Tuesday, November 20, 2012

sobre pássaros e palavras




Acordo todo dia feliz com a serenata de um pássaro que desconheço. Ele tem um canto tão lindo que acordo antes do sol pra ouvi-lo... Um ornitólogo, por favor! Acordo todo dia feliz, pois nas manhãs brotam palavras, a resolução para um personagem, a finalização de um enredo, os títulos tão difíceis. Um dia vou escrever um romance sem título. Vai se chamar - Romance. Só romance. Ou Livro. Cada um que coloque o título que quiser. Melhor deixar em branco uma linha extensa para os títulos vários. Minha amiga Geisa Mueller escreveu poesias com a palavra calcinada pela qual ela se apaixonou após conhecer meu romance - Solidão Calcinada. Estas coisas podem deixar uma poeta derretendo-se qual caramelo em calda, estas coisas poéticas, ternas, únicas. Estas palavras que estas mulheres do meu tempo dizem e então eu sei a razão do meu caminho fragmentado, do meu destino, dos meus percalços e recomeços, da minha poesia... e isto soa tão lindo e tão único qual o canto do meu pássaro trovador... meu pássaro que também é um livro sem título, mas quando abre seu peito (páginas?) ecoa esta poesia que é única, que quero colar dentro de um enredo, que quero dizer como diziam as primeiras poetas e a primeiro pessoa que amou neste planeta...

Bárbara Lia - 20/11/2012

Sunday, November 18, 2012

AS LOUCAS


Mulheres comportadas raramente fazem história. (Marilyn Monroe)


O estranhamento que causa uma mulher que não segue o - Manual das Senhorinhas Bem Comportadas de Todos os Tempos - pode render um livro. Confesso em cadernos e arquivos word as minhas inquietações. Um livro inteiro tentando dizer - Livre não é louco, Livre é Livre. Muitas coisas em carrossel diante dos meus olhos, valsam veias, valsam íris, valsam dentro da alma. Quando as pessoas encontram alguém livre ficam procurando o adjetivo. Todo mundo pode ser nominado de tantas coisas... Você é carismática, você é forte, você é guerreira, você é corajosa. Ouvi muito pela vida, a necessidade de encaixar cada um em um lugar. Os manuais e seus conceitos. A sociedade e suas classificações. Há muito descobri que sou uma - desviante do sistema. Alguém que não segue o que está escrito. Gosto de ter este diferencial, mas, é preciso muito tutano e força e asas para seguir inteiro, algumas vezes recolhendo pedaços.
Ninguém diz diante de uma pessoa alada - Você é Livre.
Encontram outro título pra justificar todo espanto - Você é Louca.
Ouvi muito isto. Sigo louca (LIVRE) e tentando entender cada fala.
Uma mulher que não se enquadra nas normas vive quebrando tabus.
Meu caminho pelas vielas da paixão é um nó sem fim, pois eu não abro as portas para nada e ninguém. Só me dou a quem desejo e me atrai e diz bem mais que atração apenas e diz um mundo e diz um encanto e diz poesias em sua fala, figura, caminho, estampa, voz e verdade. Por isto, só me apaixono por caras feras, com carisma e força (já me enganei também e das poucas vezes que me enganei foi com uma categoria chamada - zen. quando um homem se disser iluminado e vier com este papo de alturas, caia fora. estes se acham acima do bem e do mal e brincam com as pessoas, por acharem que tem o direito de não se dar, afinal, são tão puros e tão altos e tão iluminados que estão ali apenas para serem amados, admirados, tocados... entendeu? fuja deles, prefira os malucos todos, os bêbados, os tortos. fuja dos santos de pau oco) e então eu fico nesta via de mortes e ressurreições. A única coisa que sei é que minha loucura me salva de ligações pífias, uniões por interesses que não seja em si o encontro e a entrega, me salva do tédio, de um novo casamento sem afinidade, de dias e noites pensando em artimanhas e em como sobreviver dentro deste jogo doentio que é realmente o que embala a maioria dos casamentos, namoros e etc. Não namoro - eu me apaixono. Não jogo, eu dou as cartas no jardim de Afrodite. Se sou louca, viva! Na reta final, qual um velho trem que dá seu último apito, atira a última fumaça ao céu, quero mais é a solidão dos dias em paz. Não fosse o velho bicho da paixão atrás da porta, debaixo da cama, ao telefone, naquele livro, naquele palco, naquela rua... A paixão. Ela é a dona de mim e da minha "loucura". E mesmo com o maior susto diante da liberdade minha, a paixão me puxa, a paixão me leva, a paixão me expulsa e um belo dia, ela volta... -

Friday, November 16, 2012

O que tinha que ser...




