Tuesday, January 27, 2009
à queima-roupa
"Três perguntas para poetas
Estou fazendo um inquérito quase policial com os principais poetas em atividade, sejam novos, novíssimos, ou já tarimbados e carimbados pelo tempo ou pelo (des)reconhecimento."
minhas respostas aqui:
http://poetasnaoficina.blogspot.com/
para ler as entrevistas - no site acima e também no sambaquis:
http://sambaquis.blogspot.com/
rimbaudianas

Arthur Rimbaud, par Jean Ipoustéguy, 1984,
l'Homme aux semelles de vent
( Boulevard Morland)
pelos telhados de ardósia
as pombas arrulhavam
em ventania
seu casaco - vela sacudida
estremecia
a maré da monotonia
.
Dans l’air
.
Tínhamos a mesma idade
Quando vimos o mar
Este mistério de impaciência
Tínhamos a mesma impaciência
– Rimbaud e eu –
.
Por isto
Pisamos telhados
Ao invés do chão
.
Por isto
Machucamos nossos amores
Com nossas próprias mãos
.
Por isto
As velas acabam na madrugada
Antes que o poema acabe
.
- Por isto, tão pouca a vida para tanta voracidade
.
Mar/absinto
Nossos olhos de dezoito anos
acomodaram o mar
Sobrou a maré em torno
um sussurro de conchas
a nos acordar nas noites brancas
.
Nossos olhos de dezoito anos
beberem do mar/absinto
como ao vinho santo.
.
Nossos olhos embriagados.
Nossos olhos negros e azulados
Uma sereia recolhendo a rede
os corações de dois poetas ali
enredados
.
Nossos olhos de dezoito anos.
Nossas almas milenares.
Nossos amores fracos à soleira da incerteza.
Tanta beleza em ti, Rimbaud!
Tanta ausência em mim!
.
E nas marquises
bêbados ainda caminham
buscando o sol
que você guardou pra mim
Sunday, January 25, 2009
leonardianas
.
Pássaros renascentistas
Libertados por Da Vinci.
Invadem as minhas pálpebras
Que meditam em silêncio
De monja
Louvam as aves
Do terceiro milênio.
Mão destra de Leonardo
Pinta o sorriso
De uma Monalisa escura
A aurora ausente
Do meu olhar
Que ele colore
Com luz de Florença
E sobre músculo sofridos
Estriados de saudade
E febre de amor
Pulsa a inocência poética
Das mulheres que venceram
O jugo secular
E cruzaram as linhas
E romperam os laços
E abriram os braços
Aves de arrebentação
A flanar entre
As azaléias púrpuras
E o grito ardente
De libertação.
.
Despediu-se o sol, não brilha a lua.
Sinos dobram a Ave-Maria.
Encontro e fuga de almas no ocaso,
Crepúsculo incendiado.
Toca a música divina estremecendo cristais.
Som azul unindo sangue celeste e marinho.
.
O eco da flauta aos puros adormece.
.
- Poemas do livro “O sorriso de Leonardo” – Kafka edições baratas. - 2004
Friday, January 23, 2009
goya's ghosts
Thursday, January 22, 2009
Wandula

Wandula canta Nara
Um show especial em homenagem a musa da bossa nova Nara Leão elaborado pelo grupo de música contemporânea Wandula, com releituras originais e curiosas do repertório da cantora.
Sesc da Esquina
Rua Visconde do Rio Branco, 969
Curitiba - Paraná
41 3322 6500
R$10
R$5 + 1kg de alimento não perecível
R$0 = alunos da Oficina de Música
http://www.wandula.com/
Wednesday, January 21, 2009
guantánamo
Várias organizações humanitárias preparam-se para interceder junto do Tribunal Penal Internacional, para denunciar a utilização de bombas de fósforo contra zonas civis, proibida pelas convenções internacionais.
Vários diplomatas de países árabes exigiram um inquérito paralelo à Agência Internacional de Energia Atómica, sobre a alegada utilização de ogivas com urânio.
O exército israelita abriu um inquérito interno, mas as acusações arriscam-se a ficar sem efeito, Israel não está sob a jurisdição do Tribunal Penal Internacional.
A questão repousa agora sobre a pressão diplomática de Washington, quando Obama se prepara para nomear o novo enviado do país para o Médio Oriente."
Tuesday, January 20, 2009
O caderno negro de Bárbara Lia


