Thursday, September 15, 2005

céu de van gogh e ia santanché





























céu de van gogh e ia santanché

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Foi no ano de 1.999 que eu li "Cartas a Théo", as cartas do pintor holandês Vincent Van Gogh a seu irmão Théo. Escrevi "O artista e a arte" e nunca mais esqueci Van Gogh. Em uma noite de maio de 2.001 eu fui até à Livraria Arcádia - aqui em Curitiba - assistir ao espetáculo teatral - A cadeira do consultório do Dr. Gachet. Era uma performance baseada nas cartas, e quem representava era uma atriz-dançarina chamada Ia Santanché, que vivia em São Paulo. No final do espetáculo eu conversei com Ia. Mandei meu poema para ela, na época eu estava lendo os poemas e a biografia de Sylvia Plath, e pensei que aquela atriz de São Paulo talvez conseguisse fazer a dor de Plath ser poesia no palco, pois a dor de Van Gogh virou música & cena. Nosso monólogo jamais saiu do papel. Ia estava representando um monólogo sobre Clarice Lispector. Depois engravidou e teve uma filha - Clarice. Sinto falta de Ia. Da sua arte que bailava nas cartas com sua letra redonda, onde ela me chamava de Bárbara Plath.
Reuni os poemas que fiz para Van Gogh e mandei para o site cronópios. A página ficou muito linda, com meus poemas e as telas. Está também no site blocosonline. Delicada página, e tudo isto a Van Gogh ofereço.


A garota de costas penso que é Ia, ela me mandou este postal. Trocamos muitas cartas, postais, poemas, alegrias, sustos, nossa vida e a arte, a arte de clarice, van gogh, sylvia plath...

FLORES DE GELO














FLORES DE GELO


Vivo a melancolia dos evangelhos
A cruz que crava a palma feita
Para escrever o belo
Sol incinerado - meu corpo fixo
Na claridade difusa 
Exalando um perfume de abismo -
Meu ramo de noiva
- Amapolas mortas -
Minha grinalda
- Flores de gelo -
A alquimia extrema
Da minha alma, que apavora
Espanta o amado
Cessa seu passo
No pórtico do impossível.
Bastava um passo
Um passo
Passo


Bárbara Lia

papoulas


O que consola? Campos de papoula.
Papoulas vermelhas de Hiroshima.
Terra calcinada e morta
- tal qual meu coração -
floresce em claras chamas
campo de beleza
brisa de delicadeza
da vida que regenera
coração
e chão.

-Bárbara Lia

Wednesday, September 14, 2005

garcia lorca


“As águas tranqüilas
sob uma copa de estrelas
A água tranqüila de sua boca
sob uma copa de beijos”

- Federico Garcia Lorca.


van gogh e eu no site cronopios


- Quando sinto necessidade de Deus, saio à noite para
pintar as estrelas - Van Gogh.
meus poemas para Van Gogh estão no site cronópios.
AMO VAN GOGH!

http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=545

TECENDO ESTRELAS DE VAN GOGH














TECENDO ESTRELAS DE VAN GOGH


Estrelas escorriam da tela,
na solidão do museu.
Aparei gotas de céu em minhas mãos.
Enovelei-as.
Possui por um tempo,
Estrelas abrasadas de loucura
e o azul mais azul que pode o azul ser.


Museu de Nova Iorque
em delírio.
Corre-corre. Alarmes. Vigias.
Não revistaram minhas mãos.
Um céu enovelado que me aquece
e apaga – primaveras sem teus beijos,
invernos de angústias.


Teci um manto azul
de estrelas emaranhadas,
um manto enfeitiçado.
Das estrelas da noite do artista.
Tenho mãos de fada.
e tenho tanto amor,
quanto estas estrelas deslumbradas.


Quando chegar aquele que amo.
Com seus olhos
que são para mim, música;
e para outros, mel.
Quando ultrapassar a escura porta
e se quedar no branco leito.
Eu o cobrirei com o céu.