O Que Tinha Que Ser
Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem 
E eu tua mulher.

Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de ser.




Mais um título para Éder Jofre -




Mais um título para Éder Jofre
(Portal Cronópios e Editora Patuá)



- Participo desta Antologia com a Poesia: No tempo em que éramos invencíveis.
Breve notícias sobre o lançamento.

Thursday, November 15, 2012

Vuelvo al sur...Lançamento de "A flor dentro da árvore" em Porto Alegre, 07 de dezembro

Volto a Porto Alegre a convite de Sandra Santos para lançar meu mais recente livro - A flor dentro da árvore. Em um evento do dia 07 de dezembro no Castelinho do Alto da Bronze Espaço Cultural.
Volto ao Sul do Sul, nesta cidade que é parte da minha jornada poética. Lançamentos e publicações e partilhas. Porto Alegre em final de primavera, a flor e a árvore já se preparam...

Convite especial - para a exposição Retrospectiva de Rosane Morais - A flor dentro da árvore e Atos de Paixão de Túlio Henrique Pereira (dramaturgia)

Wednesday, November 14, 2012

Prendimi l'anima - Bárbara Lia



No táxi ela recordou o signo: Um selo com o personagem daquele filme da tarde que se encontraram no cinema. Sincronias. Na tarde em que ela foi aos Correios viu o moço retirar os selos da gaveta e atirar diante dos olhos dela aquela imagem que evocava o encontro com o amante. Comprou o selo, pensou em postar uma carta com ele. Depois, decidiu presenteá-lo - um signo. Qual aquele outro filme onde o personagem de Carl Jung entrega a Sabina Spielrein uma pedra e pede que ela a guarde. A pedra pequena representava sua alma, ele disse. E ele pediu que ela levasse sempre a sua alma com ela. Como a mulher no táxi se sentia tênue e quase dissolvida, sua alma era de papel. Sua alma era um selo dos Correios. A imagem daquele mito ali impressa, suas palavras de asas, as mesmas que ela ouviu abismada naquele cinema onde se conheceram. No táxi o silêncio da noite compactuava com o seu espanto e com a certeza de que ele a tinha entre seus dedos. Esquecera o signo ao encontrá-lo, esquecera a promessa de entregar a ele aquela memória que a representaria. Esquecera tudo. Só lembrava o corpo dele e aquele filme onde Jung e sua amante estão enlaçados. Só lembrava ela e ele enlaçados e loucos e aquele outro casal enlaçado do filme. Da importância de dar sua alma para alguém levar pela vida e daquele filme e dos corpos nus e do gosto do sexo dele ainda brilhando entre seus dedos e o calor que evaporava de seu gozo ainda aura de luxúria em sua roupa... Não sabia quase nada dele. Embarcara em uma jornada de corpos. Não podia dizer-lhe não desde que as primeiras palavras de desejo pingaram em sua tela por conta de insólitas sincronias de imagens. O cinema é culpado. Por muitas horas de sexo, por muitos beijos, suspiros, encontros, lágrimas, gozo, gozo, gozo. O cinema... E ele era culpado por ser pura doçura envolvida em magnetismo daqueles homens que olham e enlaçam, alma a alma. No caso deles, pele a pele, corpo a corpo, gozo a gozo. O silêncio da noite e as lâmpadas pálidas. Ela pagou o taxista, entrou quintal adentro leve feito pluma. Girou a chave na porta, entrou e abriu a bolsa. Sua alma dançava na bolsa grande como a lembrá-la que era preciso entregar, entregar a alma nas mãos dele... Sabendo que já a entregara ao ficar ao lado dele naquela cama larga, nus e enlaçados, qual no filme Sabina & Carl. Tudo estagnado naquela hora agoniada - La petit mort... 
Amanhã ela enviaria pelos Correios a sua alma-papiro, sua alma-poema, sua alma-louca, sua alma-fêmea...