estante #6


Monday, January 19, 2009
estante #3

Interiores
A vida é substancialmente o que não se vê. Planta raízes no mais profundo de nós mesmos, no labirinto que, pelos meandros do espírito nos conduz ao jardim mais secreto.
Em 14 de junho de 2.006 fez 20 anos que Jorge Luis Borges, arquiteto de interiores, reencantou-se, anjo barroco que sempre foi. Resta-nos o inestimável legado literário, tecido em contos fantásticos, inquietações metafísicas, um saber repleto de sabor.
A literatura sobrevive a seus autores quando feita de interiores. A perenidade do teatro grego e também de Guimarães Rosa, Dante, Cervantes, Shakespeare, Púchkin, Dostoiévski, Eliot, Camus ou Machado de Assis reside no talento capaz de fazer da pena o estilete a penetrar interiores e pinçar, lá do fundo, os fantasmas que habitam os porões da alma humana.
Somos interiores exilados nessa sociedade do óbvio, onde tudo flutua à superfície, dejetos numa poça d'água infecta. O entretenimento, disfarçado de cultura pós-moderna, analfabeto em matéria de espiritualidade, objetiva e reifica-nos o ser, vulnerável ao estupro do que há em nós de mais essencial. As linhas do novo carro são tão sensuais quanto as da modelo exposta no sofisticado açougue do voyeurismo. Artistas transformam-se em meros acessórios de produtos, o político vale pelo visual, rompe-se o limite entre o necessário e o supérfluo.
Agora, tudo é produzido: O sorriso do empresário, o gesto do atleta, a postura da deputada. Devassados em nosso interior, deambulamos como ébrios pelas veredas da vida, cegos pelo excesso de luz. Há tantos ruídos que nossos ouvidos já não distinguem sons. Onde o murmurar do riacho, o gemido das pedras lavadas pela cachoeira, o rumor inconsolável da maré retornando suas ondas no limite da praia, o farfalhar das árvores escovadas pelo vento?
Perdemos a memória de nossos sabores ancestrais: O cheiro da calda açucarada, do pão quente e do assado gordurosamente temperado. Condenados ao fast-food, qual filme de Chaplin somos rápidos em tudo. Amamos sôfregos, trabalhamos ansiosos, conversamos gagos de preocupações, vivemos aprisionados pelo ritmo alucinado dessa sociedade que se vangloria estupidamente de ser competitiva. No horizonte oco sobressai o medo de que a doença nos atinja, os filhos sejam proscritos do futuro, o dinheiro escasseie, a violência nos vitime. Medos, no lugar de esperanças.
Quem edificou esta Torre de Babel? Borges, que na falta dos olhos para enxergar tanto aguçou o espírito, diria: nossa cegueira pontilhada de ilusões consumistas, de sonhos inatingíveis, de ambições ególatras. Aos 78 anos de idade, numa conferência na Universidade de Belgrano sobre "A imortalidade", ele acentuava que "se o tempo é infinito, em qualquer momento estamos no centro do tempo".
Saber disso é uma coisa. Vivê-lo é realizar a proposta de Teillard de Chardin: centrar-se em si mesmo para descentrar-se nos outros e, assim, concentrar-se em Deus.
A arte de semear estrelas
Frei Betto
Ed. Rocco 2007
estante #2

estante #1


Tuesday, January 13, 2009
momento solidão
Leonardo Fernandes Paiva
Monday, January 12, 2009
momento elegíaco

Amanhã - um ano da morte da poeta Bia de Luna.
Uma mínima homenagem.
Alguma poesia dela:
.
-E é quando suor e lágrimas
momento imaginado
momento árabe
Ontem eu pensava em quando vou ler os livros de amigos que tem uma poesia plena e que ainda não lançaram livros - Stella de Resende, Luciana Cañete, Michel Sleiman...
A menos que a abelha bique o sol do girassol
Não saio das colinas de Golan
Ali espio a crista do Monte Líbano
A libar rios de mel da Gehena de Alá
Pela boca dos fuzis do Hisbolá
Arrancados ao colo de Ramala e às tendas de Sidon
Onde Samira cansada de esperar por Samir
Reabre a fenda ao soldado imberbe de Israel
E lhe serve a sicuta em beijos conta-gotas
Enquanto a ONU gorjeia na goela de Kufi Anan
Escoltada pelas bandeiras de um pós-sionismo
Politicamente edulcorado e educado e
Pretensamente viável
E no Brasil Pelé Ronaldos e Kaká
Driblam a auto-imagem do samba no pé
Bola murcha vazando ar de peixe podre da Baía de Guanabara
E meu tio Bechara rala no Kuweit instalando cortinas nas mansões sobre areia
E serve de babá mucamo de bunda de xeiques cagalhões
Em seus Mercedes e Rolls-Royce com maçanetas de ouro e fiações de prata.
Deixem-me deixai-me contar as romãs no colar de Jade e Sulaima
Eu, Salomão desterrado fodido descobiçado.
Michel Sleiman
fonte: Icarabe
Friday, January 09, 2009
um livro um filme