Bárbara Lia

Friday, September 09, 2005

LENDO CLARICE LISPECTOR






Mulheres
Sofrem meio às rosas
Espinhos escondidos
Em seus cabelos.
Seios nus
Beijados pelo amado.
Lençóis ao vento.
Vela de um barco
Onde o timão balança
Entre a neve
E a primavera.


Todos sofrem:
A gota prata
Do orvalho na rosa
É lágrima fêmea
Que brilha
Enquanto sofre.

- Poema acima e outros + entrevista no site Germina:http://www.germinaliteratura.com.br/pcruzadas_abril.htm

Cadê a primavera? Pensando no amor e na liberdade de amar...
Pensando em um poema de Neruda:
Quisera hablarte en besos
Asi lograria decirte
mi necesidad de ti
mi sed de ti.

Tuesday, September 06, 2005

sopro de deus



SOPRO DE DEUS

Sigo distraído e breve – piedade na alma,
opulência no calabouço.

Sigo sereno, neblina me abraça.
Meu corpo um jarro de esperanças.

O amor – única navalha que me corta.
Aprendi que somos sopros de Deus – instantes.

http://www.blocosonline.com.br/literatura/autor_poesia.php?id_autor=2823&flag=nacional

Sopro de Deus e mais 6 poemas estão no blocos online.
- Estou lendo "O mesmo mar" de Amós Oz - Companhia das Letras.
pérolas de Amós Oz:
" Quando existe amor é tudo diferente, mas como
explicar as
borboletas para uma tartaruga."

...


Através de nós dois

Antes do desculpe, este lugar está livre,
antes da cor dos teus olhos, antes do o que você quer beber,
antes do eu sou Rico, e eu, Dita, antes do roçar
da mão no ombro,
aquilo nos atravessou
como a fresta de uma porta abrindo-se em meio ao sono.

...

Onde estou

Por que você se
enterra
naquele buraco, dizem seus amigos, sem ir a festas, sem
se divertir,
sem gozar a vida. Vê se aparece, cara, vem ver gente, dar umas
trepadas.
Mostra a cara, dê pelo menos algum sinal de vida.
Esquece, ele responde, acordo às cinco da manhã, tomo um copo
de café,
apago e escrevo seis ou sete linhas
e o dia já era, cai a noite e apaga tudo."


...
... Há uma luz leitosa que precede a aurora,
para que não
nos esqueçamos de que vivemos na Via Láctea, uma galáxia remota
que vai bruxulear até
desaparecer.

- Amós Oz, nasceu em Israel, em 1.939, ele escreveu um romance
que é prosa poética e poesia. Inaugurou em mim uma solução para
estes concursos que pedem um cem número de páginas.
escrever um romance em poesia.


imagem-

Dominik Schröder

Monday, September 05, 2005

VIOLETAS BRANCAS




















Sigo teus passos, feito asteca, sonhando
a terra eterna e rica – tua pele.
Pele dos diários, onde leio a lua.
A maré suave que me enlaça nua,


écharpe de brisa e aurora, corais gris.
Adeus soledade de pedra. Paloma triste
em vôo riste, ao longe.
O deus-do-sol-do-meio-dia, colibri azul


da era atômica, é um sopro de luz e sons.
Sonhos delineados na tela fria.
O mundo sangra e transforma a garça


em íbis rubro. Leio um salmo antigo,
acordo em manhãs violetas. Tenho por companhia
um pequeno vaso de violetas brancas.


(Bárbara Lia)

Comprei um vaso de violetas brancas, minha companhia.
Vou seguir a trilha dos sites que publicaram minha poesia.
Este poema está no site da Livraria Pagu.

http://www.livrariapagu.com.br/poesia4.html

SUICIDA





Abismo Nô.
Correnteza nômade.
Sinistro vento. Lágrima.
Estou sentado na ponte de pedra.


Sopros do antigo resgatam frases.
Tela ilusória refletindo imagens.
Continuo sentado na ponte de pedra.


Domingo. Ponte vazia.
Peixe azul me acena
feito uma nereida - venha!


Ouço a respiração
do caracol.
Me despeço do sol.


E me atiro da ponte de pedra.