Bárbara Lia




Tuesday, November 13, 2012

A flor dentro da árvore / Noir / Cantata Fugace


A flor...

Poesia do livro Noir




A árvore...


Poesia do livro artesanal - Cantata Fugace - Poemas em Espanhol


Noir, último exemplar para a amiga de Adamantina


Barco de Lia no Rio de Cora


Poesia!



- Ensaio fotográfico da minha amiga de Adamantina Kátia Torres Negrisoli, dos livros a ela enviados.
A flor dentro da árvore - 2011
Noir - 2006
Cantata Fugace (Edições 21 gramas - 2010)



Monday, November 12, 2012

Corta!


                                               
                                               


Minha vida nunca foi assim:
filme ruim
(onde tudo dá certo no final)

Nunca choro, ainda que doa
viver dentro de enredos de Pasolini
ou dramas poéticos de Zurlini

Meu caminho - roteiro de pura Arte -
Deus/Fellini dirige
(Ele sempre sabe a hora de gritar: - Corta!)
Bárbara Lia

Imagens: cenas dos filmes -  La ragazza com la valigia e la prima notte di quietta - valerio zurlini

Saturday, November 10, 2012

Torquato Neto




Cogito

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível


eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora


eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim


eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto
(09/11/1944 - 10/11/1972)

Friday, November 09, 2012

Cinema Americano / Thais Gulin



fragmento de - Cinema Americano - de  Rodrigo Bittencourt
A ponte de safena Hollywood e o sucesso
O cinema a Casa Branca a frigideira e o sucesso
A Barra da Tijuca Hollywood e o sucesso
Prefiro os nossos sambistas
Prefiro o poeta pálido anti-homem que ri e que chora
Que lê Rimbaud, Verlaine, que é frágil e que te adora
Que entende o triunfo da poesia sobre o futebol
Mas que joga sua pelada todo domingo debaixo do sol
Prefere ao invés de Slayer ouvir Caetano ouvir Mano Chao
Não que Slayer não seja legal e visceral
A expressão do desespero do macho americano é normal
Esse medo da face fêmea dita por Cristo é natural
É preciso mais que um soco pra se fazer um som um homem um filme
É preciso seu amor seu feminino seu suíngue
Pra ser bom de cama é preciso muito mais do que um pau grande
É preciso ser macho ser fêmea ser elegante
Prefiro os nossos sambistas

Balada Literária 2012





Balada Literária 2012 - De 28 de novembro a 2 de dezembro

Homenageado - Raduan Nassar



link para a programação:

