Thursday, November 24, 2005

hilda hilst / bárbara lia
















infinite woman - juan miguel giralt-



Vida da minha alma:
Um dia nossas sombras
Serão lagos, águas
Beirando antiqüíssimos telhados.
De argila e luz
Fosforescentes, magos,
Um tempo no depois
Seremos um só corpo adolescente.
Eu estarei em ti
Transfixiada. Em mim
Teu corpo. Duas almas
Nômades, perenes
Texturadas de mútua sedução.


HILDA HILST

(Cantares de Perda e Predileção - São Paulo: Massao Ohno & M. Lydia Pires e Albuquerque Editores, 1983)


***


acordes rascantes do amor em goles.
chávena com alfabeto fenício - início.
olhar de mel silvestre
e este curvo instante,
brancura do éden erguida
distante da rua de pedra.
vôo primeiro,
asas do flamingo a roçar o ar
em dilúvio de flores.
chuva azul debaixo da mesa.
castanholas, vermelha dança flamenca
acordando a lua.
ar gélido da rua nos desperta,
a noite começa com um sol sem juízo.
chaleira chia,
dança em meus olhos
o teu sorriso.

- Bárbara Lia -

Wednesday, November 23, 2005

before night falls














- Para um escritor solar que como eu amava a lua - esta branca pele de lírio que clareia tudo - até os tristes.


" Oh Luna! Siempre estuviste a mi lado, alumbrándome en los momentos más terribles; desde mi infancia fuiste el misterio que velaste por mi terror, fuiste el consuelo en las noches mas desesperadas, fuiste mi propia madre, bañándome en un calor que ella tal vez nunca supo brindarme; en medio del bosque, en los lugares más tenebrosos, en el mar; allí estabas tu acompañándome; eras mi consuelo, siempre fuiste la que me orientaste en los momentos más difíciles. Mi gran diosa, mi verdadera diosa, que me has protegido de tantas calamidades; hacia ti en medio del mar; hacia ti junto a la costa; hacia ti entre las costas de mi isla desolada. Elevaba la mirada y te miraba; siempre la misma; en tu rostro veía una expresión de dolor, de amargura, de compasión hacia mí; tu hijo. Y ahora, súbitamente, luna, estallas en pedazos delante de mi cama. Ya estoy solo. Es de noche. "
.
Fragmento de "Antes que anochezca" - do escritor Cubano - Reinaldo Arenas que nasceu em Cuba - 1.943, morreu em New York em 1.990 - vitima de Aids, dissidente do regime da Ilha de Cuba, foi o único que conseguiu abalar a minha fé no socialismo da Ilha, diante da crueldade de sua prisão. Ler -Antes que Anoiteça- fez despertar a paixão pela Literatura de Arenas, uma escrita visceral que introduz a poesia com uma facilidade de quem pesca pássaros com as mãos e coloca as palavras como uma música ritmada, o próprio Arenas na infância pobre cantava melodias que ele inventava, com letras que já eram poemas seus e levou sua professora a descobrir muito cedo sua veia poética. Em Havana encontrou José Lezama Lima (que inveja do Arenas!) e Virgilio Piñera que o ajudaram com a publicação do primeiro livro. Preso por ser gay ele descortinou o lado negro - que todo governo possui - e me fez viver com ele em um bosque de Havana no tempo em que viveu escondido, durante os dias nas copas da árvore e nas noites vagando no bosque, com apenas papel e caneta que um amigo lhe trazia - e ele dizia - de que mais precisa um escritor?
Os contos dele onde o realismo fantástico permeia, ele seduz. Sempre leio os autores de lingua espanhola, apaixonada pelo idioma, decifrando a musicalidade e a poesia que contém a língua.
E impossível não se revoltar com a dificuldade que viveu Arenas por ser um gay em Cuba:
"E o que foi feito de mim? Depois de ter vivido 37 anos em Cuba, estou agora no exílio, padecendo de todas as desgraças dessa situação e esperando uma morte iminente. Por que tanta fúria contra todos nós que um dia quisemos romper com a tradição trivial e com a monotonia cotidina que têm caracterizado nossa Ilha?" - Reinaldo Arenas em Antes que anoiteça.