10
O casal brigado, de costas. Longo silêncio. De repente o velho:
- Sua diaba. Pára de ficar ouvindo o meu pensamento!
Thursday, January 08, 2009
O inverno de 1.969
Inverno é o ponto extremo do congelamento da alma. Frio cortante congelando artérias, susto de descobrir-se finito e abraçar a perda num gesto mudo, sem apelação, retrocesso, chance – Ponto final.
1.969 – o inverno mais triste de nossas vidas. Nem importa ser saltitante, vibrante, sapeca. Nem importa o futebol no fim de tarde com meu irmão e amigos, nem se existem mil planos, suposições e hipóteses para uma vida que se descortina. Meu voar nos sonhos acalentando o futuro precioso – Sim, um dia terei um amado, filhos, vida em rosa. Erguer castelos com cortinas de rendas, tons pastéis em paredes imaginárias e belos risos de crianças.
Eu, criança ainda, sonhos aflorando, menina-moça-quase-mulher neste inverno que acena e brilha nas geadas das madrugadas. Cruzar avenidas com minha saia bordô, minha blusa branca, as meias ¾. Ir ao colégio sonhando a vida, naquelas ruas marrons de Peabiru.
Os amigos, as canções de Caetano, “Love and peace”, revoluções.
Noites de estrela feito véu cintilante cobrindo nossa cidadezinha.
Ao meu redor, minha avó aristocrática em seu eterno luto. Postura de realeza que me comovia com seu ritual diário de beleza. Mamãe, simples como todas as filhas de Iracema, olhos mel adoçando meu mundo. O seu perfil exato, perfeito. Uma luz etérea que percorria olhos e lábios iluminando tudo. Eu tinha espelhos de feminilidade por toda a casa... Sim! Eu também queria ser uma estrela e criei coragem. Tímida, franzina, eu decidi agir como as filhas de Eva. Naquele dia decidi depilar minhas pernas.
Trancada no banheiro, com o cortante aparelho de barbear de papai, pernas sobre a pia, ritual primeiro. Na primeira tentativa, carne lacerada, rasgada. A gilete cravada na batata da perna esquerda em insuportável dor. Eu que não suportava sangue iniciei os cuidados com o fundo corte. Ficaria ali, trancada, até estancar o sangue.
Fui até a casa dele. Queria ver para crer, torcendo por um engano. A poeira bebendo meu sangue em gotas ininterruptas.
Uma semana depois o homem pisou na lua. Em minha cabecinha inocente não cabia aquela verdade.
“Como ele pode morrer sem ver o homem pisar na lua?”.
Neil acenando dentro do macacão e só uma dolorida saudade. É carne lacerada com vida se apagando. Não consigo separar a lua desse momento. Cicatriz de lua em meu coração; meia-lua em minha perna esquerda. E pode passar uma vida não esqueço a beleza de um anjo que caminhou suave e me acena, ainda, de uma fictícia lua. Partiu conquistando outro mundo, deixando um eterno vácuo – cicatriz no coração e alma.
Wednesday, January 07, 2009
Os leões de Ramallah

Monday, January 05, 2009
como a flor e a guerra



Sim, direi ao mundo as palavras de um poeta morto há muitos séculos.
Chegam até as palavras daquele verão como ondas cansadas.
A glória de quem move todo o mundo escrevia,
Só em todas as madrugadas como a flor e a guerra.
Como a flor e a guerra.”
Do filme: El camino de los Ingleses
De Antonio Banderas
Sunday, January 04, 2009
Maysa

"Se sou feliz? Felicidade é coisa de gente burra"
Maysa
...
qualquer um o sabe
- O coração tem domicílio
no peito.
Comigo
a anatomia ficou louca.
Sou todo coração -
Maiakóvski
Thursday, January 01, 2009
à espera do búfalo
O homem marca o tempo
O tempo marca o homem
.
O homem sonha as estrelas
As estrelas sonham o homem
(despencam carentes cadentes)
.
O homem vem do (e volta ao) pó
O pó (de alguns) gruda nas sandálias
da eternidade.
Bárbara Lia
La nave va...
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