http://baladaliteraria.zip.net/



Wednesday, November 07, 2012

Mia Couto segue encantado e encantando



Parece que foi ontem, Mia Couto. Todo encanto de Maputo que ficou flanando dentro. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra foi o primeiro livro que li, depois de ler matérias e matérias na Internet. Depois de ler poemas, biografia. Em 2006 encontrei a escritora Helena Sut em um café. Ela voltava de Portugal e estendeu aquele livro azulado com um pégasus branco na capa: Raiz de Orvalho e outros poemas, da editora Caminho. Um presente pra mim, de Portugal. Traçou alguns paralelos entre nossas poesias. Fiquei me sentindo estranha, sempre fico estranha quando alguém me eleva ao lado dos meus mitos. Ainda nem acredito que sou poeta, foi outro dia, foi quando ele lançava Um rio chamado tempo... Foi neste tempo de primavera e anseio que atravessei a cidade para ir atrás da primeira possibilidade de publicar um livro. Toda vez que ele vem ao Brasil eu penso: Não é desta vez, ainda. Não posso ir até lá. 
Amanhã Mia Couto está aqui. Na minha cidade, convidado do Marcelo de Almeida em seu projeto - Conversa entre amigos - que é sempre nas Livrarias Curitiba. O encontro com o Mia foi transferido para o Teatro Paulo Autran, no Shopping Novo Batel, amanhã 19:30. Estava aqui contando as horas para ver este escritor fabuloso, este poeta moçambicano e apareceu um imprevisto. Família. Se meus filhos e neto me chamam, isto é mais que ver o Mia Couto. Não se abandona o céu e eles são meu céu...
Um dia desejei aprender com Mia Couto como "estrondar o encanto". Gosto de ler autores que te atiram meio a ondas de beleza e com elas te elevam súbito enquanto você lê um livro. Estas guinadas inesperadas. "Encantado silêncio das areias de Maputo" foi recentemente publicado na Revista Literatas, de Maputo... Entrou no meu livro Noir(2006)... Sempre escrevo aos que admiro, ou sobre eles. Algum dia eles entram em meus poemas. Mia entrou, sua imaginada figura pra sempre caminhando por uma branca praia, combinando com a luz de um dia bonito. Os escritores levam pras suas vidas o tom de seus livros. Não dá pra imaginar Alan Poe nesta luz que cega os olhos. Quando penso em Alan Poe tem sempre o lúgubre ao redor. Uma casa escura, um silêncio sinistro e é claro - corvos. Quando penso em Borges eu vejo escadarias, labirintos, bibliotecas, alfabetos vários. Vejo um lugar tranquilo também, alamedas, seus passos calmos ao lado de Estela Canto. Esta luz de Mia que o atira em seu próprio lugar, solar, branco, marinho... Tem a ver com sua vida de biólogo, com sua escrita perfeita que encanta, com a calma que ele transmite. Então, ele vai seguir encantado pra mim. Não importa. Algum dia em outro lugar em outro palco em outro espaço em uma noite ou dia, quiçá eu possa me aproximar com um livro, tímida como sempre fico diante dos gigantes, tentando pedir pra que ele assine e dizendo meu nome e guardando como relíquia o livro e as palavras. 
O que importa é seguir a traduzir o silêncio, a ver-se para não macular os livros com a falta de humanidade. Só aquele que se vê dentro pode inserir a humanidade naquilo que cria. E a humanidade faz muita falta hoje em dia. Seja bem-vindo à Curitiba, Mia. Seja acolhido com a força de um lugar que lê sua obra com ternura, que se encanta e respira fundo e pensa como pensei enquanto te lia: Que coisa mais linda...


(Escre)ver-me


nunca escrevi

sou 
apenas um tradutor de silêncios

a vida
tatuou-me nos olhos
janelas
em que me transcrevo e apago

sou
um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar

Fevereiro 1985

Mia Couto
Raiz do Orvalho e outros poemas
p. 60
Ed. Caminho



A morte é um silêncio suspenso
e o sol um silêncio vermelho
Nuvens em seu passeio
diante da janela do apartamento
Uma sinfonia em tons vários
a gritar – Silêncio!
Silencio.
Branca como estrelas e algas
passeio alvas areias de Maputo
olhando ao redor 
em busca de Mia Couto
ansiando que ele me ensine 
a estrondar o encanto

Bárbara Lia
(fragmento da poesia -  Encantado Silêncio das Areias de Maputo - Noir (2006) - poema reescrito)



Wednesday, October 31, 2012

Dia D


imagem: Wikipédia




Há 110 anos nascia Drummond, em Itabira (MG). O site Germina em uma publicação - Especial Dia D - o homenageia. Lembrei a leitura do Carlito Azevedo na FLIP, uma homenagem belíssima.



