulos deste livro - The Tale of Genji - Copiei rusticamente em um caderno que tinha - O símbolo composto por linhas retas em desenhos vários e o título de cada capítulo. Reproduzo o signo do Capítulo 23 e uma ilustração do Capítulo - Uma frase do mesmo Capítulo. O momento de retorno ao encanto deste que é considerado o primeiro romance literário - é cíclico, geralmente em dias frios.
Detalhes sobre o livro neste link:
Aquela Viagem na Colectânea de Histórias Horríveis e Impossíveis
Lançamento em Outubro - Colectânea - Ocultos Buracos - da Pastelaria Studios - Portugal.
Breve coloco o link para a compra do livro e notícias do lançamento.
Aquela Viagem - meu conto que está neste livro - foi escrito em 2009 estava guardado, talvez, para este momento. Depois de Seth (que narra os passos de um serial killer e foi premiado no Concurso - Contos Grotescos: Prêmio Edgar Alan Poe) outro conto com o toque do suspense e do mistério e da certeza de que alguns homens se envolvem em tramas obscuras, em segredos e medos. Este é meu primeiro conto publicado em Portugal. Até o final do ano outra Antologia além do oceano. Seguimos. O canto na garganta e a alma envolvida na aura da Primavera.
Aquela Viagem - meu conto que está neste livro - foi escrito em 2009 estava guardado, talvez, para este momento. Depois de Seth (que narra os passos de um serial killer e foi premiado no Concurso - Contos Grotescos: Prêmio Edgar Alan Poe) outro conto com o toque do suspense e do mistério e da certeza de que alguns homens se envolvem em tramas obscuras, em segredos e medos. Este é meu primeiro conto publicado em Portugal. Até o final do ano outra Antologia além do oceano. Seguimos. O canto na garganta e a alma envolvida na aura da Primavera.
Wednesday, September 26, 2012
A flor dentro da árvore - Bárbara Lia
“Uma migalha de mim”
Teço
Um ego-vidraça
Para que enxergues
Meu Eu
Teço
Uma nuvem lassa
Cortina que
qualquer mão
Atravessa
Teço
Um hímen de fumaça
Sobre a virgem
essência
- tudo o que sou Eu
Bárbara Lia
in A flor dentro da árvore (2011)
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