O POETA MORRERÁ!
O poeta morrerá
Às dezoito horas
De um dia fora do tempo
-sem aviso-
O poeta morrerá
Em cada manhã de caos
De pão saturado de suor
De ruas saturadas de rancor
O poeta morrerá
Meio ao comercial
Da loja de colchões
O poeta morrerá -
Uma Pietá a amparar
Suas asas quebradas -
Na penumbra dos umbrais
O poeta morreu
Poe Orpheu
(e corvos tão iguais
nos beirais)
Bárbara Lia
Cigarras no Apocalipse
21 gramas/2010
http://edicoes21gramas.blogspot.com/
-
Monday, November 29, 2010
Sunday, November 28, 2010
(...)
O vácuo do amor natural me sugava. A mata inteira que me rodeava e seus rios escondidos, cada animal livre, cada beija-flor, cada flor. Respirar fundo deu um tom cinza escuro à minha solidão. Lavaria em cada manhã esta solidão na beleza natural que há de ser Deus. Até que minha solidão se tornasse branca. No mosteiro onde agora eu estava – casa de Nyx. Pressenti no primeiro café da manhã que era um rito: tarefas divididas. Pressenti que a minha busca pela paz seria solitária. Aliviada por ter encontrado um lugar para me encontrar que não fosse uma clínica de loucos ou uma igreja destas que querem produzir santos às dúzias.
Pensei nas pessoas que neste instante estavam na granítica selva de edifícios, longe das pássaros, com os pulmões saturados de fumaça, e tive pena. Tive pena de mim, tomada de absurda saudade da mãe. Olhos marejados diante da horta: tinha chicória. Eu não via chicória há muitos anos e reconheceria se visse dali a milênios. Revi as mãos da mãe a segurar o maço da hortaliça salpicada da manhã orvalhada. Ajoelhei ao lado do canteiro e chorei um rio. Chicória temperada com lágrimas, arroz integral, queijo tofu. Almoço zen. O silêncio da tarde lendo na varanda passou outra mão de tinta clara na minha solidão cinza... Um dia ela seria branca como aquela nuvem.
Bárbara Lia
Constelação de Ossos (ed. Vidráguas / 2010)
(fragmento)
Saturday, November 27, 2010
Friday, November 26, 2010
Minhas Poesias Preferidas XI
Cabeceira
Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
"da sombra daquele beijo
que farei?"
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente?
sobre a minha mão
Ana Cristina César
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Cristina_Cesar
Intratável.
Não quero mais pôr poemas no papel
nem dar a conhecer minha ternura.
Faço ar de dura,
muito sóbria e dura,
não pergunto
"da sombra daquele beijo
que farei?"
É inútil
ficar à escuta
ou manobrar a lupa
da adivinhação.
Dito isto
o livro de cabeceira cai no chão.
Tua mão que desliza
distraidamente?
sobre a minha mão
Ana Cristina César
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Cristina_Cesar
“Escanear os céus com um ar suspeito” E. Dickinson
Não olhes o sol
A olho nu
Isto se chama
Violentar Deus
Irado, Ele abrirá
Escaras em tua retina
Abrirá o portal
Do abismo
Para cegar teu olhar
Que ousa afrontar
A Luz!
Bárbara Lia
Tuesday, November 23, 2010
cabeça ativa
Na Casa das Rosas recebi este exemplar da Revista Lítero-Temática - Cabeça Ativa. Edições Costela Felina - Os poetas Vieira Vivo e Cláudia Brino passaram por lá e deixaram seus livros - Aladas ondas ao nada (Viveira Vivo) e Palavras (Cláudia Brino) -os editores da revista que está no nº 11, nesta edição entre muitos poetas - Eugénio de Andrade, Cacaso, os editores, Álvaro Alves de Faria, Ernani Fraga na poesia acima.