Tuesday, October 30, 2012

amanhã no museu guido viaro - curitiba


enquanto isto na 58° Feira do Livro em POA


5ª BookCrossing Blogueiro



Aderi ao 5° BookCrossing Blogueiros e vou começar a "esquecer" livros por ai. Um livro apenas entre os dias 08 e 16 de novembro - é pouco. Na última mudança separei livros que quero doar, então vou doar via esta poética atitude. Meu amigo Carlos Barros criou este movimento com outro nome lá pelo anos de 1994 /1995- era - tem poesia no meio do caminho - alguma coisa assim. Lembro que o Carlos era o campeão de projetos criativos. O Disque-Poesia era bem legal, a gente discava um número e ouvia um poema. O Buffet de Poesia, onde cada um escolhia os poemas para compor o livro que ia comprar, o primeiro projeto poético que participei na vida. Além de ter o dom de incentivar e mover e dizer pra uma mulher que lhe entrega o primeiro manuscrito escrito em sua vida: - Menina, tu és uma escritora - Carlos era um movimento vivo em prol da Poesia. Bons tempos. Foi ele que puxou o fio, que me tirou da gaveta, que jogou minha poesia em um projeto, à revelia do meu desejo e que incentivou a participar do primeiro concurso, que rendeu a minha primeira menção honrosa (crônica) na UBE/RJ em 1997. Então, hoje lembro o Carlos repassando livros e livros em minhas mãos. Lembro o meu caminhar sutil em cafés, praças, ônibus. "Esquecendo" belos livros pelo caminho. Lembro que foi em uma destas andanças com livros pela vida que caiu em minhas mãos - O amor nos tempos do cólera. E eu senti um desejo infindo de escrever belos romances, em estado de choque com aquela narrativa belíssima do García Márquez. Embora produzir um selo que contenha um recado simples assim: 
Este livro foi esquecido de propósito, quem o achar pode fazer o mesmo. "Esquecer" o livro em algum lugar - banco de praça, ônibus, shopping, cinema, lavanderia, bares, panificadoras, etc.

O movimento coordenado por este blog, pra quem desejar fazer parte:

http://luzdeluma.blogspot.com.br/2012/10/vem-ai-5-edicao-do-bookcrossing.html

Thursday, October 25, 2012

Enigma

uma palavra
que contém
outra palavra

uma dor
que agasalha
um céu

uma rota
que dá asas
e tira o ar

fotogramas
em flor 
de algodão

noir
sept ans
plus tard

roshanak:
a flor
dentro da árvore

21 gramas
alma beijo
e flor

kami
sky
kamikases
Bárbara Lia


Roshanak - palavra iraniana que significa - Pequena Estrela
Kami - no xintoísmo, ser com poderes que um ser humano comum não tem como: espíritos da natureza, protetores ancestrais... 




Sunday, October 21, 2012

Anaïs Nin




Hoje à noite eu o amo pelo modo adorável como ele me deu a Terra.
Anaïs Nin

Henry & June - Diários não-expurgados de Anaïs Nin (1931-1932) - L & PM Pocket

Friday, October 19, 2012

Aleluia, Back!