Before Night Falls - O filme baseado no livro, estreado por Javier Bardem não deixa de ser tocante, não tanto como a literatura de Arenas, mas, em uma madrugada sem sono, liguei a TV e comecei a reconhecer aquele início de história, um menino pobre em um país que lembrava Cuba, esperei e confirmei - era a vida de Arenas - e a interpretação de Javier Bardem tornou o filme belíssimo, toda a trajetória dele, as lutas, a prisão fétida, um homem no bosque vagando, escondido, sua fuga, sua solidão, e seus amores, tão ternos quanto todos os amores. Antes que anoiteça foi traduzido em tantos idiomas que encontrei a edição em grego para ilustrar esta pequena homenagem, aos escritores, estes verdadeiros que se enfurnam em qualquer lugar e vivem qualquer vida, e mesmo na condição mais estranha e triste atiram essas jóias eternas, os livros onde pulsa o sangue das artérias, o suor e lágrimas fecundas e alerta ao que deve ser mudado, nenhuma fé ou nação tem o direito de interferir na liberdade do ser, quando esta liberdade não ofende a liberdade do outro... é o que penso, em silêncio sempre que penso na escrita iluminada e profunda e forte e inteligente e poética deste cubano.

Monday, November 21, 2005

chá para as borboletas
















la vie en harmonie - marcio melo



CHÁ PARA AS BORBOLETAS
(BÁRBARA LIA)



TRANSPARÊNCIA


No instante do milagre
Segredos descem penhascos,
Espelhos, memórias, casas.


Trechos da vida à beira da ruína
Todos guardam para si.


Ninguém é transparente feito água Ouro Fino.


PULMÃO DE DEUS


Sussurro suave ao redor, nuvem
de seda embalando astros.
Aqui, onde respira a vida



perfume de malva, silêncio de córrego
entre pedras. Ar lúcido de luz.



DIÁFANA


O som do oboé abafa
a melodia da caixa de música.
Cristal filtra o raio lilás
do sol que adormece.


Bicicleta atirada na calçada,
velhinho com olho antigo
no horizonte.


Abraço a vida quando o dia acaba
refrescante e calma.


cerro cortinas diáfanas
beijo tua foto desejando beijar tua alma.



MISANTROPO


Tempestade á vista, vento abissal.
Recolher as roupas do varal.


Penetrar a gruta de cristal
onde a voz de Deus ecoa.


Incenso, cantata de Bach.
Equilíbrio = solidão total.



SEGUNDA MORTE


O pelotão avança, cascata de passos
Em adágio, botas resvalando relva.



Coração acelera. O homem calvo cobre
Meus olhos. Aguardo o fim.


Lembro negro olhar em chamas, encanto.
Fatal certeza... Morrer? Já morri por ti.



LEQUE DE NUVENS PARA O DEUS DAS ONDAS



O leque de nuvens se reflete
na areia de mármore.
Alento de tarde pagã.


Distante, a carranca do deus das ondas
escureceu o mar.


O coqueiro se eriça.
Cais sobre mim


feito neve nos Alpes.
E a tarde abraça o nosso abraço.


(Alguns poemas do livro "Chá para as borboletas"
ainda inédito)



Saturday, November 19, 2005

ala de cuervo





















Passion - Nijinski

- Márcio Melo -


AZZURRO

quando as noites fugirem
e o sol trouxer luz eterna
e os montes se anelarem de névoa argêntea
e as ruas de flores se banharem
e os homens se enlaçarem sem armas ou temores
quando o inverno guardar seu manto frio
e os cálices transbordarem de vinho santo
e as árvores arderem em chama rósea
de tanto sol de tanto sol
fogo de amor, de amor
rosa, vermelho, escarlate e vinho...
o azul vai florir
entre chamas que crepitam
vai bailar - Nijinski entre lírios
rosas, orquídeas, margaridas
o azul vai brilhar - bailarino
no palco de sol em chama
azul-amor - tua alma e minha alma
enlaçadas na dança festiva
amor que vence tudo e se transforma
em flama azul de colore e música.