O email da revista cacbvv@gmail.com
Sunday, November 21, 2010
"A leitura é obrigatória e escrever é uma transgressão" E. M. de Melo e Castro
E. M. de Melo e Castro
Muito bom ouvir o poeta português E. M. de Melo e Castro. Saber que ele também vê a poesia como uma Arte Rara. Que não imprime mais que 300 exemplares de cada livro. Que não tem delírios de best-seller com algo que sabemos é mesmo um rio precioso que alguns procuram para beber suas águas. O fato de sua família não incentivar o menino que escreve poesia, mas, exigir que o mesmo menino leia. Esta falta de senso que impera. Foi uma alegria ter coragem de ir a Sampa. Rever minha querida amiga Rebecca Loise e o meu sempre confidente Luar Sanchez com sua mulher - a Norma - receber o carinho dos poetas de Santos que foram ao meu encontro - meu amigo Ernani Fraga, Vieira Vivo e Cláudia Brino. Conhecer a Beatriz Bajo e a Samantha Abreu, o Maicknuclear. Rever o meu querido amigo Marcelo Ariel. Muitos poetas no palco. Eu disse - coragem para ir por estar em tratamento médico - a pressão nas alturas e nem podia beber absinto. Sem absinto a noite foi só da Poesia. Ainda não abri a mala, com os livros e as memórias.
Fernando Pessoa Plural Como o Universo
Passei a manhã de sábado com Fernando Pessoa - Museu da Lingua Portuguesa e a exposição - Fernando Pessoa Plural Como o Universo - Não levei máquina fotográfica e desta vez era permitido. Gravei a exposição no coração.
"eu sou muitos"
Nos painéis uma descoberta - A Letra do Meu Pai - tão igual que fiquei a ler os poemas escritos à mão. Uma instalação suspensa - Uma mesa pequena com uma edição do Orpheu - 2 - o chapéu - duas cadeiras - uma xícara de café.
Uma emoção ver a publicação de "Tabacaria" na revista - Presença - Folha de Arte e Crítica - de Coimbra - Julho de 1933.
E uma projeção linda na areia molhada de versos do poema D. Sebastião e Mar Salgado...
A exposição está linda - não sabia que no sábado a entrada é franca - centenas de visitantes, alunos acompanhados de seus professores. Amo ver a meninada em volta da Poesia.
Cidade aTravessa : a poesia dos lugares: - Casa das Rosas - algumas imagens
Paulo Scott e E. M. de Melo e Castro
Lendo um fragmento de - Constelação de Ossos - para uma Constelação de Poetas
Brinde com Absinto antes de cada leitura
Finalmente conheci o Pipol pessoalmente
o chapéu do Pipol
Fabiano Calixto
performance do Victor Paes
Márcio André - um dos apresentadores - direto de Lisboa
Performance da Lúcia Rosa
Marcelo Ariel
Elisa Andrade Buzzo
Flávio Viegas Amoreira
Carlos Pessoa Rosa
Celso de Alencar
Ronaldo Ferrito
Edson Bueno de Camargo
as fotos acima são de Cecilia Camargo do álbum do Edson:
http://www.facebook.com/photo.php?pid=405897&id=100000337561651#!/album.php?aid=32491&id=100000337561651
Thursday, November 18, 2010
Wednesday, November 17, 2010
Tuesday, November 16, 2010
Minhas Poesias Preferidas X
UMA NUVEM NA MINHA MÃO
Selaram os cavalos,
não sabem por quê
mas selaram os cavalos na planície.
... O lugar estava preparado para seu nascimento: um monte
feito com o manjericão dos avós, dando a leste e oeste. E uma oliveira
perto de outra nos livros sagrados, a elevar os limites da língua...
e fumaça lápis-lázuli a arrumar este dia por algo
que só interessa a Deus. Março é criança
mimada. Março espalha algodão nas
amendoeiras. Faz banquete da malvinha para o pátio das igrejas.
Março é terra para a noite das andorinhas, e para a mulher
prestes a dar o grito nas pradarias... e estender-se nos
carvalhos.
(...)
MAHMOUD DARWICH
tradução Michel Sleiman
Fragmento da poesia - Uma nuvem na minha mão. Uma das poesias que li na Noite de Poesia Árabe em 2006 e que termina com estes versos que eu adoro...
Selaram os cavalos,
não sabem por quê,
mas selaram os cavalos
no final da noite, e esperaram
sair um fantasma das rachaduras...
Mahmoud Darwich, um dos mais expressivos poetas do nosso tempo.
http://es.wikipedia.org/wiki/Mahmud_Darwish
Selaram os cavalos,
não sabem por quê
mas selaram os cavalos na planície.