imagem do site CBN


Um gênio é um gênio é um gênio... 
É a frase que define para mim este poeta e cineasta nesta noite, depois de assistir ao filme - O Contestado-Restos Mortais.
A pré-estréia aconteceu hoje em Curitiba e Florianópolis. Dois Estados significantes para o cineasta e os dois Estados envolvidos na Guerra do Contestado. Recebi o convite do poetamigo para esta estréia. Sai do casulo para ir ao Crystal Shopping - Espaço Itaú de Cinema, com a certeza de que estava a caminho de uma experiência única. Desde o primeiro filme de Back até aqui isto ficou nítido para mim: Cada filme um mergulho no insondável e improvável. Não dá para prever nada, pois existe sempre uma superação do esperado. A isto eu chamo - O diferencial da Arte. 
O impacto de Cruz e Sousa - O poeta do desterro - despertou em mim esta espécie de febre de fã. Tenho esta mania. Se o livro de Camus - O estrangeiro - abalou meu coração em um inverno antigo, sai em busca de seus livros e tem sido assim com os meus autores favoritos. Não só com os livros, mas, sou capaz de ficar revirando arquivos para ir fundo em um drama, como fiz com a recente história dos assassinatos no Arizona e a insólita odisséia do garoto que foi para o corredor da morte aos dezenove anos e lá passou metade de sua vida até ser libertado para se tornar aquilo que sempre foi afinal, um escritor. E os escritores são estes caras loucos, desde sempre estranhos. Ser diferente em lugares onde a ignorância impera é quase um atestado de morte, enfim... Vivo a perseguir encantos. Este é o modo Bárbara Lia de ser e viver, perseguir o que a encanta. Meu encanto primeiro com Sylvio Back foi pela Poesia que puxou o fio com Cruz e Sousa e Helena Kolody (Babel da Luz). Fui em busca dos outros filmes e elegi Lost Zweig como o "meu mais amado", embora seja inegável a importância do impactante - Aleluia, Gretchen. Sylvio Back transita pelo mundo da poesia e do cinema alinhavando tudo e construindo este rico mosaíco. De quebra ele publica os roteiros de seus filmes e documentários. Suas pesquisas exaustivas e ricas fazem dele este cineasta incrível, mais de setenta vezes premiado. Uma usina viva. Pensamentos e ações e deslumbramentos e alumbramentos e gira a roda e volta o rio e lá está de novo a mesma trama em outra montagem. Um dia é a Guerra dos Pelados, no outro é Contestado - Restos Mortais. Vira e revira e escreve contos e poesias. A velha e boa poesia erótica com o requinte que ela necessita, sem fugir do encanto da poesia, sem resvalar para o tosco. Um exímio escultor dos versos recolhidos lá pelas gramas do Olimpo... Algum pacto com Eros, talvez. Trama nova a caminho - Angústia - de Graciliano Ramos. Um novo filme e aquela expectativa - Viver para ver Angústia. Em alguns dias depois da minha guinada para este caos que é viver por um fio por conta da hipertensão e otras cositas más, em muitos dias eu penso em quanto quero ficar viva para ver meu neto crescer, encontrar editor para meus livros, terminar meus projetos, conhecer lugares que ainda não conheço e também ver os filmes que estão a caminho... Angústia, por exemplo. Back, termine logo Angústia... Pedido de fã....
O Contestado - Restos mortais - Docudrama conduzido pela narrativa de historiadores, moradores da região - descendentes dos homens e mulheres que viveram aqueles dias e outros que eram criancinhas quando ocorreu o conflito - e a participação de médiuns em transe incorporados por personas que fizeram parte do conflito. Digo personas, pois tal qual o cineasta não sou Espírita. O que poderia ser o lado polêmico dentro desta obra acaba por trazer o toque de mistério final. Somando um  pouco mais ao que já existe de místico dentro do Contestado. As virgens e os monges. A certeza dos caboclos que entraram em uma espécie de êxtase coletivo, seguindo a cada etapa do conflito um líder religioso. A excepcional montagem deste filme conduz o expectador em uma vertiginosa maratona épica e mergulhos insólitos no coração de uma guerra insepulta.



“Como meus companheiros de vício, foi para discutir cinema que estudei teorias de linguagem, sociologias, psicologias, metafísicas várias que, de outra forma, nunca teriam me despertado o menor interesse. Naqueles ‘days of wine and roses’, todos sonhávamos em ser cineastas. Só um de nós, porém, foi com toda a força para cima do sonho. Esse mestiço alemão com húngaro, o ‘cacique do sul’, como o chamava o Glauber, que soube amar o cinema mais que todos nós”. 
Paulo Leminski


Entrevista com Sylvio Back na CBN
http://www.cbncuritiba.com.br/site/texto/noticia/Entrevista/8474

O Contestado - Restos mortais com lançamento agendado em cinco capitais: Curitiba e Florianópolis (19 de outubro), Porto Alegre (26/10), Rio de Janeiro (02/11) e São Paulo (23.11)

Wednesday, October 17, 2012

E ela o levou a caminhar na relva...











E ela o levou a caminhar na relva
Sentir na sola o orvalho das estrelas
Respirar o ar clorofila e alma de flores

Ela o levou enquanto ele estava lá:
Asas fechadas entre nove e doze pés
A relembrar indefectíveis passagens

O horizonte lilás desfazendo-se em lágrimas
O passo lento da busca pelo impossível
Os sonhos queimando acetileno nos cílios

Nenhum menino levará consigo como madeiro
Atado às costas em eternidade entranhada
Os erros dos dezesseis anos – Ele levará...