- Bárbara Lia -

Azzurro foi publicado -em espanhol no site abaixo:
- Ala de Cuervo - editado na Venezuela por Eva Feld y
Teódulo López Meléndez:

http://aladecuervo.net/logogrifo/0507/sem1/cuatro_poetas.htm


A crônica semanal no site - Vejo São José:
- O inverno de 1.969 -
http://www.vejosaojose.com.br/barbaralia.htm

Monday, November 14, 2005

pérolas aos porcos





























Fazes falta mãe!
Os provérbios às centenas:
“Não dê pérolas aos porcos!”
Nunca ouvi a sapiência nata e
rude,
cheirando à capim antigo.
Seu rosário de infinidades.
A gota d’água.
A gota d’água.
A gota d’água.
A gota que estoura o dique.
Cessem a chuva de cólera.
Eu só quero me deitar aos pés
do arco-íris.
Beijar seus dedos róseos.
O resto.
O resto não importa.
Nem as pérolas;
Nem os porcos.


Bárbara Lia

Sunday, November 13, 2005

rua das flores n°infinito

















Celso Lobo



RUA DAS FLORES, Nº INFINITO


Rua das Flores, a rua de pedestres no centro de Curitiba. Calçadas de pedra, luminárias que lembram o século XVIII, casarões, canteiros de flores. Gosto dela quando está vazia, e isto só acontece aos domingos, em feriados, e na madrugada. A última vez que atravessei a Rua XV de madrugada, caiu um dilúvio, fiquei molhada até à alma. Eu estava lavando o passado, e estava vendo o novo surgir, e isto exigia um batismo. Tenho uma ligação sublime com a Rua XV...

http://www.cronopios.com.br/site/colunistas.asp?id=744

CAROLINA SAIU DA JANELA

Quando Chico Buarque escreveu esta bela canção – Carolina – ele já estava achando muito estranho, nos anos rebeldes, enquanto algumas mulheres estavam queimando sutiãs na Europa, usando biquínis aqui no Brasil, exibindo belas barrigas grávidas na praia, tomando as rédeas de seus destinos, belas, com suas batas hippies, inaugurando o tempo do girassol nos cabelos e das cores das bandeiras da paz, bem como das revoluções – ainda existia a Carolina, lá estava ela, vendo o tempo passar na janela, com seus olhos tristes, (a)guardando um amor que “já não existe”.
Chico Buarque, intérprete do âmago das almas nossas, não à toa, ícone, ídolo, pois faz poesia com a rotina, colore as notas musicais, as partituras de uma filosofia clara e cálida como quem vai decifrando auras, almas, corações e segredos femininos.
Muitas décadas depois, penso que Carolina saiu da janela.
Não?!
Ainda existe quem se coloque diante de uma janela por um amor que já não existe e fique vendo a vida passar?...
Como sempre há o resquício do tempo, há resquícios ainda da Idade Média, mas, um grande exército saiu da janela. Quase todas, certamente. Não há como viver sem seguir o ritmo do tempo...

Wednesday, November 09, 2005

bem-te-vi




















BEM-TE-VI


Ramagem arranha janela.
Sonho: Aeroporto fantasma.
Espíritos de náufragos do Titanic.
Ku Klux Kan ateando fogo ao enforcado.


Sequência horripilante:
A mulher sem olhos na cama,
entre lençóis úmidos de chuva.


Acordo com o bem-te-vi
na manhã de sol,
na mesma paisagem.

- Bárbara Lia -

Monday, November 07, 2005

michelle horst

















Quero uma frase aguda
De tinta e aço
Tatuada na testa
Um prego
Um palíndromo
Que surgisse no espelho


Uma frase
Uma palavra
Um grito
Um grunhido
Um risco


Pra desmantelar todo conceito construído torto
Desconstruir
Desaprender pra sempre
A pessoa que você não é


Uma oração
Na contramão do verso
Que subvertesse o mandamento
E me fizesse
Desamando, amar


Um vocábulo seco, duro
Que me mandasse
A cada imagem refletida
Amar ao próximo
Muito menos que a mim mesma

Michelle Horst - Curitiba (PR)

Sunday, November 06, 2005

brecht






















PARA LER DE MANHÃ E À NOITE


Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva


(Brecht)

Tuesday, November 01, 2005

escravos cardíacos das estrelas





"Escravos cardíacos das estrelas" - Fernando Pessoa.
na coluna mezanino - site abaixo - uma pergunta que
não quer calar...