... O lugar estava preparado para seu nascimento: um monte
feito com o manjericão dos avós, dando a leste e oeste. E uma oliveira
perto de outra nos livros sagrados, a elevar os limites da língua...
e fumaça lápis-lázuli a arrumar este dia por algo
que só interessa a Deus. Março é criança
mimada. Março espalha algodão nas
amendoeiras. Faz banquete da malvinha para o pátio das igrejas.
Março é terra para a noite das andorinhas, e para a mulher
prestes a dar o grito nas pradarias... e estender-se nos
carvalhos.
(...)
MAHMOUD DARWICH
tradução Michel Sleiman
Fragmento da poesia - Uma nuvem na minha mão. Uma das poesias que li na Noite de Poesia Árabe em 2006 e que termina com estes versos que eu adoro...
Selaram os cavalos,
não sabem por quê,
mas selaram os cavalos
no final da noite, e esperaram
sair um fantasma das rachaduras...
Mahmoud Darwich, um dos mais expressivos poetas do nosso tempo.
http://es.wikipedia.org/wiki/Mahmud_Darwish
Thursday, November 11, 2010
Trégua
Luiz César e eu
Estiquei por mais de meio século minha força. Estiquei ao limite da força. Passei uma semana cortando e colando poesias e publicando alguns convites que recebi... Na verdade eu passei uma semana feito um zumbi. Nesta semana fiquei dando força para os três filhos meus que perderam o pai subitamente, vitima de um infarto fulminante aos 49 anos. Hoje decidi dar uma trégua, decidi falar da minha vida pessoal... Por mais que evite, neste momento é preciso. Normal mesmo eu nunca mais vou ser. Ninguém pode ser normal vivendo a experiência da Poesia. Tentei separar a minha experiência pessoal desta página. A humanidade falou mais alto. Não sou uma máquina que consegue triturar tudo. Talvez eu enfrente mais fácil quando dói em mim, tenho enfrentado muita coisa. Comentei com uma pessoa que tentava insinuar que eu não fui mesmo muito apegada ao pai dos meus filhos pós-separação e que ela não entendia o meu desabamento, a minha prostração. Então eu expliquei que ver a dor dos meus filhos por perder o pai era mais difícil para mim do que minha própria perda. Foi mesmo um momento complexo - cuidar de cada filho, contar a cada um a inesperada notícia, de amparar até passar o impacto e de esperar que de agora em diante eles tenham força para conviver com esta ausência. Fiquei nove anos casada com o pai deles. Considero sua família, minha família. A avó deles é minha sogra que insiste em ser minha sogra. Os irmãos dele dão mais atenção aos meus filhos que meus irmãos e ele esteve presente na vida dos filhos, mesmo que há quase vinte anos nosso casamento tenha ruído. Por isto, vou dar uma trégua e recuperar o fôlego. Estamos noivos nesta foto antiga, estamos felizes. Somos um casal, nada preparados e nem maduros para a experiência da vida a dois. Estivemos mais próximos neste ano por conta do nascimento do neto. Ele nunca entendeu os códigos de Bárbara Lia. Ninguém entende. A utopia incandescente de uma mulher que só consegue viver qualquer relação em harmonia. Geralmente, na maioria dos casos, não é possível.
Breve notícias do novo lançamento de - Constelação de Ossos.
Breve notícias do novo lançamento de - Constelação de Ossos.
Wednesday, November 10, 2010
Minhas Poesias Preferidas - IX
CIUDAD SIN SUEÑO (NOCTURNO DEL BROOKLYN BRIDGE)
No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Las criaturas de la luna huelen y rondan sus cabañas.
Vendrán las iguanas vivas a morder a los hombres que no sueñan
y el que huye con el corazón roto encontrará por las esquinas
al increíble cocodrilo quieto bajo la tierna protesta de los astros.
No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Hay un muerto en el cementerio más lejano
que se queja tres años
porque tiene un paisaje seco en la rodilla;
y el niño que enterraron esta mañana lloraba tanto
que hubo necesidad de llamar a los perros para que callase.
No es sueño la vida. ¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!