Um poeta no corredor da morte revira o caos
Retira os grãos da vida e os separa
Prepara a sopa da beleza em letras mínimas

Um inocente no corredor da morte a gritar
A vida dura é apenas vida dura – pense nisto
Dura é a vida que não dura sem motivo

Quando ela chegou ele ficou sem ar
A esperança eletrizada qual dança dos dervixes
A vida mergulhada em luz e sons de Paganini

O amor é uma aposta contra o nada
O nada é o futuro - a injeção letal
O dedo do fim a queimar feito vela acesa

O amor é uma luta contra o tempo
Girar a roda, convocar os navios
Aliar-se ao capitão dos mares

O amor é uma luta épica contra a morte
O amor é a candura e o eterno suporte
O amor é esperar e esperar e esperar

Até chegar o instante da Poesia
Andar na relva, na real chuva, na manhã anis
Mãos dadas com o menino da fotografia

Este que sabe da colheita predatória
E que inocentes morrem na câmara fria
E nem todos têm a sorte da visita fiel:
Um amor para dar asas e te levar pela vida...

...E ela o levou a caminhar na relva

Bárbara Lia
- 17/10/2012


(Poesia inspirada na imagem de Lorri Davis abraçada à foto do seu amor – Damien Echols – no tempo em que ele estava no corredor da morte, condenado por crimes que não cometeu)



Poesias de Damien Echols:



Passei cinco dias mergulhada na trajetória inacreditável deste caso - vi Paradise Lost 1, 2 e 3 e li que Damien Echols lançou recentemente o livro que ele escreveu no corredor da morte (onde passou metade de sua vida) - Life After Death. As críticas ao livro são boas e Damien tem talento literário, ao que parece. Johnny Deep comprou os direitos para filmagem. Atualmente em fase de filmagem a adaptação de outro livro escrito por Mara Leveritt - Devil"s Knot - com Reese WitherspoonColin Firth  no elenco.
Mais informações sobre este caso que gerou o movimento conhecido como West Memphis Three:

http://cinemasmorra.com.br/paradise-lost-a-trilogia-de-documentarios-que-salvaram-vidas/