Sidnei Schneider atualiza o blog dele de
tempos em tempos. Para conferir a mais
recente atualização:
www.umbigodolago.blogspot.com



meia elipse encantada




           Assai, minha cidade natal




MEIA ELIPSE ENCANTADA

Assai = amanhecer.
Aurora de algodão.
Ecos do tiro de Vargas.
Agosto hostil.

Percorro a linha elíptica
Aurora – Poente.
Sonhos & Sons.
Êxtase.
Cimitarras na carne.
Dança em etnas-lençóis.
Olhos plenos de orvalhos.
Agonia.
Paz.

Não temo o poente.
É quando a luz se espalha.
A terra se agasalha.
Aceno lenços-poemas
Na despedida.
Um sorriso-açucena.
Visto o luar.
Entro na noite branca,
Meio ao aplauso das estrelas.

(Bárbara Lia)


ciranda de borboletas






CIRANDA DE BORBOLETAS



A chuva escorre nas peças de barro cravadas de limo... verdes. Toma os espaços entre as folhas frias sujas de fuligem... ainda verdes. Como o desengano no peito, que pulsa e jorra tédio cor verde ao avesso, manchando o corpo como água de nuvem que tateia o chão e levanta o pó adormecido... cinza. Odor de passado revestindo as narinas.
Michelle Horst – Curitiba (PR)


*



A semana toda,
a máquina de escrever
sobre a mesa.
nenhum toque
nenhuma visita
nenhuma carta.
A remota lembrança
de seu aniversário.
A única companhia
foi uma lágrima de rímel
Nem tudo que parece
às vezes tece.

Stella de Resende – Curitiba (PR)

rollo de resende



















de amantes

encantava
a mina incrustada
de diamantes
dos sete anões.

a memória é uma mina

aí foi colocada a tua imagem
(talvez seja onde agora mesmo vivas)
não cravado pelas paredes
mas ainda docemente em
movimento
*
Rollo de Resende
(1.965 - 1.995)
*
a ilustração é um postal confeccionado pelo Rollo, presente de sua
irmã a poeta Stella de Resende.

Um filho de Francisco



A semana é dedicada mesmo ao meu pai, no site Vejo São José - www.vejosaojose.com.br -eu escrevi uma crônica sobre ele, e no site Cronópios, novamente. A coluna mezzanino é ocupada a cada mês por uma pessoa que emite opiniões sobre o site e os debates do -café literário- aceitei, no susto, e ontem escrevi um texto sobre a força da mídia, e a necessidade de que a cultura chegue aos - pequeninos da terra - gosto desta expressão. Para que um dia aconteça a revolução cultural, única capaz de fazer com que uma nação se torne soberana, segundo as palavras de Adolfo Pérez Esquivel.
Para ler - Um filho de Francisco - é so acessar o endereço:

http://www.cronopios.com.br/content.php?artigo=6821&portal=cronopios






Monday, October 31, 2005

CIRANDA COM FERNANDO JOSÉ KARL


















Luar - acrilico sobre tela - Enice Rosado


CIRANDA COM FERNANDO JOSÉ KARL
O CEGO
- Fernando José Karl

O cego Paul Klee rodava a bengala para a direita e a cidade parava. Para a esquerda, se movia. Para cima, escurecia o sol. Para baixo, chovia.
Quando foi assassinado, naquela tarde, encontraram em seu bolso todos os movimentos da cidade.


( do livro - Caderno de Mistérios - Letra D'água editora)



EPÍSTOLA SEGUNDO SAINT-ANGE


Segundo Saint-Ange, somos garrafas
de água flutuando no oceano.

Saint-Ange - seu cadáver boiando
ao lado da garrafa d'água.

Antes da flecha varar sua nuca,
ainda bebeu no arco da madrugada

a geometria do abandono de uma lua:
imenso nenúfar sobre o bambual.

Imitava Saint-Ange o poeta Li Tai Po,
que, na primavera de 425 a.C.,

morreu ao tentar abraçar a lua sobre o rio Chin.
Ou quis apenas imitar o seu aforismo

de que somos garrafa de água de rio
flutuada na água grande?