Nos caemos por las escaleras para comer la tierra húmeda
o subimos al filo de la nieve con el coro de las dalias muertas.
Pero no hay olvido, ni sueño:
carne viva. Los besos atan las bocas
en una maraña de venas recientes
y al que le duele su dolor le dolerá sin descanso
y al que teme la muerte la llevará sobre sus hombros.
Un día
los caballos vivirán en las tabernas
y las hormigas furiosas
atacarán los cielos amarillos que se refugian en los ojos de las vacas.
Otro día
veremos la resurrección de las mariposas disecadas
y aún andando por un paisaje de esponjas grises y barcos mudos
veremos brillar nuestro anillo y manar rosas de nuestra lengua.
¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!
A los que guardan todavía huellas de zarpa y aguacero,
a aquel muchacho que llora porque no sabe la invención del puente
o a aquel muerto que ya no tiene más que la cabeza y un zapato,
hay que llevarlos al muro donde iguanas y sierpes esperan,
donde espera la dentadura del oso,
donde espera la mano momificada del niño
y la piel del camello se eriza con un violento escalofrío azul.
No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Pero si alguien cierra los ojos,
¡azotadlo, hijos míos, azotadlo!
Haya un panorama de ojos abiertos
y amargas llagas encendidas.
No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie.
Ya lo he dicho.
No duerme nadie.
Pero si alguien tiene por la noche exceso de musgo en las sienes,
abrid los escotillones para que vea bajo la luna
las copas falsas, el veneno y la calavera de los teatros.
FEDERICO GARCIA LORCA
No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Las criaturas de la luna huelen y rondan sus cabañas.
Vendrán las iguanas vivas a morder a los hombres que no sueñan
y el que huye con el corazón roto encontrará por las esquinas
al increíble cocodrilo quieto bajo la tierna protesta de los astros.
No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Hay un muerto en el cementerio más lejano
que se queja tres años
porque tiene un paisaje seco en la rodilla;
y el niño que enterraron esta mañana lloraba tanto
que hubo necesidad de llamar a los perros para que callase.
No es sueño la vida. ¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!
Nos caemos por las escaleras para comer la tierra húmeda
o subimos al filo de la nieve con el coro de las dalias muertas.
Pero no hay olvido, ni sueño:
carne viva. Los besos atan las bocas
en una maraña de venas recientes
y al que le duele su dolor le dolerá sin descanso
y al que teme la muerte la llevará sobre sus hombros.
Un día
los caballos vivirán en las tabernas
y las hormigas furiosas
atacarán los cielos amarillos que se refugian en los ojos de las vacas.
Otro día
veremos la resurrección de las mariposas disecadas
y aún andando por un paisaje de esponjas grises y barcos mudos
veremos brillar nuestro anillo y manar rosas de nuestra lengua.
¡Alerta! ¡Alerta! ¡Alerta!
A los que guardan todavía huellas de zarpa y aguacero,
a aquel muchacho que llora porque no sabe la invención del puente
o a aquel muerto que ya no tiene más que la cabeza y un zapato,
hay que llevarlos al muro donde iguanas y sierpes esperan,
donde espera la dentadura del oso,
donde espera la mano momificada del niño
y la piel del camello se eriza con un violento escalofrío azul.
No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No duerme nadie.
Pero si alguien cierra los ojos,
¡azotadlo, hijos míos, azotadlo!
Haya un panorama de ojos abiertos
y amargas llagas encendidas.
No duerme nadie por el mundo. Nadie, nadie.
Ya lo he dicho.
No duerme nadie.
Pero si alguien tiene por la noche exceso de musgo en las sienes,
abrid los escotillones para que vea bajo la luna
las copas falsas, el veneno y la calavera de los teatros.
FEDERICO GARCIA LORCA
Tuesday, November 09, 2010
Prêmio Ufes
“Dentro da minha flor me escondo”
Baile das harpias
Em árvores carbonizadas
Rindo do fim
Fumaça sangra
Nosso jardim
A alma do éden
Adoentada.