http://wm3.org/







Friday, October 12, 2012

Helena


Caixinha de Música - Helena Kolody
SEEC - PR - 1996



Há cem anos nascia Helena Kolody. Entre os dias 08 e 11 a Biblioteca Pública promoveu a - Semana Helena Kolody 100 anos. Helena era meiga e calma. Nasceu em Cruz Machado, viveu em Curitiba, lecionou no Instituto de Educação. Nunca se casou, não teve filhos. Foi noiva e seu noivado foi rompido por ela, pois o poeta com quem ela se casaria tinha o hábito de beber. Helena viveu a poesia e conviveu com levezas. Abraçou isto para si e sua obra é o espelho de seus passos: Filosofia e beleza. Nada ralo, nada pobre. Era extremamente rica a alma de Helena e cada qual só pode dizer de sua própria alma. Um poeta não precisa escrever sua vida, ele pode ser lido em seus versos de forma nítida. A primeira vez que li um verso dela eu não sabia que era dela. Por muito tempo eu olhava para um muro extenso e escuro onde estava grafado o poema acima - Para quem viaja ao encontro do sol, é sempre madrugada. Como álcool que a gente pinga na ferida viva. Quando eu me atrasava e precisava ir voando para o trabalho eu chamava um táxi e perdia meu olhar naquele muro e um ruído estrondava. Gravei palavra a palavra. Naqueles dias eu havia me separado, meu pai e mãe haviam morrido, eu estudava Psicologia na Tuiuti. Estudei apenas um ano e desisti. Tinha três filhos e sustentava sozinha a casa, a escola das crianças, meu curso. Eu buscava outro caminho. Só não havia ainda me rendido ao que gritava em mim desde menina - A Poesia. Foi justamente a poesia que murmurou ecos, estrondou verdades. Para quem viaja ao encontro do sol... Eu vivia a escuridão do caos, os atropelos da vida, estava perdida. Sairia deste momento de perdas para os braços do Poema - Minha Madrugada. Este foi meu primeiro encontro com Helena Kolody - Um verso-recado em um muro marrom a questionar o caminho. Alguns anos depois eu fui ao lançamento de sua Antologia. Entrei no Teatro Londrina e esperei. Na fila com meu filho pequeno entre senhoras curitibanas com suas roupas finas e penteados e jóias. Eu vestia uma camiseta do Congresso de Poesia, um jeans surrado e destoava um pouco daquele cenário. Quando entreguei o livro para Helena ela olhou meus olhos de Poesia, a camiseta do Congresso de Poesia de Bento Gonçalves e disse: _ Você é poetisa. Eu disse que sim, embora até ali minha única aparição como poeta foi justamento no Congresso puxada pela mão pelo poeta Carlos Barros. A fila que esperasse. O domingo que fechasse as portas. Ela tinha algo a me dizer. Com calma enquanto escrevia com sua letra pequena - À inspirada poetisa - Bárbara Lia - ela deu um recado: Quando comecei a escrever eu guardava folhas de papel. Juntei muito papel A4 para imprimir meus livros. Não desanime com nada, vá juntando o material que você precisa para imprimir seus livros. Ela contou rapidamente sua experiência. Lição de vida, sem se preocupar com nada. Como se  no mundo existisse apenas ela e uma poeta que chega, um livro em uma das mãos e o filho na outra. Domingo de sol e o murmúrio de pessoas no Largo da Ordem. Aquele recado: Persevere, mesmo que seja preciso guardar ano após ano o papel para seu livro. Foi assim meu encontro com Helena Kolody. Quando trabalhei por algum tempo no IBGE, fechada em um lugar cheio de papéis e meninos universitários, conheci o neto do poeta que Helena amou. Com um orgulho nada disfarçado ele me disse que - poderia ser o neto de Helena Kolody. Contou-me que seu avô era o poeta que quase casou com Helena. Quase disse - Mas, se Helena se casa com seu avô - você nem existiria. Calei. Que importa as leis da biologia e a realidade se um sonho bonito vive na alma de uma pessoa. Eu apenas sorri ao quase-neto de Helena. 
Somos totalmente opostas - Helena e eu. Só a Poesia que passeia em nossas veias nos une. Meu único marido gostava muito de beber, não era o genro sonhado por meus pais, nosso casamento não foi adiante. O que eu sei de mim é que eu sou louca e Helena era luz. Eu vivo mais a minha humanidade: ela vivia mais a sua porção divinizada. Curitiba a ama e com razão. Alguns em Curitiba me detestam, nem sei se eles tem razão. Nada importa. Sempre quis mergulhar na realidade anímica nua e crua. Para ser eu mesma, eu dispo os véus, peço licença à Deus, mergulho em mim. Admiro quem não desgruda sua alma das coisas puras e quem consegue abdicar. Eu nunca abdiquei. Sempre abracei o risco e fiz questão de colocar à prova o meu sentir, o meu querer, o meu desejar... Sei que os anjos estão extenuados. Sei que dou muito trabalho a quem cuida de mim - se é que existe quem cuida da gente neste chão. Admiro Helena e seus versos que são diamantes rascantes. Vão tocando a alma e a carne e seus recados são ternos, são precisos, são a voz de quem passou a vida a meditar a mergulhar nas águas límpidas da beleza. Ah! Quem me dera cem anos e a paz do Paraíso. A mim restou o pequeno inferno e os barcos naufragados, esta poesia de chama e lágrima. Alguma luz que salta, uma flor votiva, uma canção dos Beatles ecoando ao longe. Um caminho de espinhos e uma cama serena. Amantes, primaveras, filhos. O meu poema é um grito sem resposta. Uma interrogação de aço. Minha alma casa mais com Frida ou Hilda Hilst, não deixa de esconder dentro, dentro, dentro, onde apenas alguns tocam, aquele sereno azul celeste da alma de Helena...

La nave va...

Uma Entrevista na Revista Arte Cítrica n°3

  Na página 94 uma entrevista sobre minha vida de poeta na bela edição da Revista Arte Cítrica nº 3: https://drive.google.com/file/d/1PPTZT6...