(do livro - Brisa em Bizâncio - Travessa dos editores)

LI PO & LUA
Bárbara Lia.


Sonhei com o abraço de Li Po
& lua.
Pálpebras pós-sonho são serestas
de bambus ao vento.

Pressinto o joio e o trigo e convivo
com as ervas todas.
Mas quando são águas
-Cristalizo.

Sei que algo imortal acontece,
nasce em solidão no útero divino.
Lua negra-olhar-que-abraça.

Tenho razões para amar Li Po
Fechar a meia-noite negra com uma cortinade lago.
Li Po braços abertos,
luas todas em estações e séculos
à espera deste abraço.

Friday, October 28, 2005

réquiem em espanhol



RÉQUIEM


-Bárbara Lia-



Creía que eran señalados.
Alas invisibles,
halos transparentes de translúcida luz.
La espada – lápiz mina número cinco.
En muros escribían de formar arcaica.
Redondas letras apiñadas en versos.
Filósofos, dioses, ángeles perdidos.
Caminaban en veredas escarpadas.
Corazón en huidizas nubes.
Extraviada del pasado,
Seguía a los poetas.
Anteviéndolos ángeles.
Anteviéndolos dioses.
No reconocí la porción humana.
De carne y amargura.
Ni el aura triste
Del siglo de las hecatombes.
Cada pasión – piedra.
Decepciones apiladas – en una tumba.
La lápida – un manual de sepultar el corazón.
Mi libro sería de sal
Si narrara los pesares
Puñales en el pecho
Clavados por ángeles.
De ojos grises,
Verdes y negros.
“color té”, como diría Neruda.
“color de adiós”
Ya no cantaba a
Las violetas en la tarde,
Rubros amaneceres.
La aproximación de Marte.
Risa - sol de niños.
Desnuda de sueños y sandalias
Crucé valles, desiertos y puentes.
Anclé en la playa
Con arena de mármol.
Tarde gris.
¡Mar!
Certidumbre azul:
¡El poeta es mar!
Reflejo de los cielos.
Inconstante.
No sabe si va o si se queda
Es violenta la arena
En eternas olas.
Esconde su belleza
En un verde colérico.
En maremotos.
Extensión serena o triste.
Plácido o rencoroso.
La música y el ardor de sal
Todo esconde...
Abismos de luz.
Algas y perlas.
Ante sol y sal.
Abracé cada antiguo amante,
Sus almas-abismos-de-colores.
Y sepulté, en la arena, los dolores.
Abrí alas – fénix.
Todo poeta-mar
Necesita de un ave
Que deslice sus alas erguidas
Y el toque con ternura de espumas.
La canción retumba, ruge, alza nubes.
Alcanza la poetiza con alas
En libertad en el azul sereno.
Así nacen los poemas
En la abstracción
En la ausencia
En la dulzura de alas rozando espumas.
Al poeta-mar inquieto
Nadie lo domina
Pero, su alma sueña
Mujeres con alas
Sueltas en la corriente
Del viento,
Flaneando libres
Entre las nubes.
publicada na revista número nada - Ontem choveu no futuro.(em português)

réquiem




RÉQUIEM
(Bárbara Lia)