“Toda coberta de insidioso musgo”
Sol magenta de maio
Alma dos ancestrais
No corredor
As goiabeiras
O relógio cuco
O mundo tinha musgo
No chão
Nas paredes
No vão das cercas
Nos alfarrábios
O mundo inabitado - Esquecido
Que se fecha sem ruído
Em saudade - Evapora
Azul de signos
Molhado de lágrimas
Bárbara Lia
+ 2 Poesias do Prêmio Ufes
Minhas Poesias Preferidas VIII
Lílitchka!
Em lugar de uma carta
Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto –
um capítulo do inferno de Krutchônikh.
Recorda –
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração – aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu “hall” escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
Lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
O meu amor – duro fardo por certo –
pesará sobre ti
onde quer que ti encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
Num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
Ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
Para mim
Não há sol,
E eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com o seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.
Vladímir Maiakóvski
26 de maio de 1916. Petrogrado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vladimir_Maiakovski
Em lugar de uma carta
Fumo de tabaco rói o ar.
O quarto –
um capítulo do inferno de Krutchônikh.
Recorda –
atrás desta janela
pela primeira vez
apertei tuas mãos, atônito.
Hoje te sentas,
no coração – aço.
Um dia mais
e me expulsarás,
talvez, com zanga.
No teu “hall” escuro longamente o braço,
trêmulo, se recusa a entrar na manga.
Sairei correndo,
Lançarei meu corpo à rua.
Transtornado,
tornado
louco pelo desespero.
Não o consintas,
meu amor,
meu bem,
digamos até logo agora.
De qualquer forma
O meu amor – duro fardo por certo –
pesará sobre ti
onde quer que ti encontres.
Deixa que o fel da mágoa ressentida
Num último grito estronde.
Quando um boi está morto de trabalho
ele se vai
e se deita na água fria.
Afora o teu amor
para mim
não há mar,
e a dor do teu amor nem a lágrima alivia.
Quando o elefante cansado quer repouso
Ele jaz como um rei na areia ardente.
Afora o teu amor
Para mim
Não há sol,
E eu não sei onde estás e com quem.
Se ela assim torturasse um poeta,
ele
trocaria sua amada por dinheiro e glória,
mas a mim
nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com o seu brilho.
Amanhã esquecerás
que eu te pus num pedestal,
que incendiei de amor uma alma livre,
e os dias vãos – rodopiante carnaval –
dispersarão as folhas dos meus livros...
Acaso as folhas secas destes versos
far-te-ão parar,
respiração opressa?
Deixa-me ao menos
arrelvar numa última carícia
teu passo que se apressa.
Vladímir Maiakóvski
26 de maio de 1916. Petrogrado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vladimir_Maiakovski
Sunday, November 07, 2010
Coreografia do Caos
Ele vive a tecer estas rimas urgentes.
Trazendo a paz ou o caos de presente.
Fazendo a gente rimar com outra gente.
Trombadas.
Acidentes.
Malas Perdidas.
Vidas Cruzadas:
Rimas de Deus.
Bárbara Lia
Minhas poesias preferidas VII
Fala
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade)
ORIDES FONTELA
http://pt.wikipedia.org/wiki/Orides_de_Lourdes_Teixeira_Fontela
Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.
Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.
Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.
Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.
(Toda palavra é crueldade)
ORIDES FONTELA
http://pt.wikipedia.org/wiki/Orides_de_Lourdes_Teixeira_Fontela
( Estas postagens das minhas poesias preferidas - na verdade é uma pequena seleção para lembrar alguns poetas que sacudiram dentro e que eu recordo com poesias esparsas. A obra é muito maior e cada qual verteu belezas neste legado maravilhoso )
Saturday, November 06, 2010
"Há Muitas Noites na Noite"
Convite que recebi do Màrcio-André:
'Há Muitas Noites na Noite'
Data: 7 de novembro a 18 de dezembro de 2010
Local: Oi Futuro Ipanema
Endereço: R. Visconde de Pirajá, 54/3º and - Ipanema
Tel para informações: (21) 3201-3010
Horário de Funcionamento: De terça a domingo, das 13h às 21h
Entrada Franca
Classificação etária: livre
Acesso para pessoas portadoras de necessidades especiais em cadeira de rodas.