(Bárbara Lia 0 O sal das rosas - Lumme Editor / 2007)

photo by sebastien gabriel

Sunday, September 04, 2005

CANTATA FUGACE






A cantata aviva a lembrança.
O mar bravio, a barcaça.
Velame aflito, clepsidra inaugurando o fim.
Adeus aos beijos em tua pele de nácar.


Nostalgia, solitude de gelo.
A cantata prossegue – cansin lancinante.
Vejo a ira impregnada no olhar
luzente, fronte pálida.


Passos fugindo, tilápia
aflita de volta às águas.
O meu mundo areal


encoberto de brasa.
O perfume do sândalo me eleva
e a cantata aviva as lágrimas – Anoitece.
- Bárbara Lia.



photo by christopher campbel

Wednesday, August 31, 2005

Stalingrado coração


Stalingrado coração - sangue e amputações, cercas de arame com soldados estirados e fuzis cravados ao lado como cruz-metade. Stalingrado coração, esqueletos de casas, nenhuma flor na paisagem, botas rangendo a neve vermelha, silvos, bombardeios, doces lágrimas de adeus. Stalingrado coração, nenhuma alegoria, nada na mesa, nenhum vinho para coroar a noite de amantes, não há amantes. Stalingrado coração repleto de lenços brancos de despedida, repleto de fardas enlameadas, repleto de ausências que ardem em olhos azuis de meninos russos, repletos de saudades lambendo a noite, que não cessa, nem quando o dia arde na neve, que vai ser vermelha, sempre vermelha. Mais uma batalha, mais uma batalha, mais uma batalha, mais um amor que chega para abalar os alicerces, demolir a casa, atirar fogo aos navios, amputar as pernas, tocar uma melodia de canhões, de fuzis engalanados com uma cor vermelha, suástica canina. Esta imortal sanha de nazi, solidão nazista que me segue. Stalingrado coração resiste, para que a solidão não destrua a barreira última e se instale. Solidão vencida, que alguém me conquiste, que este alguém me conquiste, decepe a sede, arranque os alarmes, remova todos os cadáveres, remova a neve devolva vida aos ossos congelados. Stalingrado coração metralhado, rubro, sangra e resiste, e resiste e se prepara, para mais uma batalha, mais uma batalha. Stalingrado coração, por mais que sangre, nunca desiste, como se amar fosse minha pedra de Sisifo.
Bárbara Lia - 31.08.2005

leituras - jovita / tao te king / tras la loba espectral


nunca te quebrarás em mim
em farpas de vidro
não rasgarás minha alma
como outras almas
estilhaçadas
és cristal
taça-graal sonhado
e nunca
te quebrarás em mim.
.bárbara lia.




- lendo o romance histórico - Jovita . a Joana D'arc brasileira . de Assis Brasil.
enfoca a guerra do Paraguai - o genocídio americano.
- relendo Tao Te King, e Tras la loba espectral de Luis Eduardo Rendón, poeta
da Colômbia, um dos organizadores do Festival de Poesia Medellin.

La electricidad de la i

Luis Eduardo Rendón

La electricidad de la i
está en el Ying
en el I Ching
en el iris de Isis
en el ibis de Pisiquis
y también
en el mitin del fin
en un ring
en un filme de striptease
en el número Pi
en el ají
en un CD de Liszt
en un chip
en un kikiriki
en un kiss me
en un whisky de zinc (incluido el sniff)
en un link de Tribilín
en un mini bikini
y quizá en un Inri en sleeping
pero la electricidad de la i
no está en un misil
ni en un click
ni en el tic de un civil
ni en el chic del vivir
ni en hit de un cirirí
ni en el spleen de un gamín
ni en un tití con rinitis
ni en la bilis de un hippie
ni en la crisis de un visir en el Mississippi.

Tuesday, August 30, 2005

Que seria de Deus sem os anjos?