Acreditava que eram assinalados.
Asas invisíveis.
Halos transparentes de translúcida luz.
A espada – lapiseira grafite número cinco.
Em muros escreviam de formar arcaica,
Redondas letras apinhadas em versos.
Filósofos, deuses, anjos perdidos.
Caminhavam em calçadas íngremes.
Coração em sorrateiras nuvens.
Extraviada do passado,
Seguia os poetas.
Prevendo-os anjos.
Prevendo-os deuses.
Não reconheci a porção humana.
De carne e mágoa.
Nem a aura triste
Do século das hecatombes.
Cada paixão – pedra.
Decepções empilhadas – um túmulo.
A lápide – um manual de sepultar o coração.
Meu livro seria sal
Se narrasse as mágoas
Punhais no peito
Cravados por anjos.
De olhos cinzas,
Verdes e negros.
“color de té”, como diria Neruda.
“color de adiós”
Já não cantava
As violetas na tarde,
Rubros amanheceres.
A aproximação de Marte.
Riso-sol de meninos.
Despida de sonhos e sandálias
Cruzei vales, desertos e pontes.
Ancorei na praia
Com areia de mármore.
Tarde cinza.
Mar!
Certeza azul:
O poeta é mar!
Reflexo dos céus.
Inconstante.
Não sabe se vai ou fica
E violenta a areia
Em eternas ondas.
Esconde sua beleza
Em um verde colérico.
Em maremotos.
Extensão serena ou triste.
Plácido ou rancoroso.
A música e a ardência de sal
Tudo esconde...
Abismos de luz.
Algas e pérolas.
Diante do sol e sal.
Abracei cada amante antigo,
Suas almas-abismos-de-cores.
E sepultei, na areia, as dores.
Abri asas – fênix.
Todo poeta-mar
Necessita de uma ave
Que deslize suas asas em riste
E o toque com ternura de espumas.
A canção ecoa, ruge, alça nuvens.
Alcança a alada poeta
Em liberdade no azul sereno.
Assim nascem os poemas
Na abstração
Na ausência
Na doçura de asas roçando espumas.
O poeta-mar inquieto
Ninguém domina
Mas, sua alma sonha
Mulheres aladas
Soltas na correnteza
Do vento,
Flanando livres
Entre as nuvens

Saturday, October 22, 2005

sigma de saudade

A crônica da semana "Sigma de saudade" já está no site Vejo São José -

http://www.vejosaojose.com.br/barbaralia.htm


Qualquer dia vou a Sampa em uma dessas festas do Fanzine Pnob - da jornalista Suzana Jardim:
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Tuesday, October 18, 2005

thiago ponce








Arco-íris

Arame é outro ar para respirar
Da aurora que entra com pés pequenos
Lusco-fusco claustrofóbico
Aliás
Esboça desfalque de leitura
Deleitável
Em contida indumentária
De falhas
Bolhas de sabão

Thiago Ponce


o sono de goya


goya













Aniversário da Loraine Thais, que nos levou ao bosque do Muma, do nosso bairro Portão, aqui em Curitiba, no sábado. Ela estendeu uma toalha lilás no chão, e colocou o bolo de chocolate em uma pedra, e quando chegamos o Márcio Claudino disse – Veja a Sociedade dos Poetas Vivos! – Veio a Carol Casagrande, a Luana, a doce Dani e sua irmã Angélica, junto veio a Lílian, vieram Vitor & Letícia e também Rodrigo. Toda a nossa aura sob essas árvores que já são para mim símbolo de felicidade – os eucaliptos - Nós no bosque dos impossíveis, sentados em folhas de eucalipto assistindo ao vídeo daquele recital da Federal, na filmadora da Loraine. Foi uma noite linda. Tem mil dias que eu os amo, e tem mil dias que nunca rasuraram em mim aquilo que eu considero que seja a poesia, tem mil dias que algumas pessoas não me fazem descrer da ternura e da delicadeza – rara matéria rarefeita – que a gente só encontra em bosques, à sombra dos eucaliptos. Loraine serviu coca-cola, mesmo. Hoje a Lora ganha de presente um poema de Márcio Claudino, que ela & Carol interpretaram no recital – O sono de Goya. Muitos bosques e poemas virão, para esta menina-atriz-poeta.

O SONO DE GOYA

“Que ninguém possa jamais esquecer esta noite.
Hoje, tocarei a flauta de minha própria coluna vertebral”
Vladimir Maiakóvski.



Sonhei com serpentes mortas
Dentes cerrados, ventos distantes
Touros,
Festins negros
E maré alta –


Quem soprou esses ventos
Nas flautas das vértebras
E verteu febre nos dedos
Para que compusessemos vendavais
E folheássemos o diário de ouro
Que o Deus tocou
Que só nos fez chorar?

Quem varreu os cílios
Com o zoom sorrateiro
Da visão do sem nome?

Quem disse:
. Quem beber desta água lembrará –
essa é a fonte da memória

Quem disse que era Deus?


Márcio Davie Claudino da Cruz
Curitiba - Pr.

La nave va...

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Layla vive na região do Algarve. Uma garota como outras mil. Por uma perda na infância, jurou jamais amar. Impossível. O primeiro amor – Lou...