Friday, November 05, 2010
Minhas Poesias Preferidas VI
No Caminho com Maikakóvski
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_Alves_da_Costa
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Eduardo Alves da Costa
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eduardo_Alves_da_Costa
Tuesday, November 02, 2010
Minhas Poesias Preferidas V
Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
AUGUSTO DOS ANJOS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
AUGUSTO DOS ANJOS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Augusto_dos_Anjos
Monday, November 01, 2010
Nove vozes e uma "constelação"
"Que bela literatura o constelação de ossos! Que venha mais escritas assim!"
"Um texto escrito realmente com o apuro e carinho estético que a poesia merece"
Ana Cristina Gonzales - Poa
"Tua prosa poética é deliciosa, delicada, intensa, primorosa, amiga Bárbara! Mas... de onde vem tanta tristeza?"
"lindo amiga, Axé!!!"
Ia Santanché (Salvador)
"Foi um daqueles em que termino sorrindo (por ter lido uma história boa, riso de saudade de personagem). Não gosto de comparações, mas em certos momentos "Constelação" me levou aos livros de Nélida Piñon. Não que sua escrita seja parecida com a dela, muito menos o enredo ou os personagens, mas o modo como trabalha a linguagem. Achei belíssimo."
Leonardo Fernandes Paiva - Pedralva - MG
"Que livro bonito!
Que bonito!
tuas histórias (essa e a do Solidão Calcinada) são de uma sagacidade tocante.
Coisa fina!
Muito obrigada!"
Samantha Abreu - Londrina
Teu livro chegou ontem pela manhã. Li de um galope só. Excelente! Belíssima história. Parabéns!
Cláudio B. Carlos - Santa Cruz do Sul - RS
"Nossa, Bárbara, eu adorei teu livro. Você fez algumas alterações, não é? O final está diferente. Enfim, eu o tinha lido no computador aquela vez, não tinha percebido o quanto é legal. Lendo assim, impresso, achei muito bom. Você está escrevendo muito bem. Você sabe que eu leio bastante, e sei o que estou dizendo. Você deve saber que eu não sou de ficar fazendo falsos elogios. Você tem publicado e ganhado prêmios, e sabe que teus escritos têm muito valor. Mas não abro mão de dar minha opinião sincera: teu livro me comoveu e me prendeu do começo ao fim, tua Lyn é uma criatura fascinante."
Luciane Heleno - Curitiba
"Amei, amei.................parabéns, Bárbara Lia, bicho do PR!!!!!!!...:))"
---
Algumas considerações dos leitores sobre meu novo livro _ Constelação de Ossos _ o depoimento da Luciane Heleno surpreendeu, por ser a pessoa que revisou o livro. As pessoas dizem que o futuro é a publicação na Internet. Mas, é certo que a palavra impressa, que um livro nas mãos abre portas mágicas. Que a concentrada leitura é um rito, este sagrado rito, pórtico para um outro lugar. Recebo críticas por não enviar livros aos críticos. Por não procurar um grande editor, mas, o escritor só existe através dos olhos e alma de quem palmilha as páginas. Já é desgastante demais ser escritor neste País, então, eu quero mesmo esta partilha sublime, quiçá eu me esforce em ser uma escritora - normal - eu que sou poeta, poeta apenas.
Minhas Poesias Preferidas IV
Algo existe num dia de verão,
No lento apagar de suas chamas,
Que me impele a ser solene.
Algo, num meio-dia de verão,
Uma fundura – um azul – uma fragrância,
Que o êxtase transcende.
Há, também, numa noite de verão,
Algo tão brilhante e arrebatador
Que só para ver aplaudo -
E escondo minha face inquisidora
Receando que um encanto assim tão trêmulo
E sutil, de mim se escape.
EMILY DICKINSON
(1830-1886)
Tradução de Lucia Olinto
http://pt.wikipedia.org/wiki/Emily_Dickinson
No lento apagar de suas chamas,
Que me impele a ser solene.
Algo, num meio-dia de verão,
Uma fundura – um azul – uma fragrância,
Que o êxtase transcende.
Há, também, numa noite de verão,
Algo tão brilhante e arrebatador
Que só para ver aplaudo -
E escondo minha face inquisidora
Receando que um encanto assim tão trêmulo
E sutil, de mim se escape.
EMILY DICKINSON
(1830-1886)
Tradução de Lucia Olinto
http://pt.wikipedia.org/wiki/Emily_Dickinson
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