Que seria de Deus sem os anjos?
Seu exército de asas.
Hierarquia da beleza.
Coração de estrelas e força
De leões de aço.
Que seria de Deus sem os anjos?
Atentos olhos sobre as criaturas.
Sombras zelosas estendendo pontes,
Amparan
do sempre
Com suas asas de plumas.
Que seria de Deus sem os anjos?
Vestes de ar
Escudos de fogo
E pés seguindo a trilha
De pedras extraviadas
Das paredes do sol.
Que seria de Deus sem os anjos?
Que seria dos anjos sem nós?

Bárbara Lia



Foto by Matheus Paganelli

Sunday, August 28, 2005

Ontem Choveu no Futuro















Ontem Choveu no Futuro é o nome da nova revista literária sul-mato-grossense que será lançada segunda-feira, 29 de agosto, às 19h30, no Bazar Central. A revista reúne conversas por escrito, textos inéditos, críticas literárias, pesquisas e reflexões. O projeto foi pensado e realizado pelo escritor Douglas Diegues e pela jornalista Cristina Livramento, com financiamento do Fundo de Investimentos Culturais - FIC/MS.
***
Neste edição inaugural, o "número nada", conforme informam os editores, a revista apresenta textos de escritores nascidos em MS ou que realizaram suas obras em território sul-mato-grossense, como Emmanuel Marinho, Rock Zanella, Luciano Serafim, Bosco Martins, Visconde de Taunay, Manoel de Barros, além de textos críticos, como o da crítica literária e professora da UFMS, Maria Adélia Menegazzo, sobre Representações Artísticas e Limites Espaciais. A revista publica também textos de escritores residentes em outros estados brasileiros, como o mato-grossense Joca Reiners Terrón, Glauco Mattoso e Rogério Eduardo Alves (SP); Bárbara Lia e Rodrigo Garcia Lopes (PR); Dirce Waltrick do Amarante (SC) que traduz um fragmento do Finnegans Wake, de James Joyce; Fabiano Calixto e Marcelino Freire (PE) e Sylvio Back, cineasta e poeta catarinense que reside no Rio de Janeiro. Há também participações de escritores que moram além das fronteiras nacionais, como Cristino Bogado e Monserrat Alvarez do Paraguai, e Heriberto Yépez, de Tijuana, na fronteira do México com os Estados Unidos. Reynaldo Jimenez que é peruano e mora em Buenos Aires e Ogwa-Flores Balbuena, índio ishir-chamacoco, xamã, mitólogo e pintor que mora nas selvas paraguaias.
A imagem é do convite para o lançamento - feito à mão - e no blog contos da camaleoa, divulgação dos livros feitos à mão:
- de Douglas Diegues - Uma flor na solapa da miséria - da editora argentina Eloisa Carbonera.
- livro de contos da jornalista Cristina Livramento.

Saturday, August 27, 2005

O CENTAURO NO JARDIM



Sou uma esfinge
leoa-mulher
e amo
um centauro em um jardim.
Morreria por ele.
De herança:
minha pata-leoa,
minha mão escritora.
A mesma que tocou os cabelos
do mitológico ser

e o amou
um amor enjaulado
um amor siderado.
Dói amar um ser que cavalga em poesia
que grita belezas no silêncio...



A esfinge se cala
e entrega
de mão beijada
o centauro amado
a quem jamais
o amou assim.


- Bárbara Lia -


imagem: Botticelli

Thursday, August 25, 2005

espantalho e anjo

Portinari




minha mãe agasalhava espantalhos
(pensava no trigo que seria pão)
meu pai rasgava os véus da noite

- descortinando anjos -
(pensava no sonho – oxigênio da alma)


décadas de ternura... e cá estou:
mãos de palhas chamuscadas pelo fogo
asas esgarçadas de noturnas danças
abraçada ao poema-amante-teso
percebendo com uma ternura gasta
além de pai & mãe
fui espantalho & anjo


Bárbara Lia

sinais

Tempo de girassóis... Sem saber que estou retirando do baú uma história que começa na noite em que fui até a Livraria Arcádia ver Ia Santanché no espetaláculo "O consultório do Dr. Gachet", baseado nas cartas de Van Gogh a Theo, que gerou uma correspondência muito linda com a atriz e bailarina Ia Santanché, e um romance que estou reescrevendo, a Cris me presenteou com um girassol.
A vida é feita de ciclos, os últimos anos foram de aprendizado e susto. Agora é tempo de priorizar a arte, como Van Gogh pintar muitos quadros, enlouquecer de girassóis, noite estrelada e campos de trigo. Virginianos são estranhos. Gostam de tudo no lugar. Eu vivo arrumando a toalha no banheiro, dobrando as roupas dos filhos e desvirando os tênis, essas coisas meio estranhas. A beleza é tudo o que interessa, como na outra tarde em que passeava pelo bairro, e as quatro estações me abraçaram em uma única rua. A chuva de painas - neve curitibana, algumas folhas do outono na calçada, os ipês que floriram antes da primavera, um sol de verão na pele. Quatro simbolos em um único instante. Um sinal de que tudo virá neste novo ciclo, que me fêz acordar antes do sol, nesta primeira manhã dos meus cinquenta anos. Os sinais me seguem. Na tarde de ontem, o sol que adormece do lado de lá, jogou fogo sobre nuvens espessas, da janela eu vi um lençol róseo de paixão acima de mim. Gosto dos simbolos.
Bia chegou com um livro do Kafka - lindo - contos, e entre eles A metamorfose e A colônia penal.


AS ÁRVORES (Franz Kafka)
Porque somos como troncos de árvores na neve. Aparentementem apenas estão apoiados na superfície, e com um pequeno empurrão seriam deslocados. Não, é impossível, porque estão firmemente unidos à terra. Mas atenção, isto é pura aparência.

Wednesday, August 24, 2005

LUZES DE MARFIM


para ouvir a poesia:
https://soundcloud.com/b-rbara-lia/luzes-de-marfim-barbara-lia


Agora a poesia segue
é só o que me segue, afinal.
Sentidos de sol.
Primaveras de cerejas.

A tarde tocando teus cabelos,
brisa ao redor. Teu lábio.
Aquele beijo paterno
na testa da menina.

Vôos meus que seguiam borboletas.
As belas horas tatuadas no espírito
liberto do grito inútil.

Fixado no etéreo, os sonhos
flanando quimeras em asas de seda,
o infinito aplaudindo em luzes de marfim.


- Bárbara Lia -

Uma didática da Invenção.



IX

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.

Acho que o nome empobreceu a imagem.


Manoel de Barros.Fragmento de Uma didática da Invenção.



Algumas coisas que me fazem feliz: Os alunos que me encontram e dizem – a professora dos poemas – e não, a professora de História. 
O vizinho do andar de cima que pergunta sempre: Quando sai o outro livro? Ele  amou os meus poemas “profundos e belos”. Os recados que recebo com carinho sincero... A minha poesia é aceita, amada e compreendida pelas pessoas comuns... A minha poesia já está alcançando a rua, ela já cruzou o portal de buganvilias que existe na frente do meu jardim... Não quero fama – enseada oca sem mérito algum – eu quero a bela cobra de vidro, o líquido vidro azul, as borboletas. A fama eu deixo para os tristes. As pessoas me ajudam a guardar as águas, a proteger a beleza. Completo cinquenta anos, ao lado dos que amo, de poetas na alma, que poetas na alma ainda existem, de raros amigos e esses três filhos de ouro – meus mais perfeitos poemas – e por que sou mulher, e ainda brotam papoulas vermelhas dos meus poros, trago teu sorriso na alma, ele lembra a lua de Isfahan no céu safira, chuva de estrelas, sinfonia de Bach, ampulheta que a gente vira para começar a contar de novo o tempo. Uma sucessão de cenas, que evocam um homem que é poema & música.

Tuesday, August 23, 2005

PRELÚDIOS-INTENSOS PARA OS DESMEMORIADOS DO AMOR.





















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I


Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

II


Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.

Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.

Hilda Hilst


imagem - escultura de Rodin

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Layla vive na região do Algarve. Uma garota como outras mil. Por uma perda na infância, jurou jamais amar. Impossível. O primeiro amor – Lou...